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'Hoje sei que sou negra': como número de pessoas pretas cresceu no país

A blogueira e youtuber Maraísa Fidelis - Divulgação
A blogueira e youtuber Maraísa Fidelis Imagem: Divulgação

Marcos Candido

Da Universa, em São Paulo

26/04/2018 04h01

Quando começou a publicar dicas de beleza em seu blog, a hoje youtuber Maraisa Fidelis não imaginava que um dia falaria de questões raciais. “Sempre soube que racismo existia, mas eu não batia na tecla. Ficava em minha bolha, vivendo minha vida”, relembra. O ano era 2013.

Hoje, um dos vídeos mais assistidos em seu canal do YouTube fala de beleza e também do cotidiano da mulher negra para 130 mil inscritos. “Foi assim -- na internet, com minhas seguidoras, quando olhei em volta e vi poucos negros na faculdade, no trabalho, na mídia -- que criei essa consciência social do que é ser negra, algo que sempre soube o que era" E a blogueira não está sozinha.

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Segundo o IBGE, o número de pessoas que se declaram da cor preta subiu 21,8% no país nos últimos cinco anos. De 2012 para cá, também aumentou em 7,7% o número de autodeclarados pardos. Em contrapartida, a população que se declara branca caiu 2,4% no mesmo período. Os dados foram divulgados nesta quinta (26).

“A internet é mais democrática. Você tem gente como você, que burla a falta de representatividade de negros”, pontua a youtuber, que passou a discutir causas identitárias quando abandonou os cabelos alisados e recebeu uma enxurrada de elogios de seguidores na rede.

Mas, por quê?

Para o pesquisador em psicologia racial da Universidade Estadual do Maringá, Paulo Vitor Palma Navasconi, o número representa uma série de fatores. “De 2012 para cá, pesquisadores da área identificaram um movimento muito grande de vários grupos que discutem feminismo negro, por exemplo, além do movimento negro mais amplo -- sempre com articulação forte na internet”, analisa.

O especialista também destaca a consolidação das cotas raciais em universidades, em vigor desde 2012.

“A partir desse momento, o negro começa a ocupar mais espaços e a se identificar como negro ou preto. Eu mesmo cresci escutando que não havia negros no sul e reconhecendo, e reproduzindo isso. Eu dizia que não era branco, mas não me identificava como negro. Na minha vivência, a associação ao negro era algo negativo, ruim”.

De região para região

Nas pesquisas domiciliares do IBGE, a cor dos moradores é definida por autodeclaração, ou seja, o próprio entrevistado escolhe uma das cinco opções do questionário: branco, pardo, preto, amarelo ou indígena.

De acordo com o instituto, 75,6% da população da região sul se declarava branca e apenas 4,2% se dizia da cor preta em 2017. No norte, 71,2% da população eram pardos; 20,1%, brancos e 7,1%, pretos; no sudeste, aquela com a maior população do país, 51,2% eram brancos; 38,4%, pardos e 9,3%, pretos no ano passado. No Nordeste, 64,1% se declarou preto, 10,5% pardos e 24,8% brancos. O IBGE aponta aumento no número de autodeclarados pretos há ao menos três anos.