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Em SP, elas dizem pelo que vão às ruas no Dia Internacional das Mulheres

Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

Natacha Cortêz e Helena Bertho

da Universa

09/03/2018 00h03

Neste 8 de Março, as ruas de cidades do mundo todo foram ocupadas por manifestações de mulheres. Em São Paulo, ao menos 6 mil manifestantes tomaram a Avenida Paulista em nome da vida das mulheres, contra o machismo e pelo direito à democracia. O número foi informado pela Polícia Militar.

O ato, que começou na Praça Oswaldo Cruz, com concentração a partir das 16h, terminou na Praça dos Ciclistas, na frente do prédio da Presidência da República, quatro horas depois.

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Em tempos de forte feminismo, as mulheres que ali marchavam tinham reivindicações em comum. A descriminalização do aborto, igualdade salarial e um olhar crítico à reforma da previdência, por exemplo. Mas ainda havia pautas pontuais defendidas por grupos organizados. As que vestiam a camiseta da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e as que carregavam as bandeiras do MTST gritavam “golpe” e pediam a saída de Michel Temer, alegando que o presidente não governa para as mulheres. Além delas, outras também tinham a política como bandeira; teve quem exigiu a volta da ex-presidenta Dilma Rousseff como forma de resgatar uma democracia dita falida.

Sofia Gamom  - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

Com forte presença na manifestação, estudantes secundaristas pediram direito ao próprio corpo e o fim ao assédio. “Luto por não ser cantada na rua, nem encoxada no metrô. Luto por ser verdadeiramente livre e não viver com medo de ser abusada quando ando pela cidade”, disse a paulistana Sofia Magon, 14 anos.

Maria Aparecida de Lima, 66, é presidente da Associação de Mulheres da Zona Leste e vai à marcha do 8 de Março desde que se entende por feminista. “Eu tinha nem meus vinte anos”, conta. Para ela, “o dia em que as mulheres estiverem verdadeiramente unidas, mudaremos o país”. 

Maria Aparecida de Lima - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

A diarista Conceição Moreira, 64, também é uma frequentadora fiel do evento. Desde 87, quando chegou em São Paulo, vai todos os anos. A luta de Conceição é sobre ela, mas também sobre o marido, e mostra que o feminismo não briga apenas pelas mulheres: “Meu marido é um homem transgênero e vejo quantos direitos ainda faltam para ele. Ele está desempregado por ser trans, pelo preconceito. Por isso, também estou aqui pelas pessoas LGBT".

Conceição Moreira, 64, diarista - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
Imagem: Gabriela Dibella/ UOL

Abaixo, outras manifestantes que estavam na Avenida Paulista respondem por que saíram de suas casas e trabalhos para protestar neste Dia Internacional das Mulheres.

Caroline Speglic, 35 anos, psicanalista - “É uma luta de todas nós. Estamos passando por uma série de perdas de direitos; não dá mais para deixar passar. Hoje é um dia de nos reconhecermos umas nas outras e entendermos que juntas somos mais fortes”.

Caroline Spegelic - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

Anne Rammi, 38 anos, ativista - “Eu vim hoje pelas mulheres de bike, pelas mães, carrocerias e todas que têm dificuldade de locomoção nessa cidade que foi construída na lógica do patriarcado - que é veloz, atropela e mata, em especial, as mulheres”.

Anne Rami - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
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Rafaela Carvalho, 28 anos, economista - “Estamos em 2018 e as mulheres ainda morrem só por serem mulheres. Atualmente a nossa luta não é para ter novos direitos, mas para não perder os direitos já conquistados. Não dá pra dormir em paz enquanto isso estiver acontecendo”.

Rafaela Carvalho - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

Juliana da Silva Cunha Batista, 13 anos, estudante - “É triste demais ver o que tá acontecendo com as mulheres no país. Eu marcho por igualdade de gêneros, porque quero que mulheres tenham os mesmos direitos que os homens”.

Juliana Batista  - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
Imagem: Gabriela Burdmann

Giovanna Galdi, 37 anos, atriz e diretora do Sindicato dos artistas e técnicos de São Paulo - “Hoje é um dia de 'descomemoração' contra tudo que nós mulheres sofremos cotidianamente. Estamos de jagunças para homenagear Diadorim, de Grande Sertão: Veredas de  Guimarães Rosa, que tenta sobreviver no mundo machista que é o Sertão”.

Giovanna Galdi - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
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Gabriela Francisco de Oliveira, 32 anos, professora de Filosofia - “Estou aqui pelas mulheres negras. Como mulher brasileira negra e periférica ainda me falta muito: somos a base da pirâmide social. Nossa luta, antes de tudo, é sermos enxergadas como cidadãs”.

Gabriela de Oliveira - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
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Alexandra Bruno, 42 anos, livreira - “Sou uma mulher privilegiada, tenho um cuidado da minha família todo compartilhado com o meu companheiro. Mesmo assim, venho à marcha por todas as outras mulheres que sofrem com o machismo dentro de casa”.

Alexandra Bruno - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
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Nathalia Caparro, 24 anos, orientadora de público no MASP - “Pela primeira vez todas as mulheres do MASP se reuniram para pensar a condição feminina dentro das instituições de arte. Muita gente se esquece, mas hoje é um dia de luta, não de celebração. Minha mãe foi uma mulher periférica, estuprada e assassinada pelo tráfico de drogas - é também por ela que estou aqui”.

Nathalia Caparro - Gabriela Burdmann - Gabriela Burdmann
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Shirlei Lopes, 33, autônoma - "É nossa obrigação, enquanto mulher, lutar todos os dias pela igualdade de direitos. E minha pauta é pessoal, é a questão do aborto. Porque já fiz um aborto e acho que todas as mulheres têm direito a fazer um aborto legal, seguro e gratuito, para evitar que quatro mulheres morram por dia em abortos clandestinos".

Shirlei Lopes, 33, autônoma  - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Leona Wolf , 36 anos, professora - "Eu estou aqui na luta contra o machismo que atinge tanto as mulheres cis, quanto trans. É preciso entender o imbricamento dessas questões, que têm a mesma raiz. O Brasil é o quinto país no mundo em feminicídio e consegue ser o primeiro em taxa de transfeminicídio. Enquanto as mulheres cis são relegadas a cargos de subalternas e as primeiras desempregadas em momento de crise, a maior parte das mulheres trans é expulsa do ambiente de trabalho forma e tem na prostituição a única fonte de renda possível".

Leona Wolf , 36 anos, professora - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Isabela Filardi, 17, estudante - "Esses pequenos momentos são para mostrar o quão importante é essa causa. Quero que as pessoas parem de julgar a gente, falta empatia de todo mundo" e Amanda Calda, 18, estudante - "A gente veio lutar pelos direitos das mulheres. Sempre fui feminista, mas não conhecia o nome. Então sou mesmo feminista há dois anos e estou aprendendo muito ainda".

Isabela Filardi, 17, estudante e Amanda Calda, 18, estudante - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Alia Halad, 33, administradora, - "Estou aqui para lutar pelos nossos direitos, por uma sociedade mais igualitária. Falta respeito para as mulheres. É a principal coisa que falta: respeito. A sociedade brasileira é extremamente machista. Quando a gente fala de feminismo, acaba sendo zombada. O feminismo nada mais é do que querer ser igual".

Alia Halad, 33, administradora - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Márcia Crespo, 43, arquiteta - "Porque eu acho que é um momento importante de mostrar a luta das mulheres, o tanto de direito que a gente vem perdendo, principalmente a partir de 2016. E a gente tem que mostrar essa força aqui na rua e a luta por direitos iguais em todos os sentidos, econômicos, políticos, sociais. O machismo mata e está em todos os lugares, todos os dias".

Márcia Crespo, 43, arquiteta - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Marina Ganzarolli, 32, advogada - "Apesar da gente ter conquistado muitos direitos, ainda tem um longo caminho pra percorrer. Infelizmente, no movimento 

Marina Ganzarolli, 32, advogada  - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Luciana Relt, 43, coordenadora do MTST - "É uma vergonha, num país onde somos muitas, ganharmos muito menos que os homens. E pelo fato de ser negra e moradora de periferia, ganhamos menos ainda. Nas periferias, as mulheres negras morrem muito mais Então a gente precisa combater essa desigualdade e lutar pela igualdade de gênero".

Luciana Relt, 43, coordenadora do MTST  - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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Sônia Ará, 43, liderança indígena do Jaraguá - "É importante a participação das mulheres nos movimentos e acho que é um momento propício das mulheres estarem falando sobre a luta e suas dificuldades. E também uma oportunidade de falar e mostrar quem somos. Nós mulheres indígenas estamos à frente de uma luta política muito grande pela demarcação de terras". 

Sônia Ará, 43 anos, liderança indígena do Jaraguá  - Gabriela Dibella/ UOL - Gabriela Dibella/ UOL
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