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Ansiedade social paralisa, e é muito mais do que ficar sem graça em público

Ansiedade social é diferente de timidez; o fóbico social tem um alto grau de sofrimento - Getty Images
Ansiedade social é diferente de timidez; o fóbico social tem um alto grau de sofrimento Imagem: Getty Images

Letícia Rós e Veridiana Mercatelli

Colaboração para o UOL

19/01/2018 04h00

De repente, bate aquele desconforto, um medo irracional e persistente, só de pensar em encontrar pessoas, conhecidas ou não. O coração acelera, as mãos suam e dá um frio na barriga. Não se trata de ficar sem graça na frente dos outros, mas de sofrer de um transtorno chamado de ansiedade (ou fobia) social, que atinge cerca de 7% da população mundial, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Mental Americano.

É uma doença, de acordo com a psicóloga Fabíola Luciano, colaboradora do Instituto de Psiquiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

“O medo ou ansiedade exagerada, quando se vê em alguma situação na qual estejam uma ou mais pessoas além dela, caracteriza uma psicopatologia. O problema não é a quantidade de pessoas ou o evento em si, mas o pavor de ser avaliado negativamente pelos outros”, explica Fabíola.

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No imaginário do ansioso social, o julgamento sempre acontece, não importa o quão bem ele está se saindo na ocasião. Ele pode estar vestido de acordo com o evento ou dominar o assunto da conversa em pauta e sofrerá mesmo assim.

“Há o medo de como os outros podem interpretá-lo. Por isso, acaba não interagindo, para não passar vergonha, ainda que esteja correto sobre algo”, fala o psicólogo clínico Rafael Oliveira Gomes da Silva.

Sintomas

Situações como ir a uma festa ou ter de participar de uma reunião profissional podem servir de gatilho para desencadear uma crise. De acordo com Fabíola Luciano, existem três categorias de sintomas: físicos, comportamentais e psicológicos. Quando muitos aparecem juntos, acompanhados de medo ou ansiedade desproporcional, é preciso procurar um profissional.

No corpo, há tremores, sudorese, dor de barriga e taquicardia quase sempre. A pessoa também fica com falta de ar, boca seca, dor no estômago ou náuseas, tontura ou vertigem, sensação de desmaio, rosto avermelhado, visão embaçada, voz trêmula ou gagueira.

Como sintoma comportamental desse sofrimento físico, o sociofóbico evita situações nas quais possa ser o centro das atenções, como falar em público e pode se isolar.

O perfeccionismo também é um comportamento comum nesse grupo. Já no psicológico, há o sentimento de inadequação, hipersensibilidade à crítica, vergonha, sentimento de solidão e culpa.

As causas

A história de vida da pessoa é a principal responsável pelo desenvolvimento do distúrbio. Os que sofreram ataques pesados de bullying na infância podem estar mais sujeitos a esse medo exagerado.

Crianças com pais superprotetores, que fazem mil recomendações de bom comportamento ou para não errarem nas falas antes de uma apresentação na escola, por exemplo, podem também se tornarem adultos ansiosos e medrosos.

Na conta da timidez

É comum confundir ansiedade social com timidez, mas são casos diferentes. O tímido tem vergonha de se expressar, de se colocar na frente dos outros, mas costuma enfrentar a situação. A timidez não é um fator limitante em sua vida.

Já o fóbico social apresenta um alto nível de sofrimento, com muita angústia e ansiedade, quando precisa enfrentar situações sociais. Por isso, cria estratégias para evitar interações e acaba por se isolar.

“No caso da timidez, o sintoma que prevalece é a inibição. Já no ansioso social, há muitos outros”, esclarece o psiquiatra Isaac Efraim, especialista no tratamento de ansiedade e depressão.

Em geral, quem sofre de ansiedade social tem autoestima baixa, o que resulta em uma autocrítica exagerada. A pessoa não consegue perceber as próprias qualidades e, se percebe, não valoriza.

Por outro lado, enxerga seus pontos fracos com uma lente de aumento e encara os erros, por menores que sejam, de forma muito severa e negativa. E, pior, acredita que as outras pessoas são tão críticas a respeito de seu comportamento quanto ela própria.

Tem tratamento

Com o tempo, os sintomas podem se agravar e o medo chega a tal ponto que a pessoa se isola e não consegue mais sair dessa sozinha. Por isso, vai precisar de ajuda profissional.
O tratamento varia de acordo com cada caso. Em geral, envolve sessões de psicoterapia com um psicólogo. Poderá ter o acompanhamento de um psiquiatra, se o paciente necessitar também de medicação.

Algumas práticas, como ioga, acupuntura, exercícios respiratórios e atividades físicas ajudam a quem sofre de fobia social. Mas nenhuma delas substitui o tratamento com um profissional especializado.

Você não está passando por isso, mas conhece alguém que está?

Veja a seguir dicas para ajudar a pessoa a enfrentar seus medos.

  • Lembre-se que situações sociais são difíceis para ela. Por isso, não espere que ela mude de uma hora para outra.
  • Tenha cuidado para não confundir estímulo com cobrança. Você pode, sem querer, piorar a situação se exigir que, por exemplo, seu amigo seja seu padrinho de casamento e fique “exposto” no altar. Mas convidá-lo a ir à festa pode ser um empurrão para que ele saia de casa.
  • Substitua críticas por feedbacks positivos. Elogie seu amigo que se saiu bem na reunião do departamento, quando apresentou boas sugestões para o andamento de um trabalho. E evite fazer comentários do tipo “percebi que você estava suando demais na reunião!”.