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Sexo oral (super) protegido: cobrir a vulva com plástico filme evita DSTs?

Nem a camisinha feminina dá conta de proteger totalmente contra DSTs - iStock
Nem a camisinha feminina dá conta de proteger totalmente contra DSTs
Imagem: iStock

Natacha Cortêz

Do UOL, em São Paulo

06/12/2017 04h00

“Soube que tinha clamídia depois de abrir um namoro. Transei com muita gente e não lembro de ter usado camisinha em todas as vezes”, conta A.*, 27 anos. “Foi por fazer questão dessa falsa liberdade sexual que é não se proteger”, ela diz, que perdeu outra liberdade: “A de ser mãe naturalmente”. É que agora, por causa de uma DST tardiamente diagnosticada, ela só poderá engravidar através de uma fertilização in vitro (processo em que a fecundação do óvulo ocorre fora do corpo, formando o embrião, que é transferido para o útero da mulher).

Casos de clamídia e sífilis crescem no mundo todo

A. faz parte de uma estatística: integra uma multidão de jovens infectados com clamídia no mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), são ao menos 131 milhões de casos todo ano. Sífilis é outra doença sexualmente transmissível que volta a se alastrar pelo globo. Só no Estado de São Paulo, houve um aumento de 9,7 vezes do número de casos de sífilis adquirida (em adultos, através, por exemplo, de contatos sexuais) . De 2.685 em 2007 para 25.987 em 2015.

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Há divergências entre governos e órgãos oficiais sobre os motivos do aumento dessas DSTs no mundo. As justificativas são diversas, porém “três delas se sobrepõem”, diz José Eleutério Junior, presidente da Comissão de Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). “A má distribuição dos antibióticos que tratam de forma eficaz essas doenças, de modo geral a penicilina benzatina; a falta de informação sobre educação sexual e a negligência quanto ao uso da camisinha são elas.” Por exemplo: uma pesquisa encomendada pela marca de preservativos Olla com mil brasileiros entre 18 e 35 anos mostrou que 52% das mulheres e 47% dos homens nunca ou raramente usam camisinha.

Nem a camisinha feminina dá conta de proteger totalmente contra DSTs

Mas é importante dizer, mesmo quando usada, a camisinha masculina, a mais vendida e difundida no mercado, não dá conta de proteger totalmente a genitália feminina. A verdade é que nem mesmo o preservativo feminino dá conta, pois “sua área de proteção deixa partes da vulva expostas, até mesmo as mucosas, as partes de maior sensibilidade às bactérias”, alerta Valdir Monteiro Pinto, ginecologista e interlocutor para DST do Programa Estadual DST/Aids-SP.

“Quando falamos da sexualidade da mulher, não há pesquisas o bastante, muito menos uma preocupação de pensar em produtos e tratamentos adequados para elas. Seria sensato, por exemplo, o desenvolvimento de uma camisinha que protegesse, e sem constrangimento, toda a genitália feminina. Por isso, não é raro ouvir falar de métodos alternativos, como o plástico filme e o até um látex usado por dentistas, durante o sexo oral em mulheres”, comenta Ana Thais Vargas. 

Boca, dental dam - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

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 O CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos), uma das maiores agências de saúde do mundo, não dispensa os métodos alternativos lembrados por Ana. E mais: eles demonstram em seu site como usar, por exemplo, o dental dam, a folha de látex normalmente utilizada por dentistas em consultórios. Outra alternativa demonstrada pelo CDC é cortar a própria camisinha, formando um triângulo de látex. A ideia é cobrir vulva - e ânus! - com o material.

Fato: não existem pesquisas ou estudos que confirmem a eficácia do uso de plástico filme, dental dam ou camisinha recortada na prevenção de DSTs. Contudo, essas são formas de barreiras improvisadas e que “não fazem mal algum à saúde”, garante Valdir. “Mesmo que faltem testes que legitimem esses métodos, digo que é melhor fazer uso deles do que correr o risco de ser contaminado. No mais, além desses produtos, é importantíssimo que mulheres e homens peçam por diagnósticos bem investigados em suas idas ao médico. Testes de sífilis são oferecidos pelos SUS, por exemplo. E já que a clamídia é tão silenciosa, recomendo os exames de rotina a cada seis meses.”

Clamídia e sífilis 

Clamídia em uma célula humana - Getty Images - Getty Images
Clamídia em uma célula humana
Imagem: Getty Images
Clamídia é uma doença sexualmente transmissível silenciosa, geralmente assintomática, de diagnóstico lento e que muitas vezes confunde médicos. Além do mais, é de avanço rápido nos corpos das mulheres. “Em nem dois anos, pode te deixar infértil”, explica a ginecologista e obstetra Ana Thais Vargas. O que acontece é que sua bactéria, a Chlamydia trachomatis, causa infecção nas trompas uterinas, levando à obstrução total dos canais ou à gravidez ectópica, quando o óvulo não consegue chegar ao útero. 

Sífilis também é uma DST causada por uma bactéria e se manifesta em três fases diferentes: a primária, a secundária e a terciária. Nas duas primeiras, os sintomas são evidentes (pequenas feridas indolores nos genitais que desaparecem sem deixar cicatrizes; manchas vermelhas na pele, na mucosa da boca, nas palmas das mãos e plantas dos pés) e o risco de transmissão é maior. Depois, há um período praticamente assintomático, em que a bactéria fica latente no organismo. No entanto, se por falta de diagnóstico e tratamento, a sífilis chega na terceira fase, retorna agressiva e acompanhada de graves complicações. Em mulheres ou homens, a terceira fase pode causar cegueira, paralisia, doença cardíaca e transtornos mentais.