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Por que a líder do Magazine Luiza teve de criar seu próprio disque-denúncia

Luiza Helena Trajano, líder do Magazine Luiza, em vídeo interno para funcionários: "Eu venho aqui hoje para, primeiro, lamentar profundamente, e por não querer me omitir mais", diz em vídeo - Reprodução
Luiza Helena Trajano, líder do Magazine Luiza, em vídeo interno para funcionários: "Eu venho aqui hoje para, primeiro, lamentar profundamente, e por não querer me omitir mais", diz em vídeo Imagem: Reprodução

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

07/10/2017 04h00

“Fiquei muito assustada”, relembra Luiza Helena Trajano, uma das maiores empresárias do país e grande líder do Magazine Luiza, gigante do varejo com cerca de 800 lojas físicas no Brasil.

O motivo do choque foi o assassinato da funcionária Denise Neves dos Anjos, 37 anos, encontrada morta em casa no início de julho, em Campinas, interior de São Paulo. A polícia acredita que o autor do crime tenha sido o próprio marido, também encontrado morto depois. “Ela tinha um plano de carreira, um futuro...”, explica a empresária.

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Disque-denúncia

Luiza resolveu agir. Implementou um serviço de disque-denúncia dentro da empresa, exclusivo para funcionários denunciarem crimes de violência doméstica e familiar contra as mulheres da empresa. Em menos de três meses, a equipe do Canal da Mulher recebeu 32 queixas de agressão. A empresa garante às vítimas apoio jurídico e psicológico e auxílio para informar o crime às autoridades policiais. Atualmente, a rede emprega mais de 10 mil mulheres.

Embora Luiza participe de comitês para discussão de violência contra a mulher pelo grupo Mulheres do Brasil, ela diz que não esperava se confrontar com essa realidade tão cedo. “Sempre trabalhei, estive em debates sobre questões sociais, raciais, mas não pensei que a violência contra a mulher estava tão próxima da minha empresa”, explica.

“É uma coisa: a mulher agredida é tida sempre como culpada - pela roupa, por tudo. Tenho pedido para meus amigos - homens e mulheres - denunciarem, não esconderem”, diz a empresária. “A gente evoluiu bastante a condição mulher, mas ainda temos que trabalhar por salários iguais, por exemplo. Violência é algo que não podemos aceitar.”

Feminicídio

Denise havia conseguido o cargo de gerente em uma unidade do Magazine Luiza em um shopping movimentado da cidade, após 13 anos na empresa e de sucessivas promoções. Ela já havia prestado queixas de agressão e lesão corporal contra o marido à 2º Delegacia da Mulher de Campinas.

“É uma coisa: a mulher agredida é tida sempre como culpada - pela roupa, por tudo. Tenho pedido para meus amigos - homens e mulheres - denunciarem, não esconderem”, diz a empresária.

Apesar de o crime ter características de feminicídio - homicídios dolosos que são frutos de histórico de violência doméstica, familiar ou desprezo à condição da mulher -, o caso foi registrado como homicídio simples. Denise estava amarrada à cama e tinha um corte no pescoço. A partir da investigação da polícia civil, o crime poderá ser enquadrado na lei.

A causa da morte do marido não foi identificada. No boletim de ocorrência, familiares dizem que ele deixou o filho do casal, de nove anos, na casa dos avós em Monte Castelo, a 600 km de Campinas, onde foi encontrado morto dentro de um carro. Segundo o Mapa da Violência de 2015, o Brasil tem a quinta maior taxa de mulheres assassinadas no mundo.