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Amamentação depois dos 2 anos é indicada e aumenta o QI da criança

Rosane Baldissera amamentando o filho de 3 anos e meio - Reprodução Facebook
Rosane Baldissera amamentando o filho de 3 anos e meio Imagem: Reprodução Facebook

Daniela Carasco

Do UOL, em São Paulo

24/08/2017 04h00

O tabu em torno da amamentação continuada -- após os 2 anos -- é tão antigo quanto a prática. E, para mães e especialistas, precisa acabar. “No mundo todo isso é visto como estranho, nojento, inapropriado e sexual”, protestou a fotógrafa australiana Lacey Barrat ao lançar no Instagram a hashtag #ToddlersNurseToo, que traz mais de cem fotos de crianças sendo amamentadas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento exclusivo até 6 meses de vida e complementado até 2 anos ou mais, sem limite definido. É nesta etapa, porém, que ele vem acompanhado de julgamentos sexuais, que vão de encontro a inúmeros benefícios nutricionais, econômicos e sociais.

“Uma série de estudos científicos comprovam: a criança amamentada tem sua taxa de QI aumentada. A amamentação impacta ainda no sistema de saúde, já que aumenta a imunidade da criança, prevenindo doenças, infecções e até mortes. Estamos falando de menores chances de sobrepeso e diabetes. E quanto mais se amamenta, maior esse impacto positivo”, aponta a pediatra Elsa Giugliani, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

As mães também se beneficiam. De acordo com a especialista, quanto mais se amamenta, maior a proteção contra câncer de mama, ovário e útero.

“Amamento meu filho de 3 anos e meio e não tenho data pra parar”

A nutricionista e consultora internacional em amamentação Rosane Baldissera sente na própria pele o peso dos olhares. “Sou uma das mães que se escondem para evitar os julgamentos”, conta ela, que se dedica profissionalmente ao assunto desde 2012. “Meu filho hoje só mama antes de dormir e na hora que acorda. Na rua, me sinto constrangida. Noto um preconceito até das próprias mães que acham estranho uma criança que já caminha mamar no peito.”

O preconceito é reforçado por interferências não solicitadas. “As pessoas têm uma obsessão pelo prazo. Gente que nem é da minha convivência me pergunta: ‘Mas ainda mama desse tamanho?’, ‘Quando vai parar?’”, conta. A resposta é sempre a mesma: “Não tenho data”. E são essas atitudes desconcertantes que acabam influenciando desmames precoces, garante Rosane.

 

Uma publicação compartilhada por Lacey Barratt (@laceybarrattphotography)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O desmame precisa ser gradativo

Para que não gere traumas em nenhuma das partes, a interrupção deve ser gradativa, aconselham as especialistas. Quando abrupta ou forçada, pode gerar um sentimento de rejeição. Apesar de ser um processo liderado pela mãe, que deve pouco a pouco controlar a demanda, a vontade da criança deve ser respeitada.

Vale tanto subtrair algumas mamadas ao longo do dia, quanto reduzir o tempo de cada uma. “Entre as técnicas mais comuns estão amamentar no período de duração de uma música, oferecer alguma brincadeira em troca, substituir uma parte da amamentação por um alimento”, ensina Rosane.

Não é ato sexual

Elsa olha com bons olhos a evolução do tema. Em dez anos, a taxa de mulheres que optam pela amamentação prolongada subiu de 25% para 32%. “A maior divulgação e o surgimento de grupos de apoio são importantes”, diz. Mas um ponto, segundo ela, ainda precisa ser mais bem trabalhado. “Pesquisas mostram que os homens, apesar de incentivar as mamadas no início, começam a pressionar a mulher depois de um ano para que interrompa a prática. Tem a ver com falta de conhecimento.”

As razões são diversas. “Muitos se sentem excluídos do processo, já outros julgam incompatível a mama ter duas funções, a de símbolo sexual e de produtora de leite. Mas isso é completamente possível”, explica.

 

Uma publicação compartilhada por Krystie Brooke (@liveandlearnwithlove)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Quando a amamentação continuada é um problema

A regra número um para seguir com a prática de maneira saudável é simples: se a criança não pede, não ofereça. Essa foi a lição aprendida por Rosane com sua própria experiência. Assim como todo hábito, o aleitamento prolongado pode também vir acompanhado de percalços, neste caso, emocionais.

“Tive que encarar o medo de perder o vínculo”, confessa Rosane. “Percebi que não reduzia o número de mamadas por uma carência afetiva da minha parte, que acabava sendo transferida para o meu filho. Eu o consolava com uma teta nos momentos de frustração. Só depois de ter essa consciência, regulei minha demanda. Hoje, só dou nos únicos momentos em que ele ainda pede.”

A separação, segundo ela, é importante. Assim como o parto, o desmame é um corte necessário. E em troca se ganha muitas outras formas de vínculo através de conversas e brincadeiras. “É um eterno processo de aprendizagem”, conta.