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Donos da Playboy são acusados de assédio, mas internet culpa modelos

Adriana Nogueira

Do UOL

24/04/2017 18h26

O programa “Fantástico” (Globo) de domingo (23) exibiu reportagem em que oito modelos que trabalharam como Coelhinhas na festa de relançamento da “Playboy”, em agosto, acusam dois donos da revista de assédio sexual. Na internet, os comentários sobre a notícia naturalizam o fato, alegando que essas mulheres não têm direito a um tratamento respeitoso ao se vincularem a publicação.

“É como se o fato de elas romperem com o padrão de comportamento feminino esperado autorizasse que sofressem violência, seja na forma do assédio propriamente dito ou verbal, por meio dos comentários julgadores”, afirma a advogada feminista Carmen Hein de Campos, que fez parte da comissão que elaborou o anteprojeto da Lei Maria da Penha.

Segundo Carmen, a moralidade colocada sobre o corpo feminino é construída a partir do que os homens acham que as mulheres podem fazer ou não. “E é hipócrita que aconteça uma situação como essa envolvendo justamente uma revista que estimula o rompimento desse código moralista. Digo que é um trabalho, pago por isso e, ao mesmo tempo, assedio.”

Para a advogada, esse ranço de que existem mulheres disponíveis é muito antigo e permanece na sociedade brasileira. “É a mesma lógica que se aplica a mulher que está de minissaia na rua. Se está com uma roupa provocante, tem de estar pronta para ser assediada.”

A defensora pública Yasmin Mercadante Pestana, coordenadora-auxiliar do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, lembra que só há pouco tempo extinguiu-se a figura da “mulher honesta” –aquela que merece proteção— na legislação brasileira. “Isso acabou só em 2009, com uma mudança no Código Penal.”

Yasmin fala ainda que o caso pode ser facilmente caracterizado como crime de assédio sexual, previsto no artigo 216-A do Código Penal. “Pelo relato, fica claro o uso de relação de hierarquia para obter vantagem ou favorecimento sexual. A pena é de um a dois anos de detenção.”

A defensora pública reconhece que a pena é pequena, mas diz que ela tem importância por romper com a cultura de aceitação de comportamentos como o relatado pelas modelos. “É uma forma de se dizer que hoje já não se aceitam mais situações como essa.”