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Três "loucuras" já feitas por pais para que bebê torça pro seu time

Thamires Andrade

Do UOL

30/12/2016 06h00

Política, religião e futebol não devem ser discutidos, mas a torcida pelo time vira pauta sempre que uma criança nasce: para qual time ele/ela vai torcer? Os pais mais aficionados por futebol tentam, de toda forma, que a prole siga seus passos, só que, às vezes, nem os próprios torcem para o mesmo time. Colocar o bebê para ouvir o hino, só deixar usar roupas de determinadas cores e investir em produtos são algumas das estratégias atitudes das famílias ouvidas pelo UOL quando o assunto é incentivar os filhos para torcer pelo seu time do coração. Veja abaixo algumas histórias: 

Francisco de Souza Maria Junior, 32, e Thamyres Espinoza, 29, pais de Enzo, 3 e Lara Manuela, 1 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Roupa? Só verde

Meu marido é palmeirense roxo. Quando Enzo, nosso primeiro filho nasceu, ele colocava o menino para dormir ouvindo o hino do Palmeiras. Quando meu marido cuidava dele para que eu fosse tomar banho, por exemplo, eles ouviam músicas da torcida organizada e ficavam ‘dançando’. Aos finais de semana, também assistiam juntos aos jogos do time. E, caso o Enzo ganhasse qualquer roupa preta e branca, ele ia na loja trocar ou doava. O quarto do Enzo é verde, assim como a maioria das roupas, e ele tem até uniforme do time com o nome dele. Sempre que tem fogos de artifícios na rua, meu marido grita ‘vai porco’ e, hoje, nosso filho faz o mesmo. Torço para o São Paulo, mas “não posso” usar a camisa em casa, por que meu marido não quer ‘desvirtuar’ o menino, assim como não falamos de qualquer outro time. Quando meu filho falava que queria fazer o “número 2” [cocô], o Junior dizia que ele fez um Corinthians. Hoje, quando o Enzo brinca de jogar futebol e faz um gol, ele grita “gol do porco” e já pediu de presente vários adesivos do Palmeiras para colar na cama toda. Quando vamos a alguma loja de esporte, ele quer ficar lá horas e sempre pede uma camiseta nova. E a nossa filha caçula está indo pelo menos caminho... | Francisco de Souza Maria Junior, 32, e Thamyres Espinoza, 29, pais de Enzo, 3 e Lara Manuela, 1.

Raquel Depólito, 39, e Leandro Oliveira, 37, pais de João Pedro Oliveira, 12, e Mariana, 8 - matéria sobre times de futebol - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Aposta para mudar de time

Desde criança, eu frequentava jogos de futebol com meu pai e meu amor pelo Corinthians nasceu assim. Mas me casei com um palmeirense e, quando tivemos nosso primeiro filho, queria muito que ele torcesse pro mesmo time que eu. Quando pequeno, ele dizia que torcia para os dois times. Quando estava perto de mim, falava que era corintiano e, quando estava perto do pai, palmeirense. Se ele ficava bravo com um de nós, falava que torcia pro adversário. Mas, quando ele fez oito anos, ele decidiu virar palmeirense de vez. Na Libertadores e no Mundial que o Corinthians jogou, ele torcia contra. Em 2014, na Copa do Mundo, eu estava torcendo para Alemanha, como sempre fiz, e o João Pedro resolveu torcer para a Holanda. No jogo do país contra a Argentina, ele disse para o pai que se a seleção perdesse e ele tirasse sarro, ele viraria corintiano. E foi o que aconteceu: Holanda perdeu, o pai dele zoou ele e eu aproveitei para falar que nunca faria aquilo. Desde então, tenho feito de tudo para que ele acompanhe os jogos do timão. Volta e meia compro alguma coisa do time pra ele e meu objetivo é leva-lo para ver um jogo na Arena Corinthians. Ele já disse que não ser corintiano doido que nem eu, mas já tem até falado que quer que o Palmeiras seja rebaixado. Já a nossa filha mais nova é palmeirense desde sempre, nunca nem cogitou mudar de time. Ela vive dizendo que eu roubei o irmão palmeirense dela e, quando eles brigam, ela diz que não quer ter um irmão corintiano. Sinto que ela vai ser palmeirense igual eu sou corintiana: daquelas que torce, chora, grita e sofre. | Raquel Depólito, 39, e Leandro Oliveira, 37, pais de João Pedro Oliveira, 12, e Mariana, 8.

Fabíola Lima, 26, e Sérgio Flausino, 35, pais de Alexandre, 6, são corintianos e passam o amor ao time para o filho - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Uniforme na saída da maternidade

Eu e meu ex-marido torcemos para o mesmo time, Corinthians. Então, quando tivemos nosso primeiro filho, ganhamos um body do time e resolvemos que essa era roupinha que ele ia sair da maternidade. Ele não teve muita opção [risos]. Como nós dois somos corintianos roxo, o incentivamos a torcer para o time de várias maneiras: ele tem o uniforme, um pratinho e o copo com o brasão do Corinthians para a hora das refeições. Ainda que nunca tenhamos levado ao estádio por questões de segurança mesmo, ele assiste a todos os jogos conosco na televisão. Ele até canta algumas partes do hino e grita com a gente 'Vai Corinthians'. O legal é que como nós dois torcemos para o mesmo time, não precisamos em momento algum forçar nada, foi algo natural. | Fabíola Lima, 26, e Sérgio Flausino, 35, pais de Alexandre, 6.

Pode incentivar o filho a torcer para seu time, tá tudo bem!

De acordo com a psicopedagoga Quézia Bombonatto, ex-presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), querer que seu filho torça para o mesmo time que você não é algo negativo, já que os pais passam diferentes tipos de valores para os filhos e projetam seus desejos nesse processo. "A família passa valores educacionais, éticos, culturais e até religiosos, tanto que vários bebês são batizados antes de entenderem o que é religião. Isso não é diferente de escolher o time do futebol do filho. Se eu acredito que aquele time é o bom, vou querer passar isso para a criança", explica.

Como os filhos aprendem muito por imitação é comum que eles tenham os pais como referência ou, em uma família com diferentes torcidas, ele passe a torcer por quem está ganhando. "A criança é competitiva, ela não quer torcer para quem está perdendo, quer saber de quem está no auge. Na escola, os amigos também influenciam na escolha pelo time do futebol", fala.

A psicopedagoga explica que também é importante dar oportunidade para a criança conhecer outros times. "A primeira roupinha pode ter sido de um time X, mas, os pais devem aceitar que, com o tempo, os filhos podem tomar outras escolhas e é preciso respeitar se isso acontecer", fala.

Para a psicopedagoga, o que pode ser ruim para a criança é se os pais passarem a agressividade e hostilidade que às vezes acontece entre as torcidas do futebol. “Eles têm que aprender a respeitar a torcida do outro. Ver alguém com camiseta de outro time e não desqualificá-la por isso. Podemos conviver com quem faz escolhas diferentes, e isso não é motivo para agressão”, diz.