Topo

Para educar seu gato, mude sua postura e crie um ambiente estimulante

Getty Images
Imagem: Getty Images

Simone Sayegh

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/10/2016 07h00

Você deve estar cansado de ouvir que gatos são independentes, não obedecem e fazem o que bem entendem. Mas felinos são extremamente inteligentes, observadores e curiosos, e podem, sim, ser ensinados. A maioria dos bichanos, porém, não precisa receber treinamento formal, pois se relaciona com o ambiente de forma diferente dos cães. Se, por um lado, os cachorros interagem com os objetos pela boca (brincando de mastigar, roer etc.), os felinos exploram possibilidades de caça e esconderijos. Outra curiosa diferença é que, enquanto a cachorrada precisa ser ensinada a usar o "banheiro", os gatos procuram instintivamente a caixa de areia.

Principais problemas

A casa tende a se manter inteira quando o bicho de estimação é um gatinho. Apesar disso, uma das grandes broncas que as pessoas têm dos bichanos é com relação aos arranhões e escaladas, exigências básicas da espécie. Arranhar serve não só para aparar e afiar as unhas, como para deixar marcas visuais e odoríferas no território, o que faz os bichinhos se sentirem bem onde vivem.

Para criar essa demarcação do espaço, alguns indivíduos podem começar a fazer as necessidades fora da caixa de areia ou borrifar jatos de urina em paredes, cortinas, tapetes e colchas. Segundo a bióloga Helena Truksa, especialista em comportamento animal, para todas estas situações, mais do que o adestramento formal, é indicada a reestruturação do local em que o gato vive e a mudança de atitude do dono. Assim, para condicionar um felino, ensine-o com paciência no dia a dia, baseando o processo em três pilares: o manejo ambiental, as recompensas e a motivação, jamais punição.

Condicionamento e estímulos diários

Como esses pets aprendem o tempo todo, várias atitudes adotadas no cotidiano podem acabar reforçando comportamentos inadequados. Se você não quer o gato em cima da mesa, não faça carinho quando ele estiver lá. Se não quer que o bicho chegue perto do seu prato, não dê a comida dali na boca dele. O animal tende a associar todas essas situações a lembranças boas e vai querer mais "disso" na próxima vez.

A outra parte dos problemas (como o xixi fora de lugar e as marcas em móveis) está associada a um ambiente pobre em atividades e com poucos estímulos. Por isso, equipar a casa com prateleiras que possam ser escaladas, tocas, casinhas de papelão e brinquedos que simulem caçadas é determinante para a melhora no comportamento do animal.

Arranhadores, aliados fiéis

Os arranhadores formam um capítulo à parte nessa reestruturação do lar. Daniela Ramos, médica veterinária especialista em comportamento animal, recomenda observar o hábito do felino para comprar o modelo adequado: há os que preferem arranhar na horizontal, outros na vertical. Alguns gostam de papelão, outros do carpete ou da corda. Para serem mais eficazes, os objetos devem ser posicionados em locais estratégicos, próximos ao sofá ou à cortina que vive sendo atacada.

A veterinária explica que sessões de brincadeira nas proximidades do brinquedo, inclusive com fitas e varinhas, ajudam na familiarização do gato com o "seu" arranhador. Estimule o bichano a saltar, dar patadas e arranhadas na superfície do objeto.

Sem mordidas e arranhões

Para evitar mordidas fortes e arranhões, a interação deve ser ao gosto do gato: toques e carinhos apenas quando o gato quiser e nas regiões apreciadas. Durante as brincadeiras, para ensinar a eles qual o limite, basta parar a atividade assim que dentes e garras começarem a se tornar inaceitáveis. Basta dar uma pausa de alguns segundos e ignorar o gato, para então oferecer uma nova oportunidade. 

Os animais não entendem a distinção entre certo e errado e não fazem "mal" de propósito. Dessa forma, não o agrida fisicamente ou grite. O bicho até irá parar o que estava fazendo, mas não entenderá qual o seu erro e repetirá o comportamento.

Miados na madrugada

Os miados noturnos são um problema? Tente estabelecer uma rotina de sono tardio, promovendo um turno intenso de brincadeiras durante a noite. Na sequência, ofereça a refeição ao bichano, de preferência alimento úmido (latinha ou sachê). O gato dormirá mais cansado e saciado, despertando mais tarde do que o usual. Tente se programar para acordar antes do animal e, caso ele comece a miar, espere até que ele pare e só então se levante. A rotina o levará a associar tais ações.

Truques de "cães"

A veterinária Tais Rebouças mostra que é possível ensinar gatos a sentar e dar a patinha. Basta para isso uma boa dose de paciência e recompensas que podem ser petiscos, a atenção do tutor, uma sessão de brincadeira ou a chance de explorar um objeto novo.

Para ensiná-lo a sentar, pegue uma recompensa de que ele goste bastante (mas que seja própria para gatos) e segure um pouco cima do focinho. O bicho vai acabar sentando naturalmente. Nesse momento, você dá o agrado e diz: "Senta". Depois de algum tempo, o gato vai entender que ganhará o prêmio quando fizer o que o tutor está "repetindo". Esse tipo de treino é divertido e ajuda a estreitar o laço afetivo com o bichano.

Fontes: Alexandre Rossi, o Dr. Pet, especialista em comportamento animal da Cão Cidadão; Dra. Daniela Ramos, especialista em medicina veterinária comportamental da Psicovet, com mestrado na Universidade de Lincoln (Inglaterra) e doutorado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP); Helena Truksa, bióloga especialista em comportamento animal pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP); Tais Rebouças, médica veterinária com enfoque em bem-estar animal e mestre pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).