Topo

Brigar pela guarda dos filhos como Jolie e Pitt prolonga dor da separação

O casal Angelina Jolie e Brad Pitt passeia com os seis filhos pelas ruas de Nova Orleans, em foto de março de 2011 - Grosby Group
O casal Angelina Jolie e Brad Pitt passeia com os seis filhos pelas ruas de Nova Orleans, em foto de março de 2011 Imagem: Grosby Group

Do UOL

13/10/2016 07h05

A guarda dos seis filhos dos atores Angelina Jolie e Brad Pitt deve ser decidida na Justiça. A atriz quer a custódia das crianças, enquanto Pitt pede a guarda compartilhada, segundo o site americano TMZ. De acordo com especialistas ouvidos pelo UOL, a dor dos filhos é inevitável em uma separação, ainda que amigável. No entanto, quando há disputa judicial, o sofrimento é prolongado.

“O conflito judicial transfere a responsabilidade das decisões para um terceiro, o juiz, que analisará apenas as provas processuais e não as particularidades ou necessidades da família”, diz a advogada especializada em direito de família Alexandra Ullmann, autora do livro infantil “Tudo em Dobro ou pela Metade?” (Cassará Editora), que retrata as angústias das crianças vítimas de contendas entre os pais.

Para a advogada, não há vencedores nesse tipo de disputa. “Os filhos são sempre os mais sacrificados, porque, na maioria das vezes, são colocados em posição de escolha. Precisam se posicionar a favor de um e contra o outro. São tratados como objetos de troca e barganha”, diz Alexandra.

Entrar em uma disputa judicial, portanto, deveria ser a última opção, a ser colocada em prática apenas quando o diálogo é ineficiente entre o casal. “Se o casamento realmente acabou, fica mais fácil para os filhos entenderem. Mas se um não quer se separar, se houve traição ou se uma das partes se sente vitimizada, o sofrimento piora”, declara a psicóloga Debora Moss, mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo.

Cada idade, uma cabeça

Crianças muito novas não entendem ao certo o que significa a separação dos pais, mas vão sentir falta de ou de outro, que não estará mais presente no dia a dia. “Elas não têm noção de tempo e podem ficar perdidas com essa ausência”, diz a psicóloga Debora.

Na faixa etária dos três aos dez anos, paira na cabeça da criança a esperança de os pais reatarem o casamento. “Nos meus 23 anos de trabalho, lembro apenas de duas crianças que consideravam melhor os pais terem se separado. Todas as outras alimentavam a expectativa da volta, ainda que os adultos brigassem”, afirma a psicóloga Andreia Calçada, coautora do livro “Guarda Compartilhada - Aspectos Psicológicos e Jurídicos” (Editora Equilíbrio).

Adolescentes já compreendem melhor a separação dos pais, porque conseguem reconhecer as brigas e a própria infelicidade dos adultos, que muitas vezes antecedem o divórcio. “Mas mesmo sendo mais velhos, eles se ressentem. O que ocorre é que os adolescentes têm outros focos, os amigos, por exemplo, que ajudam a tirar a atenção da família”, fala Andreia.

Qualquer que seja a idade do filho, é preciso dialogar sobre a separação e se mostrar aberto a esclarecer as dúvidas que surgirem: quem vai sair de casa? como será a nova rotina familiar? as condições econômicas vão mudar?

“Tudo isso precisará ser antecipado para os filhos, especialmente para os adolescentes, para que se organizem melhor dentro do conflito”, declara Debora Moss.

Quanto menos mudança, melhor

De acordo com Andreia Calçada, filhos sentem menos a separação dos pais quando a rotina deles é pouco afetada. “Se o pai costumava levar na escola todo dia de manhã e a mãe buscava, por que não continuar fazendo isso?”, questiona a psicóloga. Continuar vendo a família do pai e da mãe também é importante.

Além disso, alguns erros comuns devem ser evitados. Um deles é restringir o convívio do filho com o pai ou a mãe –mesmo que o outro já esteja em um novo relacionamento, não pode haver impedimento na relação entre pais e filho.

Outros equívocos são falar mal do ex-cônjuge, discutir na frente da criança e usar o filho como mensageiro quando a comunicação com o outro está ruim. “Ao evitar a desvalorização do outro e o início de uma alienação parental, as figuras paterna e materna são respeitadas. A criança é fruto de duas pessoas e somente se sentirá inteira quando ambos cumprirem com as responsabilidades atreladas aos seus papéis”, declara a advogada Alexandra Ullmann.