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Nova técnica pode tornar o processo de fertilização in vitro mais natural

A AneVivo permite que a fecundação e o desenvolvimento do embrião ocorram no útero, em vez de no laboratório, como na FIV - Getty Images
A AneVivo permite que a fecundação e o desenvolvimento do embrião ocorram no útero, em vez de no laboratório, como na FIV Imagem: Getty Images

Juliana Nakamura

Colaboração para o UOL

05/10/2016 13h33

Esperança para muitos casais com dificuldades para engravidar, a FIV (fertilização in vitro) é uma técnica de reprodução assistida consolidada em todo o mundo, com protocolos bem conhecidos. Agora, uma evolução dela vem sendo testada na Europa com a promessa de tornar o processo mais próximo do natural, com menor presença do laboratório. O nascimento do primeiro bebê gerado com o auxílio desse método foi registrado em Bilbao, na Espanha, em maio deste ano.

Diferentemente da FIV clássica, na qual a fertilização do óvulo com o espermatozoide acontece em uma incubadora, a técnica desenvolvida por uma empresa suíça permite que a fecundação e o desenvolvimento do embrião ocorram dentro do útero.

Batizado de AneVivo, o processo tornou-se viável com o desenvolvimento de uma cápsula porosa que permite a inserção de óvulos ainda não fecundados e espermatozoides na cavidade uterina. Concluído o período inicial de desenvolvimento do embrião (cerca de 24 horas), o dispositivo é retirado do corpo da mulher para que os médicos selecionem os embriões de melhor qualidade. Em seguida, eles são reinseridos no útero da mãe, sem a cápsula, para uma possível gestação.

As clínicas que utilizam a técnica ainda não divulgam a taxa de sucesso obtida. A despeito disso, para Marcos Ferrando Serrano, diretor da clínica de reprodução IVI em Bilbao, outras vantagens já fazem a inovação valer a pena.

“O método permite que o embrião se desenvolva desde as primeiras horas nas mesmas condições de luz, temperatura e nutrientes do que se tivesse sido concebido naturalmente. Além de favorecer uma interação mais fisiológica entre embriões e o corpo da mulher, a fertilização no útero dá às mães um senso de participação maior no processo”, diz o médico espanhol.

Casos menos complexos

Embora desperte curiosidade, o método ainda está restrito a poucas clínicas na Espanha, na Inglaterra e na Polônia. A principal explicação para isso é a falta de estudos mais consistentes.

“O desenvolvimento da cápsula porosa representa uma novidade interessante, mas ainda não sabemos se os ganhos são consideráveis nem todos os riscos envolvidos”, declara o especialista em reprodução humana Isaac Yadid, diretor médico da clínica Primordia Medicina Reprodutiva, no Rio de Janeiro, e membro da American Fertility Society. Segundo ele, um desafio a ser superado pelos pesquisadores é o alto índice de perdas dos embriões dentro do útero.

O especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi também não enxerga a nova técnica com muito entusiasmo. Segundo ele, em termos de resultados, a AneVivo não traz grandes avanços.

“A técnica tem limitações e pode se mostrar adequada apenas para casais que fazem questão de um processo mais próximo do natural ou que possuem alguma restrição religiosa [que impeça a opção pela FIV tradicional]”, fala Cambiaghi, que é diretor do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia Obstetrícia e Medicina da Reprodução), em São Paulo.

Para Marcos Sampaio, diretor da Clínica Origen, em Belo Horizonte, a nova técnica pode simplificar o processo de fertilização e, no longo prazo, até reduzir os custos dele (que hoje varia entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, dependendo da idade da mulher, da complexidade do caso e do padrão da clínica), uma vez que exige menos uso de microscópios e de incubadoras.

“Mas ela não dispensa por completo o laboratório, que ainda terá uma atuação importante principalmente para fornecer informações sobre a qualidade dos embriões”, diz Sampaio.

Na avaliação do especialista em medicina reprodutiva, o método recém-criado pode encontrar indicação em casos de menor complexidade, que envolvam mães jovens e com útero saudável.

“Pode ser que essa técnica se torne uma alternativa no futuro, mas há poucos bebês nascidos para compararmos os resultados com os da fertilização in vitro convencional”, afirma Sampaio.