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A carreira de Biel tem salvação? Especialistas respondem

Após uma série de polêmicas, Biel anunciou que dará um tempo na carreira - Lucas Lima/UOL
Após uma série de polêmicas, Biel anunciou que dará um tempo na carreira Imagem: Lucas Lima/UOL

Do UOL, em São Paulo

05/08/2016 12h27

Na última quinta-feira, o cantor Biel, 21, anunciou que dará um tempo na carreira. A decisão foi o recurso derradeiro diante de uma polêmica iniciada em junho, quando uma jornalista o denunciou por assédio sexual, durante uma entrevista. Na ocasião, ele a chamou de “gostosinha” e disse que “a quebraria no meio” se mantivessem relações sexuais. Uma semana depois, pediu desculpas e disse que nunca imaginou que suas palavras pudessem “machucar quem o entrevistava”.

Ele recebeu o apoio das fãs, mas insistiu no erro semanas depois, ao improvisar um funk com as frases machistas ditas à jornalista. A atitude enfureceu os internautas, que reviraram a conta do artista no Twitter e divulgaram posts racistas, machistas e homofóbicos, publicados entre 2011 e 2012. No meio da confusão, muitas questões foram levantadas e o UOL pediu que especialistas tentassem esclarecer algumas delas. Confira:

Por que ele não assumiu logo o erro?

Quando o pai de Biel minimizou a polêmica, ao dizer que ele “é brincalhão”, “extrovertido” e que seu comportamento é típico de “uma criança de 20 anos”, mostrou que as falas do cantor não eram vistas como problemáticas dentro da própria família. Esta semana, ao dar entrevista para um programa de TV, Biel se colocou na posição de vítima e disse que, se encontrasse a repórter que o denunciou, faria questão de deixá-la ciente do quanto ela prejudicou a carreira dele, ignorando o fato de que a jornalista foi demitida do portal onde trabalhava. A fala contradisse o pedido de desculpas que ele mesmo gravou em um vídeo: “Depois de analisar a situação inteira, pude perceber o quanto foi constrangedor. E está sendo constrangedor para mim, agora”, disse Biel, na ocasião. Para Silvia Pacolla, diretora da Máxima SP, que faz assessoria de imprensa de artistas como a apresentadora Ana Maria Braga, a entrevista deixou claro que Biel não estava arrependido do que falou. “A verdade é que ele ainda não entendeu que errou, e a geração de hoje não aceita pedidos de desculpas vazios”, diz.

Onde estavam os adultos ao redor do cantor quando tudo aconteceu?

Para Isabel Rodrigues, que dá aulas de gerenciamento de crise no curso de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo, empresários e assessores de imprensa não fazem milagres. O comportamento e a personalidade do famoso influenciam diretamente na imagem que ele quer construir. E, por mais que profissionais gerenciem o contato do artista com seus mais diversos públicos, não conseguem controlar a boca do cliente. “O que faltou, talvez, foi um trabalho preventivo. Alguém que ajudasse o artista a formular suas mensagens, sugerisse caminhos e, principalmente, deixasse claro que não adianta atacar o outro lado para se defender”, afirma. “Mas acontece que muitos desses artistas só ouvem os profissionais que estão ao seu lado quando já estão em meio a uma crise absurda”.

Ele é imaturo? Mimado? Ou todas as alternativas anteriores?

Biel não entendeu que errou durante a entrevista com a jornalista e nem após a denúncia dela. Isso sugere não só imaturidade, conforme explica a psicóloga Miriam Barros: “A atitude mostra desrespeito pelo outro, nesse caso, em relação às mulheres”. A fama e a riqueza, surgidas de maneira repentina e precoce, agravam a situação. “Isso tudo pode ter trazido ao artista uma falsa sensação de superioridade, de que ele está acima dos demais”, diz Miriam.

Por que as fãs insistem em defendê-lo?

Em uma postagem no Twitter, uma das fãs do cantor divulgou uma lista de dez motivos para não odiá-lo. Alguns deles: “Toda mulher gostaria de dar pro Biel e ser cantada por ele”. “Ele é humilde e comeria uma mulher, mesmo se ela fosse feia”. “Ele só respeita mulheres que se dão o respeito”. Mas o que explica esse comportamento das fãs? Para a psicóloga, o que ocorre é um desvio em relação aos próprios valores, em nome do amor ao ídolo. “Uma fã que tem uma relação saudável com quem admira consegue manter uma postura crítica e submete as ações de seu ídolo aos seus próprios valores. Assim, não poderá apoiá-lo ao vê-lo tomar atitudes desrespeitosas para com outro ser humano”, afirma.

O problema foi a gestão de rede social?

As postagens que o cantor fez no Twitter, entre 2011 e 2012, agravaram ainda mais a crise na carreira do jovem. Para Silvia, quando uma pessoa se torna famosa, é preciso rever tudo o que já ela já produziu, inclusive as postagens em redes sociais. Já Isabel defende que contas pessoais sejam desvinculadas de contas de pessoas públicas. “As pessoas, de maneira geral, precisam entender que só se posta na rede aquilo que não teriam problemas em estampar em um outdoor em uma avenida movimentada da cidade”, diz. No caso de uma figura pública, qualquer comentário vai repercutir em uma escala muito maior, em um alcance até difícil de precisar. “Mas as coisas negativas repercutem mais do que as positivas, sem dúvida alguma”, afirma a professora da Faap.

A carreira dele tem salvação?

De acordo com Silvia, Biel precisa se afastar da polêmica, mas pausar a carreira, como anunciado, pode ser arriscado. "É um artista novo e com um estilo de música que faz sucesso meteórico. Se ele deixa o bonde passar, talvez não consiga mais se enquadrar em outro momento", diz. Isabel levanta a hipótese de uma crise na própria equipe que gerencia a carreira do cantor, o que justifica o afastamento, para pensar em novas estratégias. Este tempo, porém, pode ser útil para Biel, de fato, entender onde errou e repensar seus comportamentos. Outro pedido de desculpas seria o primeiro passo para retomar a carreira. "Se as pessoas aceitassem o arrependimento dele, eu tentaria uma entrevista exclusiva em um canal de grande repercussão, em uma tentativa de recomeçar", afirma Silvia. "Não dá para fingir que nada aconteceu", diz Isabel. "Para voltar, ele precisa saber que você pode limpar uma imagem, mas nunca apagar uma mancha. Toda vez que outro artista pisar na bola, como ele pisou, vão relembrar o caso dele", diz a professora.