Topo

Chegada do temporão pode deixar irmão com ciúme; saiba como lidar

Lucia, à esquerda, é mãe da adolescente Tamires e do bebê Gabriel - Arquivo pessoal
Lucia, à esquerda, é mãe da adolescente Tamires e do bebê Gabriel Imagem: Arquivo pessoal

Suzel Tunes e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

25/12/2014 07h13


Quando a dona de casa Lúcia Tenório da Costa, de 41 anos, engravidou pela segunda vez, foi a filha de 16 anos, Tamires, a primeira a receber a notícia. Foi a jovem quem incentivou a mãe a comprar um teste de gravidez na farmácia e que ficou ao lado dela, ansiosa, para ver o resultado. "A Tamires fez tanta festa que parecia que ela era a mãe", diz Lúcia.

Gabriel nasceu prematuro e precisou ficar 26 dias na UTI neonatal. Quando chegou em casa, encontrou uma irmã superprotetora, que queria até limitar a visita de parentes e amigos para não expor o bebê a riscos. “Eu queria muito ter um irmão. Largava celular e computador só para ficar com ele”, lembra a adolescente.

É claro que a rotina da casa mudou. E Tamires sentiu isso. “Meus pais não podiam mais me dar toda a atenção que eu tinha quando era filha única. Mas, como eu também já não era mais criança, entendi. No começo, minha mãe tinha de ficar o tempo todo junto dele e, para não ficar de fora, decidi ajudar a cuidar do Gabriel", afirma a garota. Hoje, aos 19, Tamires olha o irmão quando a mãe precisa se ausentar por algumas horas. "Eu posso sair sossegada", diz Lúcia.

"A ajuda com o bebê é importante para todos. A família inteira deve ser convidada a se envolver, pois é nesses cuidados que vão se construindo os vínculos afetivos”, diz a psicopedagoga Luciana Barros de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Contudo, ressalta Luciana, ninguém pode ser forçado a ajudar: “Essa deve ser uma atividade espontânea e dividida entre todos”, afirma.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/quiz/2014/05/22/seu-filho-adolescente-e-responsavel.htm')

Segundo a psicopedagoga, caso o adolescente mostre resistência em colaborar, o melhor é não insistir. “Procure envolvê-lo aos poucos, fale sobre o assunto e procure entender porque age assim”, recomenda a psicopedagoga. Mas existem, também, situações em que o empenho em ajudar ultrapassa limites, confundindo papéis. O irmão mais velho passa a agir como pai do mais novo. Nada mais errado. “O adolescente tem que saber que o papel dele é de irmão, não é ele quem dá ordens”, diz Luciana.

Esse é um cuidado que Lúcia tenta manter com os filhos Tamires e Gabriel. Quando a irmã cuida do menor na ausência da mãe, ela pode dar bronca no caçula, mas só se ele desobedecer a alguma regra imposta pelos pais. "Eu digo: 'você quer que a mamãe fique brava?'”, declara a adolescente.

Para a psicóloga Ana Paula Magosso Cavaggioni, pesquisadora convidada do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), a autoridade dos pais jamais deve ser transferida ao adolescente. Segundo a psicóloga, o importante é convidar o adolescente a participar das tarefas diárias de cuidado para que ele se sinta bem-vindo nessa relação, aprenda sobre o bebê e conheça melhor o irmão.

Ciúme entre irmãos é esperado

Maíra, de 35 anos, permite que Maria Eduarda, de 12, ajude a cuidar da irmã de um ano, Sofia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A mãe Maíra permite que Maria Eduarda, de 12 anos, ajude a cuidar da irmã de um ano
Imagem: Arquivo pessoal

A comissária de bordo Maíra Parrilha, de 35 anos, permite que Maria Eduarda, de 12, ajude a cuidar da irmã de um ano, Sofia, sempre sob supervisão. "Ela nunca teve medo de pegar a bebê no colo, eu tinha", conta Maíra. A chegada da caçula também foi muito festejada pela mais velha: "Ela até chorou de alegria", lembra a mãe.

O que Maíra não estava esperando era a reação de ciúme que viria a seguir. "A Maria Eduarda tem muito ciúme da Sofia, diz que eu gosto mais dela, que ela é a minha preferida. Chega até a dizer que a Sofia bate nela", conta a mãe.

O garoto Matheus, hoje com 14 anos, teve reação semelhante depois que a irmã nasceu, há quatro anos. O garoto ficou tão contente com a notícia que fez questão de escolher o nome da menina: Mariana. A mãe das crianças, a administradora Márcia Correia Rodrigues, de 44 anos, conta que ele começou a se afastar da irmã e teve até problemas na escola.

"As notas dele caíram no primeiro ano. Achamos que era por causa do nascimento da irmã, pois ele sempre foi bom aluno. Daí, começamos a conversar com ele. A escola também participou desse processo e, juntos, conseguimos reverter o problema", diz Márcia.

Matheus, hoje com 14 anos, fez questão de escolher o nome da irmã: Mariana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Matheus, hoje com 14 anos, fez questão de escolher o nome da irmã: Mariana
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo a psicóloga Ana Paula, situações como essa são bastante comuns. E, embora o ciúme geralmente seja mais intenso quando as crianças envolvidas são menores, os adolescentes não estão imunes ao sentimento. “O ciúme entre os irmãos vai depender muito da habilidade dos pais em conduzirem e orientarem as relações”, afirma. Afinal, um bebê novo tende a se tornar o centro das atenções da família e amigos – “principalmente quando é temporão”, diz a psicóloga. “Cabe aos pais lembrarem que o adolescente também tem suas necessidades de atenção e afeto e precisa de um tempo garantido com os pais onde não haja a interferência do irmão recém-chegado”.

Para a psicopedagoga Luciana Barros de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é importante promover o diálogo entre os irmãos, proporcionando a troca de experiências e a aproximação. Mas sem criar expectativas demais.

“É preciso entender que a convivência entre irmãos passa por fases. Que em um momento eles estarão mais intolerantes e, em outros, mais condescendentes. Isso é natural da convivência entre pessoas. É nesse processo que os irmãos vão aprender a se comportar em diferentes espaços sociais”.

Como lidar com o ciúme do adolescente e estimular uma convivência harmoniosa entre os irmãos:

Conte logo a novidade: a psicopedagoga Luciana lembra que a gravidez não é apenas um tempo de espera pelo desenvolvimento fetal mas, também, um período de preparação de toda a família para receber afetivamente o novo membro. Por isso, assim que confirmar a gestação, explique ao adolescente como a rotina vai mudar. Além de fazer parte dessas mudanças, ele precisará se sentir incluído na nova dinâmica familiar.

Envolva-o nos preparativos: convide o adolescente para participar da escolha das roupas, da decoração do quarto, da pesquisa de nomes para o bebê. Mas sem forçar a barra. Se o jovem recusar-se a ajudar, é melhor não insistir. Tente envolvê-lo aos poucos, fale sobre o assunto e procure entender o motivo da negativa.

Aproveite o tempo livre junto dele: use o tempo livre, antes e depois do parto, para sentar ao lado do seu filho mais velho e escutá-lo. A psicóloga Ana Paula destaca que os pais devem garantir a existência de momentos em que não haja interferência do irmão e em que possam conversar e praticar as atividades que faziam juntos antes do nascimento do bebê.

Peça ajuda para as tarefas: cuidar de um bebê é responsabilidade dos pais, mas ajudar nos afazeres domésticos pode e deve ser uma incumbência de toda a família. O adolescente pode, por exemplo, ficar responsável por recolher as roupas do bebê do varal ou tirar a mesa do jantar. "Essas tarefas também ajudam a reforçar os vínculos afetivos entre todos os membros da família", afirma Luciana.

Fique atento às mudanças de comportamento:  Segundo a psicóloga Ana Paula, o impacto do nascimento de um irmão pode provocar mudanças de comportamento, ainda que sutis."O adolescente pode ficar mais introspectivo, hostil, apresentar comportamentos inadequados que não tinha anteriormente ou, mesmo, desinteresse por coisas que antes o interessavam”, exemplifica.