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Bebê aprende a fazer manha cedo, mas atendê-lo não é um erro

Aos seis meses, alguns bebês já sabem fazer manha, mas você pode, sim, atendê-los - Getty Images
Aos seis meses, alguns bebês já sabem fazer manha, mas você pode, sim, atendê-los Imagem: Getty Images

Maria Laura Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

24/12/2014 07h05

Chorar para ganhar colo e parar de resmungar só quando começa a sugar o leite da mãe são comportamentos muitas vezes encarados pelos pais como manha. Porém, de acordo com especialistas, quando são recém-nascidos, os bebês são imaturos demais para traçar estratégias como essas para conseguir o que querem.

"Eles não têm maturidade para algo tão elaborado", explica Monica Picchi, neonatologista e pediatra no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. "É importante que a família compreenda isso para atender a criança de forma adequada e evitar negligências. Cada fase da vida da criança requer um tipo de atitude dos pais", diz Sandra de Oliveira Campos, professora do departamento de pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

Comportamentos manhosos ou birrentos surgem entre os seis meses e um ano, variando de indivíduo para indivíduo. É nessa fase que eles fazem determinada coisa para chamar atenção e serem atendidos. Antes disso, de acordo com Alexandre Funcia de Azeredo Silva, pediatra da clínica Casa Curumim, em São Paulo, as crianças têm muita demanda de contato e toque. "E precisam, realmente, de muita interação", diz o médico.

Isso quer dizer, por exemplo, que de nada adianta ficar com o bebê no colo enquanto você assiste à televisão, trabalha no computador, lê um livro ou conversa com outra pessoa. Para ele, ficar lado a lado não basta, por isso não sossega enquanto não receber atenção de verdade, cara a cara.


Crianças menores de seis meses choram ou resmungam também por sentirem algum desconforto. Fralda suja ou fome, por exemplo. "Quando estavam no ambiente intrauterino, elas ficavam muito bem acolhidas sem sofrer variações. O mundo exterior dá a elas muitos estímulos e sensações, e lidar com elas requer um aprendizado que leva tempo e precisa de apoio dos pais”, diz Sandra.

De acordo com ela, nessa fase, é importante que a família atenda o filho, sem a pretensão de educá-lo. "Os bebês choram de fome desesperadamente, por exemplo. E logo depois que mamam, param e agem como se nada tivesse acontecido. São imediatistas, não são manhosos", afirma SIlva.

Se um bebê insiste em mamar mesmo tendo acabado de largar o peito, pode ser porque tem mais fome ou, então, porque está em busca da sensação de bem-estar. Não há nada de errado com isso. Nesse caso, Silva diz que a mãe tem de oferecer o peito novamente.

“Não se trata somente de fornecer leite ao filho. Tem a ver com aconchego e com o ato da sucção. Essa busca pelo prazer é como o caso dos adultos que chegam em casa depois de um dia de trabalho e tem o hábito de preparar uma xícara de chá para terminar o dia bem, por exemplo. Cada um desenvolve estratégias para lidar com o cansaço, entre outras sensações”, conta o médico.

Monica também explica que quando um recém-nascido busca muito por colo, ele quer ouvir o batimento cardíaco da mãe, coisa que fazia durante a gestação. "Isso traz conforto a ele, que acaba adormecendo ou, pelo menos, para de resmungar ou chorar”, diz a médica. Por isso, de acordo com ela, o colo está liberado para eles sempre que pedirem.

Quando os filhos conquistam a capacidade de persuadir, os pais devem conversar entre si e com o pediatra sobre como atendê-los. Primeiramente, é necessário ter cautela para separar manha de um sinal de que a criança está precisando realmente ser atendida –seja por uma questão física, como fome, seja por uma questão emocional, como vontade de se sentir acolhida no colo de alguém.

"Atender ou não ao pedido do filho, ainda que os pais saibam que se trata de pura manha, é uma decisão deles. Ao pediatra cabe apresentar opções do que pode ser feito e conversar sobre os efeitos de cada atitude", fala Silva. Para ele, quem entende de verdade do filho são os pais –pensamento do médico e psicanalista inglês Donald Winnicott.

Silva ainda defende que uma criança nunca vai sair perdendo por receber amor. Sendo assim, ele indica que os pais sigam o coração ao tomarem decisões dessa natureza e tentem se blindar ao máximo das opiniões alheias, caso elas os incomodem.

Para muitas famílias, a hora de colocar o filho na cama é o maior momento de birra ou manha do dia. Nesse caso, cabe aos pais traçar estratégias para contornar a situação. Se o banho antes do sono já é motivo para a criança causar tumulto e com isso adiar a hora de dormir, Monica sugere antecipá-lo para o período da tarde ou da manhã e, então, fazer a higiene completa.

Geralmente, nesses períodos, a criança está mais desperta. À noite, melhor proporcionar um momento mais relaxante, pouco antes da cama, com um banho de imersão no balde ou no ofurô para crianças por dez ou 15 minutos, com água a 37 graus Celsius.

"Para conferir uma sensação mais aconchegante, forre o fundo e a borda do balde com uma toalha bem felpuda", diz ela. E, ao levar a criança para a cama, caso ele ainda relute em ficar deitada, não há nada de mal pegá-la no colo por alguns instantes. Não atender ao pedido da criança, nesse caso, ainda que seja manha, pode piorar as coisas, deixando-a irritada, e fazer com que ela demore ainda mais para adormecer.