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Veja histórias de quem cresceu junto com um bicho de estimação

Heros aos 21 anos e Pepe aos 12 - Arquivo pessoal
Heros aos 21 anos e Pepe aos 12 Imagem: Arquivo pessoal

Marina Oliveira e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

15/12/2014 07h03

É na escada principal de casa que o estudante Heros de Oliveira Macedo, de 22 anos, se reúne com o seu melhor amigo há 13 anos, para apreciar a vista e organizar os pensamentos. O fiel companheiro é Pepe, um vira-lata que entrou na vida do estudante quando ele ainda era criança. "Mesmo se ele estiver em outro canto da casa, quando me vê sentado, logo se aproxima. Puxa a minha mão com a cabeça e a coloca em cima dele, pedindo carinho", conta Macedo. 

Os anos se passaram e Pepe começou a observar a vida e o seu dono já crescido também de outros ângulos. Quando Macedo completou 18 anos, era o cão quem encarava a tarefa de acompanhar um motorista recém-habilitado para dirigir. "Para adquirir prática, meus pais deixavam que eu levasse o Pepe ao veterinário. Ele deveria ir no banco de trás do carro, mas eu mal virava a esquina e ele já pulava para o da frente e se sentava como se fosse uma pessoa", conta o estudante.

A cachorrinha Suzy, da raça cocker, também cresceu ao lado de sua dona, a estudante Ellen Mützemberg Rambharose, de 21 anos, que ganhou a cachorra aos nove. “Desde sempre eu conto meus segredos para ela. E sinto que a Suzy me entende mais do que ninguém. Ela sabe quando estou triste ou brava e sempre dá um jeito de me ver bem”, diz Ellen.

Ellen e sua cachorrinha Suzy, da raça cocker, que cresceu ao lado da dona - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ellen e sua cachorrinha Suzy, da raça cocker, que cresceu ao lado da dona
Imagem: Arquivo pessoal

A afirmação da estudante tem fundamento, de acordo com a pediatra Sandra Frota Avilla Gianelo, especialista em neonatologia pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). “Em alguns casos, os animais podem até ser coadjuvantes no tratamento de crianças depressivas, tensas ou inseguras”, diz. 

Para o médico Mário Novais, professor de pediatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a convivência com animais vai além e pode ajudar crianças a se tornarem adultos mais empáticos e amorosos. “Muitas pessoas têm dificuldade de trocar sentimentos, mas o contato com animais de estimação, que não fazem nenhum tipo de cobrança, é uma grande oportunidade para aprender a expressar o que sentem”, afirma.

Mestres do relacionamento

A estudante Priscila Carvalho da Silva, de 23 anos, não tem dúvidas de que se tornou uma pessoa melhor por ter convivido a vida inteira com animais, entre eles o gato Xaninho, que hoje está com 14 anos. “Ele me deixa mais calma, mais feliz e mais humana”, diz.  Além de Xaninho, Priscila também é dona de outros três gatos e de uma cachorra, que ela se orgulha de ter resgatado das ruas.

O yorkshire Kelvin apareceu quando Pedro já era adolescente e perdeu Buck, um dálmata que ele tinha desde os cinco anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O yorkshire Kelvin apareceu quando Pedro já era adolescente
Imagem: Arquivo pessoal

Para o estudante Pedro Henrique Caoneto Zago, de 23 anos, uma das principais lições tiradas do convívio com animais é a lealdade. “Eles ficam conosco em todos os momentos, ao contrário de muitos seres humanos, que nos descartam sem cerimônia quando não somos mais necessários”, afirma.

Seu primeiro cachorro foi Buck, um dálmata que chegou quando Pedro tinha apenas cinco anos. Dez anos depois, o cão morreu e a família decidiu trazer um novo amigo para o menino. O yorkshire Kelvin apareceu quando Pedro estava em na adolescência. “Para mim, cachorro é um membro da família. Sempre penso no Kelvin quando vamos planejar viagens, dou um jeito de incluí-lo em alguns passeios ou, então, de voltar para casa mais cedo, para saber se ele está bem”, conta.

Em um desses passeios, o estudante lembra daquela que considera a cena mais engraçada já presenciada nos oito anos de vida do cão. “No mesmo ano que e eu minha família pegamos ele, fomos para uma chácara passar uns dias. O Kelvin estava tão empolgado com todo mundo brincando com ele que começou a correr muito, até que não conseguiu parar e caiu dentro da piscina”, conta. 

Os amores e as dores

Mas adotar um bichinho de estimação também implica em lidar com dor e sofrimento, como aconteceu com Ellen, quando a cocker Suzy precisou passar por uma cirurgia, às pressas. “Acordei em um sábado de manhã com o quintal cheio de sangue e ela deitada, olhando para a porta, como se esperasse alguém para salvá-la”, conta. “Ela tinha quatro anos e precisou fazer uma cirurgia de emergência para a retirada do útero e dos ovários. Eu tive muito medo de perdê-la”, conta.

Suzy, aos 12 anos, está bem. Mas as doenças, o envelhecimento e a morte dos animais precisam ser levados em conta pelos donos, que devem preparar-se para lidar com frustrações e perdas. “Com um animal, a criança ou adulto vai se deparar com a percepção da passagem do tempo e terá a chance de se desenvolver emocionalmente”, explica o psicólogo Murilo Garcia, pós-graduado em Psicologia pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Quem ama seu bichinho de estimação adapta-se a todas as fases de vida desse companheiro, com a certeza de que nem o tempo, nem as debilidades físicas serão capazes de modificar o vínculo construído entre dois amigos. “Hoje em dia, o Pepe passa boa parte do tempo dormindo ou comendo, vive mancando e perdeu quase toda a audição”, conta Macedo. “Mas, ainda assim, mesmo se arrastando, ele ainda me segue pelo quintal e senta comigo na mesma escada, há 13 anos”, diz.