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Fotógrafa registra pais e seus bebês em maternidade pública

Daniela Venerando

Do UOL, em São Paulo

02/10/2014 07h25

Fotógrafa profissional de gestantes, bebês e crianças, Carla Formanek eterniza os primeiros dias dos filhos das parturientes do Hospital Amparo Maternal, instituição filantrópica com 75 anos de existência que dá assistência a gestantes de todo o país pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A instituição –localizada no bairro Vila Clementino, em São Paulo–  nasceu com a ideologia de albergar gestantes que não tinham um local digno para dar à luz, muitas delas vivendo nas ruas da cidade.

A vontade de ajudar essas mães a receberem uma lembrança desse dia tão especial surgiu quando Carla foi contratada para fazer o álbum de fotografia de duas crianças recém-adotadas. “Elas tinham tirado uma ou duas fotos na vida, ou seja, se não tivessem sido adotadas, não teriam um registro significativo da infância. Fiquei muito sensibilizada com isso e resolvi procurar um orfanato para realizar esse trabalho voluntário e dar os retratos de presente para as crianças e os futuros pais”, conta.

A burocracia para obter autorização para fotografar nessas instituições, que estão sob custódia do poder público, fizeram com que ela buscasse uma alternativa. Foi então que Carla se lembrou do Amparo Maternal, que, além do serviço de maternidade, abriga provisoriamente grávidas que, muitas vezes, são moradoras de rua, dependentes químicas ou não têm condições financeiras ou de saúde para ficarem em suas casas. Elas vivem em quartos comunitários, nos quais recebem atendimento pré-natal, psicológico, refeições e realizam atividades de lazer.

Muitas recebem assistência meses depois do nascimento do bebê até terem condições de se estruturarem novamente e arranjarem outro lugar para ficar. Para manter seu atendimento, o Amparo Maternal precisa, além do dinheiro do SUS, de doações da comunidade.

Bem na foto

A primeira iniciativa se deu em abril deste ano, quando Carla fotografou os bebês e as mães que vivem no abrigo do hospital. Depois, o trabalho se estendeu para as mães que chegam ao local em trabalho de parto. Uma vez por semana, a fotógrafa vai de quarto em quarto oferecendo esse serviço voluntário. Vaidosas, muitas não querem, inicialmente, tirar as fotos, porque dizem estar descabeladas ou por não se sentirem bonitas com o avental da maternidade, já que não têm uma camisola bonita para usar, a exemplo das parturientes dos hospitais particulares.

Outras se animam imediatamente e se arrumam para saírem bem nas fotos. Algumas não estão contentes com a ideia de serem mães e se recusam. Em outros casos, essa é a única forma de a mãe mandar uma fotografia para um parente distante. “Adoro fazer o registro das mães que estão de malas prontas para sair da maternidade, porque, geralmente, elas estão muito felizes. A ideia é ter uma recordação daquele momento tão especial de carinho entre mãe e filho. Não faço foto posada do bebê. Tento tirá-lo na posição que ele gosta de ficar e de forma espontânea”, diz Carla.

As mães recebem a recordação em casa, enviada pelo correio. “A maioria delas só registra fotos por celular. Para muitas, ter a foto em papel é uma coisa rara, ainda mais em preto e branco. Uma delas, com quem mantive contato, disse que ficou muito feliz, porque assim teve a chance de mandar as fotos aos familiares. Outra mãe, que morava no abrigo, chorou ao ver o filho tão lindo sendo fotografado. É muito gratificante registrar esse momento de carinho e de amor”, fala a fotógrafa.