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Desistir não é fracassar; aprenda a avaliar quando insistir é um erro

Tanto na vida pessoal quanto profissional, a mudança significa uma crise - Getty images
Tanto na vida pessoal quanto profissional, a mudança significa uma crise Imagem: Getty images

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

14/04/2014 08h01

Não há como fugir: mudanças ocorrem dentro e fora de nós. E o que era bom no início, pode não fazer mais sentido em um momento posterior da vida. As razões para essa transformação no nosso modo de perceber pessoas e situações são as mais variadas: por vezes nós é que mudamos nossas aspirações e descobrimos novos talentos. Em outras ocasiões, os acontecimentos simplesmente seguem em direções diferentes das que havíamos previsto –ou idealizado. Daí, quando a realidade contrapõe a expectativa que tínhamos, surge o conflito e o questionamento angustiante: insistir ou desistir?

Quando a dúvida diz respeito a um relacionamento amoroso, a decisão se torna ainda mais difícil, pois há diversos fatores envolvidos. "As pessoas se acostumam umas com as outras, existe uma relação íntima entre elas, que passaram juntas por um período da vida que não pode ser simplesmente descartado. Isso tudo dificulta a decisão de terminar ou não a relação", explica o psicólogo especialista em relacionamentos amorosos Thiago de Almeida, mestre em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo).

Já na vida profissional, há questões mais práticas que podem ser levadas em conta, como a necessidade de garantir um salário ao fim do mês, mesmo quando se está insatisfeito em determinada posição. "A chegada de um filho ou as mudanças ocorridas em alguns valores pessoais ou prioridades também podem gerar questionamentos sobre o atual trabalho", diz a psicóloga Mariana Stachiu, coach pela Sociedade Brasileira de Coaching.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2014/03/25/voce-tem-os-pes-no-chao.htm')

Tanto na vida pessoal quanto profissional, pesa, ainda,o fato de que toda mudança é uma crise e nos obriga a sair de uma situação da qual temos controle e partir para o desconhecido. Só que nem sempre estamos dispostos ou preparados para enfrentar a turbulência. "Mesmo quando a insatisfação é grande, o movimento de buscar algo diferente, assumir riscos e lidar com um novo aprendizado, distorce a nossa avaliação e contribui para que subestimemos o desconforto", afirma a psicóloga Luci Balthazar, mestre em Psicologia do Trabalho pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Por outro lado, não há dúvidas de que todo obstáculo pode ser visto como um desafio. Mas e se você não estiver disposto a enfrentá-lo? "Todo ser humano tem seu limite de aceitação, compreensão e tolerância determinados pelas experiências já vividas", declara a psicanalista Albangela Ceschin Machado, especialista em terapia de casal pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

De qualquer forma, diante da dúvida, seja ela qual for, vale refletir sobre o sofrimento que a situação atual está lhe causando. Continuar ou desistir de uma relação amorosa, por exemplo, dependerá da capacidade individual de conviver e administrar conflitos. Já em um impasse de ordem profissional, vale considerar que o trabalho, além de ser uma fonte de renda, também precisa ser forma de realização e uma oportunidade de exercitar os talentos e de ser reconhecido por eles.

Fazer perguntas a si mesmo, imaginando um cenário diferente do que o deixa descontente no momento, pode ajudar a encontrar o motivo da sua insatisfação, conforme orienta a coach BibiannaTeodori, coautora do livro "Coaching na Prática” (Editora França). “Numa situação profissional, você pode se questionar: E se eu fosse promovido? E se recebesse um aumento? E se pudesse trabalhar em casa? E se o chefe que eu não suporto mudasse de área ou saísse da empresa? E se eu trocasse de emprego?", exemplifica. 

O caminho do meio

Entre insistir e desistir, há, ainda, a opção de mudar: sentimentos, atitudes ou ponto vista. “Numa relação, sempre é possível negociar. Mas é preciso que cada um dos dois saiba de si, de suas verdadeiras intenções, e seja capaz de estabelecer um acordo bom para ambos os parceiros, sem pender para um dos lados", diz o psicoterapeuta Sergio Savian, autor do livro “Amar Vale a Pena!” (Editora Landscape).

"Insistir ou desistir também implica em investimento pessoal. Mas uma vez analisados os fatores e tomada a decisão, pode ser necessário conviver com aquela situação ruim por um tempo, até que seja possível colocar em prática uma estratégia para atingir a meta definida", diz a psicóloga Luci Balthazar.

Desistir não significa ser derrotado

Também é interessante considerar que resolver abandonar um emprego ou relacionamento não é sinônimo de fracasso. Pode significar apenas que fizemos uma avaliação e concluímos que o investimento psíquico e emocional exigido para manter a situação anterior era penoso demais. "Desistir de algo é muito difícil, tão ou mais difícil do que investir. Algumas vezes, é mais justo assumir o que não pode fazer ou já não consegue mais continuar por algum motivo a não cumprir os compromissos adequadamente", diz a coach BibiannaTeodori.

Por fim, depois de resolvido o impasse, tente não se lamentar pelo tempo perdido. Lembre-se que toda experiência é um aprendizado, que contribui para o crescimento pessoal. Além disso, todo o fim traz a possibilidade de um recomeço. “É a oportunidade que cada um de nós tem para fazer algo melhor do que havíamos planejado. As mudanças de percurso são importantes, pois nos preparam para atingir nossos mais nobres objetivos”, declara a psicóloga Mariana Stachiu.