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Conheça os prós e os contras dos cremes manipulados ou industrializados

Potes de creme manipulado e industrializado - ThinkStock
Potes de creme manipulado e industrializado Imagem: ThinkStock

ISABELA LEAL

Colaboração para o UOL

14/03/2011 08h17

Acreditar na eficácia dos cremes manipulados, hoje em dia, é uma tarefa cada vez mais difícil. O motivo? A enorme oferta de cosméticos industrializados – prontos para o consumo ali no pote – que tomam conta das prateleiras de perfumarias e supermercados com princípios ativos "exclusivos" e "novidades bombásticas". Essa facilidade realmente favorece o uso dos cremes prontos, mas praticidade não significa eficácia, principalmente para quem mais entende do assunto: os dermatologistas.

Por isso, muitos médicos ainda indicam a fórmula individual, personalizada, onde se pode turbinar uma substância e excluir outra, de acordo com a necessidade do tratamento. O segredo do sucesso das manipulações é a qualidade da matéria-prima e o rigor ao manipular as substâncias, de maneira que suas propriedades sejam preservadas. Mas, por outro lado, os especialistas reconhecem que os industrializados têm uma fórmula mais estável, mais confiável, com resultados conhecidos, o que garante o benefício proposto pela marca. Para desvendar muitas dúvidas que rondam as vantagens e desvantagens dos cremes manipulados em farmácia ou feitos em grande escala na indústria, UOL Estilo ouviu a opinião de alguns médicos.

Há 10 anos, a maioria dos dermatologistas preferia indicar as fórmulas manipuladas. Porém de uns tempos para cá, as prescrições estão bem divididas, já que os industrializados sofreram um processo de evolução enorme, em termos de produção e tecnologia, e hoje se apresentam muito mais eficazes. “Os manipulados permitem ao médico associar substâncias que seriam encontradas em dois ou três cremes industrializados separadamente, nas concentrações que desejar. De acordo com o resultado, é possível aumentar ou diminuir os ativos a cada consulta, isto é, nas próximas receitas. Outro ponto a favor é que o médico pode ainda determinar o tipo de conservante da fórmula, a fim de evitar alergias”, disse o dermatologista João Carlos Lopes Simão, coordenador do ambulatório de Cosmiatria do Hospital das Clínicas da USP, de Ribeirão Preto (SP), que ressalta também algumas vantagens dos cosméticos industrializados. “Eles possuem penetração e eficácia determinados por testes clínicos e em laboratórios, portanto esses efeitos são conhecidos. Nas fórmulas, a concentração das substâncias utilizadas, assim como a associação dos princípios ativos, varia muito, o que pode causar inativação de suas propriedades, assim como aumentá-las ou diminuí-las”, disse o professor, lembrando ainda que a escolha pelas fórmulas muitas vezes parte do próprio paciente, por razões financeiras, já que em geral saem mais em conta.

A médica Solange Teixeira, colaboradora do departamento de dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concorda com o colega e aponta as vantagens de cada uma das versões. “No creme manipulado, conseguimos agregar ativos mais adequados para cada problema, ou seja, inserir no hidratante um clareador, um antienvelhecimento ou uma substância de controle da oleosidade, e assim usar concentrações maiores de ativos, que muitas vezes não são encontradas em cremes industrializados. É possível também potencializar, apressar os resultados e evitar o uso de vários produtos sobre a pele, um para cada problema. Por outro lado, a indústria se esmerou e hoje já apresenta produtos mais completos, que combinam ativos como filtro solar e substâncias antienvelhecimento e que controlam a oleosidade; ou ainda clareadores e antienvelhecimento, as possibilidades são muitas”, disse ela.

Farmácia séria: produto eficaz

Os médicos são unânimes ao afirmar que o que define uma fórmula bem feita, com propriedades preservadas e ativos eficazes é a qualidade da manipulação, literalmente, já que as matérias-primas das farmácias também são produzidas em escala industrial. “Na prática clínica, podemos observar claramente algumas diferenças entre os produtos elaborados por duas ou mais farmácias diferentes, que também têm preços diferentes. O que mais diverge entre as farmácias é a qualidade do produto e os resultados na pele”, disse João Carlos, da USP de Ribeirão Preto.

Que a idoneidade da farmácia é a condição imprescindível para um creme bem manipulado, ninguém discorda. O problema surge quando a pergunta é: como saber se uma farmácia é confiável ou não? E a resposta não é muito concreta. Não há como saber exatamente. Alguns fatores até indicam seriedade, mas outros são inerentes à percepção do consumidor. “É preciso conhecer bem a farmácia de manipulação, saber se tem alta rotatividade de clientes, o que indica matérias-primas sempre novas e frescas. Se é honesta em colocar a quantidade de ativos prescritos, se a origem desses ativos é de boa procedência, se a técnica para incorporar os ativos à cosmética do creme é adequada e assim por diante. Uma série de detalhes faz com que os cosméticos funcionem ou não e, para saber, é preciso ver os resultados na pele. Já aconteceu de eu prescrever um creme manipulado e o paciente, que foi em uma farmácia qualquer, vir me perguntar se era uma máscara, tamanha era a diferença no produto obtido com o que eu tinha prescrito. Seguir a sugestão do médico é um bom começo para acertar na escolha da farmácia”, disse Solange.

Mas é incontestável que uma boa maneira para se informar sobre a qualidade do serviço de uma farmácia é perguntando para o dermatologista. “Pelo tempo de experiência, o médico está acostumado a observar os melhores resultados de cada fórmula e assim analisa naturalmente a qualidade da farmácia que faz. Outro aspecto importante é não se deixar seduzir pelo preço mais baixo, isso compromete a escolha”, disse a dermatologista Silvia de Mello, do Núcleo de Saúde e Beleza da Clínica Ivo Pitanguy, no Rio de Janeiro. “Por exemplo, ao cotar o preço em três farmácias, se duas estiverem equivalentes e bem mais barata, desconfie desse valor e evite encomendar desse estabelecimento”, complementa Solange Teixeira.

De acordo com o benefício

Como a indústria tem que contemplar um número maior de pessoas, suas matérias-primas têm que ter uma ação mais genérica, isto é, devem ser mais suaves, justamente para prevenir alergias. Por isso, para determinadas necessidades, de fato, os cosméticos industrializados não são a melhor opção, como por exemplo, clarear, promover a renovação celular, rejuvenescer e dar tônus à pele, já que esses efeitos são alcançados, quase que somente, à base de ácidos. Portanto, se a ideia for obter esses benefícios, a melhor opção é fazer uma fórmula manipulada em farmácia, que permite uma boa concentração desses ativos. “Na indústria, não são utilizadas concentrações altas de ácidos, justamente para evitar irritações”, disse o professor João Carlos Lopes Simão, da USP de Ribeirão Preto.

Em tempo: vale lembrar que existem outras substâncias de uso permitido pela indústria que promovem esses resultados, porém de maneira mais leve. “De acordo com a legislação brasileira, é proibido utilizar ácidos sem prescrição médica. Há um controle severo nesse sentido, o que é muito bom, pois evita reações adversas na pele”, disse a dermatologista Silvia de Mello, da Clínica Ivo Pitanguy. “O ácido utilizado para rejuvenescimento, clareamento e tratamento da acne que necessita de prescrição médica é o retinóico (um derivado da vitamina A), também chamado de tretinoína, pois pode causar má formação fetal. Já outros derivados de vitamina A, como o retinaldeído e o retinol, não necessitam de prescrição”, disse João Carlos. 

Em compensação, há outros ativos que são mais bem utilizados por meio de cremes industrializados, como a vitamina C – um poderoso anioxidante que neutraliza a ação dos radicais livres, que causam envelhecimento precoce. “Por ser uma substância extremamente sensível e instável, a industrializada é bem mais segura”, disse Solange Teixeira. “Alguns derivados da vitamina A, como ácido retinóico ou tretinoína, retinaldeído e retinol, também são mais estáveis nos produtos industrializados. A combinação mais utilizada pelos dermatologistas para clareamento da pele, que contém ácido retinóico, hidroquinona e acetonido de fluocinolona, também é mais estável nos cosméticos produzidos em grande escala, na indústria”, disse João Carlos.

O melhor para o seu caso

Veja a seguir algumas características dos cremes manipulados e dos industrializados, e analise qual das duas versões é mais eficaz para o seu caso.

Manipulados

  • Em uma mesma fórmula, pode-se tratar dois ou mais problemas como,  por exemplo, envelhecimento e manchas
  • São mais específicos, o que facilita um tratamento personalizado, bem pontual
  • Permitem a concentração de ativos que o dermatologista achar necessário, podendo ser alterada de acordo com o resultado observado nas consultas ou com condições especiais como gravidez, intolerância à perfume ou alergia
  • Tem um preço melhor, se comparados com marcas de renome ou as internacionais muito famosas

Industrializados

  • Possuem penetração e eficácia determinadas por testes clínicos e laboratoriais. Portanto, são conhecidas
  • Seus efeitos colaterais são conhecidos
  • Não há variação do padrão de qualidade
  • Permitem maior estabilidade dos ativos do produto, o que favorece um prazo de validade mais longo