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Escravas sexuais sul-coreanas ainda querem que Japão peça desculpas

Lee Ok-sun tinha apenas 15 anos quando um homem coreano e outro japonês a sequestraram - Reuters
Lee Ok-sun tinha apenas 15 anos quando um homem coreano e outro japonês a sequestraram Imagem: Reuters

Andrés Sánchez Braun

Da EFE, em Gwangju

18/12/2018 13h00

Elas ainda pedem uma desculpa sincera pelo calvário sofrido como escravas sexuais do exército japonês há seis décadas: são as "halmonis", seis anciãs sul-coreanas que vivem em um asilo onde se honra sua coragem e dignidade.

Lee Ok-sun tinha apenas 15 anos quando um homem coreano e outro japonês a sequestraram no verão de 1942 em Ulsan (costa sudeste).

Fazia dois que tinha deixado sua cidade natal, a vizinha Busan, para trabalhar em uma pousada, algo tristemente comum naqueles tempos de penúria na Coreia, que na época não era dividida em dois países e que desde 1910 se encontrava sob ferrenho domínio colonial japonês.

"Me levaram para Yanbian (província chinesa de Jilin) e lá sofri como escrava sexual durante três anos", contou à Agência Efe Lee, que hoje tem 91 anos, no seu quarto da "casa do compartilhar", residência onde vive junto com outras "halmonis" ("avós" em coreano) que também foram escravizadas pelas tropas japonesas.

Lee está mais cansada do que o habitual: são dias tristes e fatigados neste asilo situado 30 quilômetros a sudeste de Seul, já que neste dia foi o enterro de outra "halmoni", Kim Sun-ok, que morreu na semana anterior aos 97 anos.

Isto deixa apenas seis "halmonis" na "casa do compartilhar" e no total apenas 25 das 240 antigas escravas sexuais registradas pelo governo sul-coreano estão vivas.

Acredita-se que cerca de 200 mil mulheres, adolescentes e coreanas na sua maioria, foram prostituídas à força pelas tropas imperiais japonesas desde os anos 30 até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

"O Japão minimizou seus crimes de guerra", explicou a historiadora sul-coreana Kang Jeong-seok, admitindo por sua vez o perigo de contar exclusivamente com o testemunho das vítimas como prova.

O principal problema, ressaltou, é que Tóquio não mostrou vontade de publicar grande quantidade de material documental que permitiria estabelecer "cientificamente o alcance real do dano".

Após um breve descanso, Lee diz: "Todo o tempo que passar neste mundo o dedicarei a lutar por uma desculpa do governo japonês. Eu só quero que me peçam perdão e eles somente estão esperando que eu morra".

De fato, o governo japonês pediu perdão em 1994 na chamada "Declaração Murayama" e constituiu um fundo público-privado de compensação de US$ 5 milhões. Dezenas de antigas escravas sexuais aceitaram o dinheiro, mas não as "halmonis", que consideraram que a desculpa não era sincera e que a indenização não vinha inteiramente de fundos do governo.

Em 2015, o então governo conservador sul-coreano e o japonês assinaram um acordo para aprofundar o tema sob a condição de que Tóquio pedisse desculpas novamente e compensasse as vítimas com outros US$ 8 milhões.

Outras 34 escravas sexuais (e familiares de outras 58 falecidas) aceitaram o pagamento, mas de novo as "halmonis" se negaram a receber um dinheiro que, segundo elas, o Japão qualificou de "ajuda humanitária" e não como "compensação legal".

O novo governo liberal estimou, por sua vez, que o acordo tinha sido fechado pelas costas das vítimas e o desprezou com 45% dos fundos japoneses já distribuídos, por isso que agora ainda resta saber se devolverá ou não a Tóquio a totalidade ou parte do valor.

Em todo caso, para Lee parece que o acordo de 2015 só complicou ainda mais as coisas e atrasou uma solução definitiva do assunto.

"Antes de qualquer dinheiro, o que se necessita é uma desculpa de coração pelas cicatrizes físicas e psicológicas que fizeram", disse Lee.

Em primeiro lugar, ela destacou o fato de que nunca pôde ter filhos devido aos tratamentos com arsfenamina e vapor de mercúrio (o exército japonês os usava nos seus prostíbulos para evitar a propagação de sífilis) aos quais foi submetida durante seu "calvário" em Yanbian.

Ela e outras nove mulheres, a maioria adolescentes, deviam atender cerca de 40 a 50 soldados por dia e quando finalmente terminou a guerra e os japoneses fugiram, começou um segundo suplício, o de ter de esconder seu drama durante décadas por causa do forte estigma nas sociedades confucianas sobre o sexo antes do casamento.

Esta é uma carga que todas as "halmonis" sofreram em silêncio e que muitas exteriorizaram em uma série de tristes pinturas exibidas em um museu perto da "casa do compartilhar" e que, pela sua "dureza", são proibidas de serem filmadas ou fotografadas.

Atrás do museu, um pequeno cemitério com os túmulos das "halmonis" mortas que passaram pela casa lembra que para elas esta é uma batalha contra o tempo.