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Casos de "maternidade tardia" aumentam em número e repercussão na China

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Imagem: Shutterstock

Paula Escalada Medrano

da EFE, em Xangai

30/08/2018 09h13

A China passou a ver um aumento de casos de "maternidade tardia", que nos últimos anos também se tornaram mais comuns em outras partes do mundo, mas no país asiático têm uma particularidade: a maioria das grávidas depois da menopausa são mulheres que perderam seu único filho.

Recentemente foram conhecidos vários casos de mulheres que estão tendo filhos depois dos 50 ou 60 anos, como Zhang Heng, uma senhora de 67 anos de Pequim que perdeu o filho único há quatro anos e, após tentar em vão a adoção, conseguiu engravidar de gêmeos graças a um tratamento de fecundação in vitro.

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A história dela, que despertou uma forte polêmica nas redes sociais do país, foi contada recentemente pelo jornal oficial "Global Times" como exemplo da pouca preparação da China para ajudar estas mulheres, já que em vários hospitais lhe negaram atendimento devido à complexidade de sua situação.

"A sociedade chinesa sequer está preparada para isso, e os riscos para uma mulher de idade avançada são muito altos. Elas têm que considerar isso muito cuidadosamente e estarem cientes de que a sociedade ou sua própria família podem não aceitar", explicou à Agência Efe o chefe de obstetrícia do hospital United Famlily de Xangai, Michael Gao.

No início de 2016, o governo chinês pôs fim à estrita política de natalidade do filho único, depois de quase quatro décadas nas quais foram impedidos milhões de nascimentos.

A maioria das mulheres chinesas só podia ter um filho e, se tivessem a fatalidade de os perderem por causa de acidentes ou doenças, muitos casais ficavam sozinhos em uma sociedade na qual a família continua sendo um pilar básico. São os filhos que cuidam dos pais quando envelhecem.

Segundo dados da Academia de Ciências Sociais da China citados pelo "Global Times", há mais de 1 milhão de famílias "shidu" (literalmente, "perda do único"), e cada vez mais mulheres recorrem aos avanços médicos para voltarem a engravidar.

"Ter outro filho é a melhor maneira de curar o trauma (da morte de uma criança). É uma coisa que só as pessoas como nós, que passamos pela dor, poderiam entender", afirmou ao jornal uma mulher de 65 anos que perdeu a filha e decidiu engravidar de novo.

Embora Gao compreenda a situação destas mulheres e seu enorme desejo de serem mães de novo, ela ressaltou que, "do ponto de vista médico, é desaconselhável (engravidar)", e seria preciso estabelecer os 45 anos a idade limite para alguém ter filhos.

"O corpo humano está preparado para realizar uma gravidez, especialmente se a pessoa se cuidou bem durante a vida (...), mas, quando se fica mais velho, os riscos na gravidez aumentam muito", explicou Gao.

É justamente este ponto que está gerando críticas, especialmente através das redes sociais, onde os chineses são influenciados.

"Os bebês precisam de 22 anos até que se formem na Universidade e 18 anos para serem adultos. Será que você vai viver até ver isto?", publicou recentemente uma mulher chamada Yuan na rede social Weibo, similar ao Twitter.

"Tenho só 40 anos, mas não me atrevo a ter outro filho, porque meu marido tem quase 50 anos. Temo que não estejamos em bom estado de saúde no futuro e que a criança não tenha um bom estado de saúde", contou outra internauta chamada Wu Tong.

Em relação à impossibilidade de fazê-lo legalmente na China, Zhang e seu marido foram a Taiwan para o tratamento, um recurso pelo qual optam vários casais.

"Simplesmente amo crianças e quero ter minha própria. (Agora pareço) por assim dizer uma pessoa culpada. Estou fazendo algo ruim?", perguntou a mulher durante a entrevista.

Outros internautas saíram em sua defesa. "Ela quer apostar e apostar com sua vida, sem prejudicar outras pessoas. Que direito temos de proibi-la de dar à luz o bebê? Como podemos controlar a vida de outra pessoa?", comentou Chu Jian.