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Festival de Veneza é criticado por "masculinidade tóxica"

Emma Stone é uma das famosas pró-#MeToo que passaram pelo Festival Internacional de Cinema de Veneza 2018 - Getty Images
Emma Stone é uma das famosas pró-#MeToo que passaram pelo Festival Internacional de Cinema de Veneza 2018 Imagem: Getty Images

Joachim Kürten

da Deutsche Welle

31/08/2018 09h25

Dos irmãos Coen a Mike Leigh, grande número de diretores homens participa do mais antigo festival de cinema do mundo. Responsável embarca na polêmica e diz que escolhe pela qualidade e não pelo sexo do cineasta.

Apesar de todo o burburinho em torno da igualdade de gênero na esteira do movimento #metoo, a australiana Jennifer Kent é a única cineasta selecionada para a competição oficial do Festival Internacional de Cinema de Veneza. É o segundo ano consecutivo em que apenas uma mulher é destaque na seleção oficial do Festival de Veneza.

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O diretor do festival, Alberto Barbera, disse que prefere se demitir a ceder à pressão por uma cota para mulheres depois que os festivais de Cannes, Toronto e Locarno se comprometeram com a igualdade de gênero. Barbera afirmou que escolhe filmes "segundo a qualidade e não pelo sexo do diretor".

"Desculpe, mas não acreditamos mais nessa justificativa", disse a Rede Europeia das Mulheres do Audiovisual, em carta aberta no início deste mês. "Quando Alberto Barbera ameaça se demitir, ele está perpetuando a ideia de que selecionar filmes de mulheres cineastas implica diminuir o padrão."

A revista Hollywood Reporter escreveu que a seleção refletia "a cultura italiana da masculinidade tóxica".

Embora Cannes tenha decidido parar de exibir as produções da Netflix, o Festival de Veneza vai no sentido oposto, apresentando três longas da gigante do streaming na corrida pelo Leão de Ouro: o novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen (EUA), intitulado A balada de Buster Scruggs, bem como películas dos diretores Paul Greengrass (Reino Unido) e Alfonso Cuarón (México).

O inacabado O outro lado do vento, último longa de Orson Welles, também vai estrear no festival, que prossegue até 8 de setembro. A Netflix adquiriu os direitos do material há alguns anos e deverá lançar o filme completo em novembro deste ano. A decisão de transformar a Netflix numa grande participante do festival deve ser um tema de discussão este ano.

O jovem diretor vencedor do Oscar Damien Chazelle (La La Land) abriu o festival nesta quarta-feira (29/08) com O primeiro homem, estrelado por Ryan Gosling e que conta a história do primeiro homem na lua, Neil Armstrong.

Além dos nomes mencionados anteriormente, a competição oficial conta com uma promissora lista de cineastas premiados, incluindo os diretores franceses Jacques Audiard e Olivier Assayas, o italiano Luca Guadagnino, o grego Yorgos Lanthimos, o húngaro László Nemes, o britânico Mike Leigh e o americano Julian Schnabel.

Dois filmes mexicanos e um argentino representam a América Latina na competição oficial do Festival de Veneza. Acusada, do diretor argentino Gonzalo Tobal, Roma, do mexicano Alfonso Cuarón, e Nuestro Tiempo, do também mexicano Carlos Reygadas, competirão com outros 18 filmes pelo prêmio máximo em Veneza.

Ao todo, 21 filmes disputam o Leão de Ouro. O júri do festival é presidido pelo diretor mexicano Guillermo del Toro, e o ator austro-alemão Christoph Waltz está entre os jurados.

Uma contribuição alemã também está na corrida pelos cobiçados Leões de Ouro e Prata. Never Look Away, de Florian Henckel von Donnersmarck – que também escreveu e dirigiu o premiado A vida dos outros –, estreia no dia 4 de setembro. Seu novo filme é inspirado na infância e início de carreira do renomado pintor alemão Gerhard Richter.

De Lady Gaga a Emir Kusturica

Seções menores da programação também incluem grandes nomes. Nasce uma estrela, estreia de direção do ator Bradley Cooper, apresenta Lady Gaga no papel principal.

Novas obras do enfant terrible sérvio Emir Kusturica e do grande mestre chinês Zhang Yimou também serão apresentadas.

Grandes nomes do documentário também estão entre os destaques: Errol Morris vai estrear um filme sobre Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e figura controversa da mídia e da política, enquanto o mais recente trabalho de Frederick Wiseman lança um olhar sobre os EUA rural e seu papel na política do país.

O diretor alemão Alexander Kluge retorna ao Lido com seu primeiro longa-metragem em 32 anos, intitulado Happy Lamento. O cineasta ganhou o Leão de Ouro em 1968 por Artistas na cúpula do circo: perplexos.

Como um dos principais diretores do cinema alemão do pós-guerra, Kluge também poderia se encaixar na seção Venice Classics (Clássicos de Veneza), que mostra obras-primas da história do cinema.

Para o 75º aniversário do mais antigo festival de cinema do mundo, serão homenageadas obras-primas de Paul Wegener, Robert Siodmak, Alain Resnais e outros grandes nomes.

Dois vencedores do Leão de Ouro já ficaram conhecidos antes do início do festival. O prêmio pelo conjunto da obra (Lifetime Achievement Award) será entregue ao diretor canadense David Cronenberg e à atriz britânica Vanessa Redgrave.

A cerimônia de premiação será realizada no dia 8 de setembro.