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Mulheres na tecnologia ainda têm problema para conseguir fundos

Elas ainda têm pouco espaço no mercado - iStock
Elas ainda têm pouco espaço no mercado Imagem: iStock

Julie Verhage e Olivia Zaleski

Da Bloomberg

19/06/2018 16h18

Nos últimos 21 anos, a fundadora serial de startups Stefania Mallett tem buscado capital de risco, normalmente de investidores homens brancos. No fim da semana passada, ela concluiu seu maior investimento até agora, 100 milhões de dólares (valor equivalente a 3,7 milhões de reais) para fazer crescer a EzCater, uma startup que ela fundou há 10 anos para conectar empresas com restaurantes.

"Quando a transferência bancária chegou, eu pensei, nunca vi tanto dinheiro assim na minha vida", disse Mallett, 62.

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A rodada de financiamento da EzCater é a maior conseguida por uma fundadora e CEO mulher no setor de tecnologia neste ano. Iguala a da empresa de planejamento de casamentos Zola, fundada por Shan-Lyn Ma, que também levantou US$ 100 milhões em maio.

Mallett, que já tinha levantado 70 milhões de dólares para a EzCater, atribuiu seu sucesso a uma aprimoração da tática de venda. "Eu acho que o ambiente ficou um pouco menos complicado", disse ela. "Mas eu mudei. Aprendi a contar a minha história com menos referência a gênero, e isso significa focar quase exclusivamente nos dados."

Uma onda recente de manchetes do mundo do capital de risco pode dar a impressão de que esse setor dominado historicamente por homens virou uma página.

Além de grandes rodadas de financiamento como a da EzCater, em maio a Bain Ventures incorporou a primeira parceira de investimento de sua história e a Greylock Partners incorporou a segunda (após perder a primeira).

No mês anterior, a Redpoint Ventures nomeou pela primeira vez uma mulher como parceira geral. A empresa seguiu os passos de outras instituições renomadas como a Union Square Ventures, a Benchmark e a First Round Capital, que fizeram a mesma coisa em 2017.

Pouco dinheiro

Contudo, no que diz respeito a para onde o capital está fluindo, a história é diferente. Neste ano, até agora, para muitas fundadoras o despertar pós-#MeToo do setor não se traduziu em dinheiro.

De acordo com uma análise da Bloomberg dos dados dos 250 maiores acordos de capital de risco do primeiro trimestre, só 12 foram para fundadoras e equipes de fundadoras exclusivamente femininas – pouco mais do que os nove de 2015.

A fatia do volume de negócios para as equipes de fundadoras exclusivamente femininas, por sua vez, subiu de 3,6 por cento em 2015 para 4,8 por cento. E dos 496 fundadores que participaram desses 250 acordos, 45 eram mulheres, ou 9,1 por cento, contra 6 por cento três anos atrás.

Os líderes da tecnologia estão cada vez mais aceitando que não há uma única solução para tudo. Max Levchin, CEO da Affirm e cofundador da PayPal, tem tentado "recrutar ativamente candidatas fortes", adicionar programas de desenvolvimento da liderança e se empenhar para "revisar nosso processo de entrevistas e procurar pontos onde possamos eliminar preconceitos não intencionais".

Hoje, mais de um terço dos funcionários da empresa com cargos de gerente ou superiores são mulheres. A consciência sobre o problema é grande, disse Levchin, mas "falar sobre isso não substitui a ação".