Topo

Assediadores usam sites de doação de sêmen para se aproximar de mulheres

Vítimas recebem fotos de abortos e são constrangidas a praticar sexo sem proteção - iStock
Vítimas recebem fotos de abortos e são constrangidas a praticar sexo sem proteção Imagem: iStock

Da BBC

24/09/2018 16h30

Mulheres britânicas que buscaram doadores de sêmen em sites irregulares na internet têm sido constantemente assediadas - a ponto de receberem fotos de abortos e serem constrangidas a praticar sexo sem proteção, aponta uma investigação da BBC.

As mulheres que recorrem a sites não regulados citam dois motivos: os rígidos critérios de admissão para fazer inseminação artificial no serviço público de saúde (o NHS) e os altos custos do procedimento no setor privado.

Veja também

A doação de esperma via internet não é ilegal no Reino Unido, desde que seja ofertada gratuitamente pelo doador - no Brasil, a doação online também cresce, embora não haja nenhum tipo de regulamentação pelo Ministério da Saúde e a prática seja desencorajada por especialistas.

Na prática, a investigação da BBC apontou que os doadores virtuais britânicos oferecem ou inseminação artificial ou inseminação natural (este último consiste em sexo desprotegido com um estranho, para obter seu esperma).

Uma das usuárias desses sites é Sarah (que pediu para não ter seu sobrenome divulgado), de 26 anos, que é solteira e queria ter um bebê por conta própria.

Ela contou ao programa Inside Out, da BBC, que não tinha como arcar com os custos de uma inseminação artificial particular e, por isso, recorreu à internet em busca de um doador gratuito. Mas descobriu que muitos dos doadores não eram "confiáveis".

"Houve alguns idiotas com quem eu queria não ter interagido, porque eles te assediam ou começam a mandar imagens que você realmente não quer ver", relatou.

"Mensagens de abortos"

O casal de mulheres britânicas Kirsti e Danielle, que também buscou doadores na internet, contou que a intenção dos assediadores era convencê-las a praticar sexo desprotegido com eles.

"Algumas pessoas tentam te dissuadir (de fazer a inseminação artificial) com mensagens sobre abortos e coisas do tipo, dizendo 'se você fizer (a inseminação artificial em vez da natural), é isso o que vai acontecer'", relatou Kirsti. "Eles ficam tentando te convencer a respeito do método, para que você faça sexo com eles."

Sarah, por sua vez, conheceu um suposto doador que, depois ela descobriu, era casado e havia feito uma vasectomia - ou seja, sequer era capaz de doar esperma fértil.

"Senti que não poderia confiar nas pessoas no site. Acho que eles devem ser policiados por alguma organização; (atualmente) é apenas uma pessoa aleatória que você não sabe se é segura porque não há nenhuma prova sobre quem ela é."

"Posição vulnerável"

Críticos das doações não reguladas de sêmen online advertem que outro perigo é que as amostras de esperma não passam por nenhum exame que verifique eventuais doenças sexualmente transmissíveis.

Para a médica especialista em fertilização Larisa Corda, o crescimento das doações online é "alarmante".

"Acho que as mulheres (que buscam esses sites) ficam em uma posição extremamente vulnerável, do ponto de vista médico e do potencial risco de abuso", opinou.

Ela admitiu, porém, que os altos custos de um tratamento privado de inseminação artificial (cada ciclo pode custar o equivalente a R$ 7 mil, segundo dados do próprio NHS) são impeditivos para várias mulheres, que acabam recorrendo a doadores online.

"Em um mundo ideal, acho que esses sites (de doação de esperma) devem ser fechados, porque o principal é cuidar da saúde e do bem-estar das mulheres", opinou.