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Síndrome de Otelo determina ciúme patológico e precisa ser tratada

Ter ciúmes é normal, mas quando o sentimento atrapalha a vida, precisa ser investigado - Lumi Mae/UOL
Ter ciúmes é normal, mas quando o sentimento atrapalha a vida, precisa ser investigado Imagem: Lumi Mae/UOL

16/11/2014 18h42

"A mulher mais ciumenta do mundo" virou notícia nos jornais britânicos na última semana por submeter seu marido a testes em um detector de mentiras toda vez que ele chega em casa. O ciúme de Debbi Wood, de 31 anos, é patológico e ela foi diagnosticada com "síndrome de Otelo".

O nome é inspirado na famosa obra de Shakespeare, Otelo - na qual o personagem principal, possuído por um ciúme doentio, mata sua esposa, Desdêmona. Os indivíduos que têm síndrome de Otelo sofrem com o delírio de que seus parceiros ou parceiras são infiéis. "A pessoa fica obcecada com a ideia de traição e infidelidade e tenta fazer de tudo para buscar provas que mostrem que ela está certa. Por exemplo, ela tenta fuçar no computador ou no celular do parceiro ou se mostra violenta, humilhando o outro", explica à BBC o psiquiatra Walter Ghedin.
Casos extremos
 
Em casos extremos, quem sofre com o transtorno pode chegar a matar o objeto de seu ciúme. "Quando se chega ao homicídio é porque existe outro tipo de personalidade patológica, que se desenvolve a partir de uma paranóia ou em um ciúme delirante", diz o especialista. Segundo Ghedin, há casos em que o ciúme é reforçado pela influência de terceiros.
 
Ele lembra que na obra de Shakespeare, Yago ajudou a convencer Otelo que Desdêmona seria infiel. "Os ciumentos podem ser influenciados pelas opiniões de pessoas ou pelos meios de comunicação", afirma o psiquiatra. Ainda segundo o especialista, a melhor forma de tratar a síndrome de Otelo é buscar ajuda o quanto antes e entender as causas do problema.
 
A psicoterapia seria de grande ajuda e, nos casos extremos, é recomendável a medicação. "Em alguns pacientes a ideia de infidelidade é tão forte, tão recorrente que altera as relações com outras pessoas. Nesses casos, uma medicação pode atenuar a intensidade dessa ideia fixa", conclui.
Tipos de ciúme
 
O ciúme só é considerado um distúrbio psiquiátrico quando domina as pessoas e altera drasticamente suas vidas. Segundo Ghedin, há quatro tipos de ciúmes:
 
- Reação emocional normal: trata-se de um sentimento transitório, que não condiciona a vida de quem o sente.
 
- Reação emocional desmedida: afeta sobretudo as relações amorosas. Pode ou não ter sido precedida de situações de infidelidade
 
- Ciúme como traço distinto da personalidade: típico dos que têm personalidade desconfiada. O ciúme afeta todas as áreas da vida: família, amor e relações de trabalho. Em geral é característico de pessoas calculistas, que veem ameaças onde elas não existem e estão convencidas de que seu ponto de vista é uma verdade indiscutível. Está ligado ao chamado Transtorno Paranoico de Personalidade.
 
- Síndrome de Otelo: como dito anteriormente, um distúrbio caracterizado por pensamentos delirantes de ciúme. O delírio que alimenta o ciúme pode ser parte de um transtorno crônico ou paranóia, mas também pode indicar um quadro de demência por deterioração do córtex cerebral ou de alcoolismo crônico.
 
Homens
 
A síndrome de Otelo é mais comum em homens do que em mulheres. Segundo Ghedin, isso acontece por razões psicológicas e culturais.  No homem, "o apego real e simbólico à figura da mãe" atuaria inconscientemente gerando sentimentos "ambivalentes" de amor e ódio com relação a outras mulheres. No que diz respeito a influência da cultura, segundo o psiquiatra, o problema é que em muitas sociedades ainda é forte a ideia de poder e dominação dos homens sobre as mulheres.
 
Como resultado, alguns homens esperam que suas companheiras se submetam a suas regras e qualquer conduta de autonomia é vista como suspeita.