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Mulheres criam grupos de apoio a funcionárias em áreas de maioria masculina

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Imagem: iStock

Júlia Marques

do Estadão Conteúdo, em São Paulo

08/03/2019 09h17

Iana Chan, de 30 anos, é íntima dos códigos de programação. Quando enveredou pelo caminho da tecnologia, porém, encontrou um mundo de homens e um gato-pingado de mulheres. "Era a única nas reuniões, ouvia piadinhas." Ela não deixou barato: para apoiar jovens interessadas em descobrir a programação, criou um clube só para elas. "É difícil se imaginar em alguma coisa se não vê alguém como você fazendo", conta Iana, fundadora da PrograMaria, que oferece cursos e palestras para mulheres.

A frase resume o motivo de existir da PrograMaria e de outras redes de mulheres pelo Brasil. Em comum, esses grupos querem ser espelho para meninas no início da corrida em carreiras consideradas masculinas ou em busca de cargos de liderança que até então só eles ocupavam.

"Ser mulher em tecnologia é muito solitário. É comum que elas venham com o depoimento de que são as únicas", afirma Iana, que vê dilemas como jornadas longas durante a maternidade e assédio no trabalho. "Trocamos estratégias para conseguir pleitear um ambiente mais respeitoso."

Há dez anos como um apoio para advogadas, o grupo Jurídico de Saias viu o cenário mudar em algumas áreas - em outras, nem tanto. "Nas empresas, o caminho é menos dolorido. Não vemos tanto progresso nos escritórios de advocacia", diz Josie Jardim, de 52 anos, fundadora do grupo e diretora jurídica da Amazon. O Jurídico de Saias tem 1,4 mil participantes, que trocam figurinhas sobre assuntos que podem ir do Código Penal à amamentação.

Ianda Lopes, de 43 anos, é uma das associadas desde que o grupo nasceu. Diretora jurídica para a América Latina da GE Renováveis, alcançou o posto quando estava grávida de 8 meses. "Com três filhos, na posição que tenho, fui inspiração para meninas mais novas." Para ela, que agora trabalha pela inserção de jovens negras, algo ainda mais raro na área do Direito, ter mulheres em posições de destaque é bom para as próprias corporações.

"Empresas já se deram conta de que diversidade é algo mandatório, mas continuamos fazendo trabalho de formiguinha." Ianda se lembra de uma reunião em que um homem interpretou que uma colega não voltaria à ativa após o segundo filho. "Perguntei de onde tinha tirado a informação. Talvez ela precisasse ainda mais de trabalhar."

Incentivo

Os obstáculos para o sucesso na carreira podem começar até antes da formação. Desencorajadas nas áreas de Exatas, é comum que garotas nem cogitem seguir em profissões como Engenharia. "Achamos importante ir às escolas e mostrar a elas que somos da área, gostamos e temos sucesso", diz a engenheira Clarissa Loureiro, de 37 anos, ex-presidente da organização Women in Engineering da América Latina. A falta de representação, diz, ajuda a perpetuar problemas, como assédios sexuais. "Não temos a quem recorrer. Acham que somos loucas."

Contra violências até mais sutis na universidade, como a desqualificação por colegas homens, pesquisadoras também se mobilizaram.

"Elas têm até enfrentado orientadores para ter bancas com mais mulheres", diz Rafaela Falaschi, de 36 anos, bióloga e fundadora do Mulheres na Ciência. Na internet, dão visibilidade a pesquisas feitas por elas e usam o método científico para mostrar que os problemas não são individuais, mas enraizados na sociedade. "Está incutido que o homem tem mais características de um bom cientista", diz Rafaela. "Queremos falar que podemos fazer o que quisermos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.I