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Mulher rompe tabus no Paquistão e trabalha como mecânica

Da AFP em Multan (Paquistão)

16/10/2018 16h03

Desde o dia em que pegou una chave inglesa para trabalhar como mecânica no Paquistão, país sob um forte sistema patriarcal, Uzma Nawaz enfrentou dois tipos de reações: surpresa e impacto. O respeito veio depois.

A jovem de 24 anos teve que enfrentar inúmeros estereótipos e obstáculos financeiros antes de obter seu diploma de mecânica e emprego em uma oficina em Multan, cidade localizada no centro do Paquistão.

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"Eu aceitei isso como um desafio", por causa dos obstáculos e "dos limitados recursos financeiros da minha família", explicou Nawaz à AFP.

"Quando as pessoas me veem fazendo esse tipo de trabalho, elas ficam realmente surpresas", acrescenta ela, usando um véu preto e um colete azul cobrindo sua camisa xadrez.

Natural da pequena e pobre cidade de Dunyapur, no leste da província de Punjab (centro), Uzma  Nawaz obteve uma bolsa para estudar. Apesar disso, muitas vezes precisou pular uma refeição por falta de dinheiro.

Sua carreira é algo excepcional na República Islâmica do Paquistão, uma sociedade muito conservadora em que os direitos das mulheres ainda estão longe de serem respeitados, especialmente nas zonas rurais.

Muitas vezes, as jovens são forçadas a casar desde muito cedo e dedicam-se completamente à sua família, em detrimento de qualquer outra ambição.

Algo que se reflete claramente no mercado de trabalho. De acordo com um estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, agência da ONU), as paquistanesas ocupavam apenas 38,7% dos postos de trabalho em 2013.

No entanto, estes números são muito mais positivos do que em 2002, quando a taxa era de apenas 22%.

Mas, de acordo com este estudo, "a maioria trabalha no setor agrícola de baixa produtividade ou em domicílios", e algumas nem recebem salários.

"Nenhuma dificuldade foi capaz de abalar a minha vontade e minha motivação", garantiu Uzma  Nawaz, orgulhosamente.

Ela desenvolveu seus talentos durante um ano em uma concessionária de uma marca japonesa em Multan, onde é a única mulher entre os mecânicos.

Parafusa, desenrosca, monta, desmonta... Sempre muito concentrada, para o espanto de alguns clientes.

"Fiquei surpreso ao ver uma jovem levantar grandes e pesados pneus e substituí-los após o reparo", admite um deles, Arshad  Ahmad.

Nawaz conquistou seus colegas. "Seja qual for a tarefa que confiamos a ela, faz como um homem, trabalhando duro e com aplicação", ressaltou Muhammad Attaullah.

A jovem também convenceu os membros de sua família que duvidavam de sua capacidade de se desenvolver em um universo masculino.

"Em nossa sociedade, as meninas não trabalham em oficinas. Isso não me parece apropriado, mas é a paixão dela", afirma o pai da jovem, Muhammad Nawaz, que se diz "muito feliz" por ela.