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Patinadora brasileira desce ladeiras a 90 km/h: "Se dá para fazer, eu faço"

Camila Cavalheiro, 30, treina a modalidade downhill há sete meses, mas é patinadora há seis anos - Arquivo Pessoal
Camila Cavalheiro, 30, treina a modalidade downhill há sete meses, mas é patinadora há seis anos Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

Da Universa

14/07/2019 04h00

Natural de Maringá (PR), Camila Cavalheiro, 30, queria voltar a praticar um esporte, há sete anos, quando viu um par de patins em uma vitrine do shopping e resolveu comprá-lo. "Nunca nem tinha visto uma competição, mas estava passando um vídeo mostrando manobras e eu achei interessante", narra à Universa.

Foi assim, casualmente, que a história dela com a patinação começou. Porém, ano passado, ela "se jogou com tudo" no esporte: começou a se dedicar apenas à patinação e se tornou uma das únicas brasileiras a competir na modalidade downhill, em que desce ladeiras em alta velocidade. "Medo de cair eu não tenho, porque todo mundo cai. É só levantar. Faço o que tenho que fazer. Se falam que dá para fazer, eu vou lá e faço", afirma. Neste mês, Camila, que é patrocinada pela Fila Skates, foi a primeira brasileira a descer ladeiras nas olimpíadas Rollergames 2019, que rolou em Barcelona, na Espanha.

Logo depois de comprar os patins, ela começou a frequentar o parque do Ibirapuera, onde conheceu outros praticantes de slide (manobras de frenagem) e jump (manobras aéreas com patins). Estas foram as primeiras modalidades nas quais ela competiu, em 2014. Mãe de Laura, de 3 anos, a patinadora trabalhava com produção de moda e maquiagem em uma agência quando engravidou. "Decidi, então, deixar o trabalho para cuidar da minha filha", afirma.

Moradora da Penha, bairro da zona leste de São Paulo (SP), ela continuou praticando o esporte junto com a vida de mãe de uma criança pequena. Até que, no ano passado, foi convidada a participar do time Adreninline. "Antes eu competia por amor. Foi com a ajuda da equipe que eu comecei a olhar o esporte com outra visão. Resolvi, então, virar uma atleta. Ter uma rotina e alimentação regradas para melhorar a minha performance", narra.

À toda velocidade

A rotina de Camila vai de segunda a sábado. Em três dias da semana, ela treina manobras com os patins nos parques Villa Lobos e Ibirapuera, em São Paulo, e faz treinos funcionais em casa. Em outros dois, a paranaense puxa ferro para fortalecer pernas. Aos sábados, o frio na barriga: "É quando eu vou para a ladeira colocar tudo o que treinei em prática." Para isso, ela viaja cerca de duas horas para Alphaville, onde desce ruas em alta velocidade. "Sou a única brasileira a conseguir frear com slide a 60 km/h", fala, com orgulho. Porém, esta não é a maior velocidade que ela já alcançou: "Eu já consegui chegar a 90 km/h".

Além de Camila, a única outra brasileira federada a competir na modalidade downhill é patinadora Ariele Matias. A categoria é considerada perigosa, tanto que, em novembro do ano passado, um skatista morreu em uma competição no Rio de Janeiro (RJ). Por isso, ainda hoje, as ladeiras são dominadas pelos homens. "Já duvidaram muito da minha capacidade, como se eu não pudesse fazer uma curva mais fechada apenas por ser mulher". Porém, é o fato de ter poucas mulheres no circuito que fez os treinadores dela, Dennis Tavares e Luara Carvalho, a incentivarem a competir na categoria. "Eles queriam que uma menina fosse a representante. E precisavam de uma patinadora que tivesse técnica e, principalmente, não tivesse medo", afirma. Camila garante que não conhece o sentimento. "Se o tenho, é bem lá no fundo, nada que me impeça de fazer algo. Não sei explicar, sempre gostei de coisas perigosas, sempre me diverti com isso."

A queda mais complicada que ela já teve foi no treino para a competição em Barcelona, que aconteceu no começo de julho. "No fim do circuito, tinha uma curva muito fechada e longa. Não consegui fazê-la direito e fui jogada para fora. Saí rodando", fala, com tranquilidade. O tombo, no entanto, não passou de um susto. "Levantei e continuei o treino." Com apenas sete meses praticando downhill, Camila conquistou o 15º lugar entre 23 competidoras. "Eu fiquei muito feliz com o resultado, porque lá estavam as melhores do mundo."

De volta ao Brasil, a patinadora está descansando um pouco com a filha Laura, que às vezes a acompanha nos treinos. "Ela me incentiva bastante e ama andar de patins no meu colo. Fica gritando: 'Vai, mamãe, com emoção. Quero ser radical'", ri.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, a patinadora é paranaense e, não, paulista.