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Agredida por MC Reaça: "Ele me bateu só no rosto. E quebrou muitos ossos"

Vítima que afirma ter sido agredida por MC Reaça: "ele me bateu só no rosto" - Getty Images/iStockphoto
Vítima que afirma ter sido agredida por MC Reaça: 'ele me bateu só no rosto' Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marcos Candido

Da Universa

19/06/2019 11h50

"A cicatrização vai demorar", prevê Helena, 28*. Os ossos do rosto dela foram quebrados. A retina sofreu um trauma que prejudica a visão. A boca inchada e as fraturas no maxilar atrapalham na hora de falar. Foram mais de dez ossos do rosto quebrados, ela diz.

Helena afirma à Universa ter sido agredida por Tales Alves Fernandes -- o 'MC Reaça' -- no início de junho, momentos antes de o cantor ter sido encontrado morto. A polícia afirma que foi suicídio. Após as agressões, ela ficou internada por duas semanas em um hospital em Indaiatuba, no interior de São Paulo.

A vítima precisou passar por uma cirurgia para colocar placas e pinos no rosto. Recebeu alta na última quarta (12). Está de repouso na casa de amigos e aos cuidados da mãe, que veio do Rio Grande do Sul para cuidar da filha.

Segundo Helena, a previsão é de ao menos trinta dias para as dores diminuírem e os pontos na boca começarem a cair. "Ele me bateu no rosto. Só no rosto, mais nada".

"Tem muitos ossos que foram quebrados e não tem como consertar. Vamos ter que esperar o organismo mesmo fazer a cicatrização", explica.

De acordo com a polícia, após agredi-la, Tales cometeu suicídio. O boletim de ocorrência, obtido por Universa, relata que o corpo do músico foi encontrado na beira da Rodovia D. Pedro I, na altura do Km 116 em Valinhos, cidade a cerca de 80 km da capital paulista.

Tales Volpi, o MC Reaça - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Tales 'Volpi', o MC Reaça, foi encontrado morto à beira de uma rodovia em Valinhos, no interior de São Paulo. Polícia apontaram suicídio
Imagem: Reprodução/Facebook

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirma que o caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Indaiatuba. A equipe da investigação coleta depoimentos das pessoas envolvidas na ocorrência para o esclarecimento do fato.

Músico ganhou fama com letras antifeministas

Tales 'Volpi' Fernandes ganhou fama em protestos onde interpretava funks contra feministas, contra a esquerda política e a favor do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O músico era popular nas redes sociais, onde se intitulava como "cristão, gaúcho, compositor e instrutor de boxe" a mais de 5 mil seguidores no Facebook.

A letra de maior repercussão do artista dizia: "Dou para a CUT pão com mortadela / E para as feministas, ração na tigela / As mina de direita, são as top, mais bela / Enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela".

Com a notícia da morte, Bolsonaro prestou condolências ao músico no Twitter. "Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil", escreveu o presidente.

Enquanto Bolsonaro lamentava a morte, Helena ainda não tinha recuperado totalmente a consciência no hospital. Internada de sexta (1) para sábado (2), só diz ter voltado completamente a si na terça-feira (4).

"Eu estava meio que sem memórias. Demorou para que eu soubesse o que estava acontecendo. [Quando acordei] Já tinha passado o velório, já tinha passado tudo", relembra.

As horas que antecederam a agressão passaram, para ela, como passam em um dia normal. Ela foi ao trabalho, em uma agência de viagens, e lá ficou durante a tarde e parte da noite. Chegou em casa e preparou o jantar. Foi quando Tales chegou, por volta das 22h.

Na ocasião, havia a suspeita de que Helena estava grávida. O casal se preparava para fazer um teste de gravidez na noite da agressão. Segundo ela, os dois combinaram de fazer o teste no sábado (2). Ele, porém, adiantou a visita para a sexta (1).

A partir da chegada de Tales na casa, ela diz se recordar apenas de flashes.

"Eu não tenho noção se houve uma discussão, eu acredito que não, porque a gente nunca brigava", explica. "Eu me lembro de ele estar muito estranho. Um dos flashes [do momento] que lembro da agressão, ele apertava o meu pescoço, me asfixiando".

O Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), onde ela foi internada, divulgou que a vítima não estava grávida. A informação foi concedida com autorização da família para diminuir os boatos sobre uma possível gravidez.

Início do relacionamento

Os dois se conheceram na internet. Na ocasião, Tales organizava uma manifestação a favor da eleição de Bolsonaro em Indaiatuba. Amigos citaram os dois em uma mesma publicação nas redes sociais e eles passaram a conversar online, até se conhecerem pessoalmente.

Veículos de comunicação divulgaram a suspeita que Helena e Tales mantinham um relacionamento extraconjugal, a partir de um áudio de despedida atribuído a Tales. A polícia investiga a gravação.

Helena diz que Tales não prosseguiu com o processo de divórcio de um antigo relacionamento por questões burocráticas, como a mudança de sobrenome de casal. Apesar disso, ela diz que ele e a suposta ex mantiveram contato nos últimos meses.

"É o que ele me dizia: eles não eram casados, não tinham essa afetividade, não tinham nada", explica.

A violência

Sem entrar em detalhes, revela que já tinha presenciado episódios de violência doméstica na família. Para ela, é difícil assimilar que ela também se tornou uma vítima.

Por enquanto, está de licença médica do trabalho. Até o fim do ano, quando as cicatrizes e as dores forem menores, planeja voltar ao Rio Grande do Sul.

Eu voltei a ir ao psicólogo. Tinha parado com as consultas, mas voltei ao consultório para me ajudar com um possível trauma

"Ainda é muito estranho de entender isso. Conforme eu for recuperando a memória do dia, acho que vou tendo um pouco mais de pertencimento àquele dia", conclui.

*Nome alterado a pedido da vítima