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Mãe relata ameaças após feminicídio da filha no MT: "Vivemos escondidos"

Sandra com sua filha, Kendra Rayane - Arquivo pessoal
Sandra com sua filha, Kendra Rayane Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Gonzalez

Da Universa

28/05/2019 16h57

Resumo da notícia

  • Kendra Rayane Carvalho, de 17 anos, foi assassinada a tiros em abril e o principal suspeito é seu ex-companheiro
  • Sua mãe, a vigilante Sandra Mara Salcouski, disse à Universa estar sofrendo ameaças do suspeito, que está foragido há quase dois meses
  • Ela cuida do neto de 1 ano, mas tem medo de levá-lo à escola ou ir ao mercado, mesmo com uma medida protetiva que impede a aproximação do ex-genro

A vigilante Sandra Mara Salcouski perdeu sua única filha, Kendra, há menos dois meses. A menina de 17 anos foi vítima de feminicídio em abril, quando foi assassinada a tiros na porta de casa. O principal suspeito é seu ex-companheiro e pai de seu filho, Ronaldo José de Souza Oliveira, que está foragido.

Depois que enterrou a adolescente, em abril, Sandra não conseguiu retomar a rotina: além de ser a responsável pelos cuidados com o neto, Bernardo, que acabou de completar um ano, ela está afastada do trabalho até o final de junho por recomendação de um psiquiatra e vive com medo das ameaças do ex-genro.

À Universa, ela disse que tem medo de ir ao mercado, levar Bernardo à escola ou fazer qualquer outra atividade fora de sua casa, na cidade de Mirassol D'Oeste (MT), a quase 300 quilômetros de Cuiabá.

"Amigos dela me contaram que ele ligou dizendo que vai fazer um estrago ainda maior. Pessoas aqui da cidade também já viram ele passando aqui pela praça, perto da minha casa, no banco de trás de um carro", conta.

Ainda que o suspeito não tenha entrado em contato diretamente com Sandra, a vigilante procurou a polícia e conseguiu uma medida protetiva de 500 metros para ela e para a criança, mas teme que o documento não impeça a aproximação de Ronaldo.

"Vivemos escondidos", conta. "Estamos com muito medo".

Em abril, quando conversou com Universa pela primeira vez, Sandra disse que se sentia insegura com o ex-genro à solta pela cidade. "Ele vivia dentro da minha casa, está armado. Depois do que ele fez com a Kendra, não duvidamos de nada", disse, na época.

Questionada se considera deixar a cidade com o menino, Sandra disse que sim, mas que não tem condições financeiras para uma mudança no momento.

Nas redes sociais, ela compartilha fotos e vídeos de Ronaldo pedindo ajuda à polícia e à população da cidade para encontrá-lo.

Entenda o caso

Minutos depois de saber que a filha estava morta, a vigilante recebeu mensagens de Ronaldo em seu celular celular. Ele teria compartilhado com ela o contato com o número 190, da Polícia Militar, às 00h48, e escrito: "Vai atrás dela agora. Chupa. Cadê sua filha?". A reportagem teve acesso às capturas de tela que mostram a conversa.

Segundo a polícia, no dia 13 de abril, Kendra Rayane Carvalho tinha ido a uma festa, mas foi expulsa do local depois que o ex-companheiro denunciou aos seguranças da casa que ela era menor de idade.

Chegando ao prédio em que morava sozinha com o filho, ela levou três tiros. Uma quarta bala acertou um amigo da adolescente, Halif Thiago dos Santos, de 25 anos, que sobreviveu.

Sandra, que na data trabalhava como segurança em um evento da cidade, foi avisada do crime por amigos de sua filha, que a levaram de moto até o local. "Quando cheguei, minha filha estava caída, morta, e eu não podia fazer nada. Aquela imagem não sai da minha cabeça", disse, em entrevista concedida à Universa dias depois do crime.

Ronaldo e Kendra se conheceram quando a menina tinha 14 anos. O casal teve alguns términos ao longo de três anos de relacionamento, mas chegou a viver junto durante a gestação dela, aos 16.

Segundo o relato de Sandra, a adolescente já tinha sido agredida pelo companheiro algumas vezes, a mais grave delas quando estava grávida — o que a fez deixar a casa de Ronaldo e voltar a morar com a mãe, meses antes de alugar o próprio apartamento.

O crime foi registrado como homicídio tentado (pelo tiro em Halif) e homicídio consumado (Kendra), este com agravante de feminicídio.

Segundo a Polícia Civil, a Delegacia de Mirassol D'Oeste está realizando buscas para efetuar a prisão do suspeito, que está com o mandado de prisão decretado pelos dois crimes.

Nas redes sociais, a Delegacia divulga fotos do suspeito e pede que, se alguém tiver informações sobre seu paradeiro, informe à polícia.