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Não é só para "lacrar": Ana Paula Xongani vê internet como política pública

A empresária Ana Paula Xongani virou influenciadora digital por perceber que redes sociais poderia amplificar sua voz - Arquivo pessoal
A empresária Ana Paula Xongani virou influenciadora digital por perceber que redes sociais poderia amplificar sua voz Imagem: Arquivo pessoal

Natália Eiras

Da Universa

08/05/2019 04h00

Ana Paula Xongani, 31, criou, há 10 anos, uma marca de roupas afro para pessoas negras se sentissem mais bonitas. Mas, há seis anos, ela decidiu virar uma influenciadora digital para exaltar a cultura negra e lutar contra o racismo.

Para ela, mais do que o ambiente dos "textões lacradores", a internet pode fazer a diferença nos movimentos sociais. "A web é um reflexo de nossa sociedade. As pessoas interagem nas redes sociais como se fossem suas próprias vidas, experiências e visões do mundo", fala a paulistana em entrevista à Universa.

Por entender a importância da influência digital para os movimentos sociais, Ana Paula vai ser uma das palestrantes do Festival Path, que vai discutir o assunto no dia 1º de junho, em São Paulo (SP). "Ela pode ajudar a pensar a sociedade, a discutir as coisas", diz a paulista, que estará em um painel com a coordenadora de conteúdo digital Hariana Meinke e diretora de mídias sociais Inaiara Florêncio para falar como criadores de conteúdo podem defender direitos coletivos.

Segundo Ana Paula, o acesso à web permite que uma pessoa entre contato com um mundo muito mais amplo do que seu quarto ou a rua de casa. "O ambiente digital traz comunicação e comunicar-se é poder", diz a influenciadora, que entende que a internet pode ser usada pelas minorias para amplificar a própria voz. "Ela pode decidir o nosso futuro."

Por tornar discursos tão potentes, Xongani afirma que é preciso tornar a internet mais acessível para todos os brasileiros. "Por exemplo, 50% da população negra não tem acesso à web. É uma forma de apartar e apagar pessoas em um ambiente tão importante. A internet tinha que ser política pública, que nem a televisão. Porque ela permite que as pessoas se expressem e sejam escutadas."

Blogueirinha social

Com 50 mil seguidores no Instagram e mais de 58 mil inscritos no YouTube, Xongani já fez parcerias com marcas como Bradesco, Natura e iFood. Ela mistura conteúdos sobre moda e beleza com posicionamento social. No entanto, a criadora de conteúdo assume, em suas redes sociais, um discurso bem "blogueirinha", forma jocosa que algumas pessoas usam para se referir aos influenciadores.

"Mas eu conseguir assumir esse papel é uma vitória. Eu ser blogueirinha é um questionamento sobre o ideal de beleza, uma vez que o estereótipo da influenciadora costuma ser branca, loira, rica. Se é para ocupar um lugar-comum que não me pertenceria, eu assumo o papel de blogueirinha sim", afirma.

Admirar e ter uma referência em alguém parecido consigo é, de acordo com especialistas, muito positivo para as pessoas. "Ela se sente inserida no mundo. Somos seres sociáveis, gostamos de nos sentir pertencentes. Elas se sentem seguras de si e fortes. Se elas não sentem que têm um lugar no mundo, acham que são imprestáveis", fala o psicólogo Yuri Busin, em São Paulo (SP).

Assim, Ana Paula percebe que sua atuação nas redes sociais pode ajudar outras mulheres a serem mais confiantes. "Por causa da internet, eu tenho acesso a eventos, falo com empresas privadas. Vou estrear um programa na GNT. Não conseguiria ir para a TV se não fosse a web. É um caminho para tornar o mundo mais inclusivo", afirma.

Porém, ela sabe que ainda há poucos influenciadores negros como ela. Para mudar isso, ela se reuniu, no ano passado, com outros 24 criadores de conteúdo no Coletivo Influência Negra, para promover o trabalho de influenciadores afros. "Se a gente quer igualdade em todos os espaços, a gente não pode excluir a internet disso", diz.

TAB apresenta o Festival Path 2019, o maior e mais diverso evento de inovação de criatividade do Brasil. Saiba mais e participe.

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