Topo

Você começa a relação já esperando o fim? Saiba como mudar esse hábito

iStock
Imagem: iStock

Claudia Dias

Colaboração para Universa

04/05/2019 04h01

Enquanto a maioria das pessoas começa um namoro sonhando com (futuros) casamento e família formada, há quem entre na relação já imaginando o fim dela.

Repetição de padrões, traumas e experiências passadas, medo de sofrer, foco na profissão, baixa autoestima e até o avanço da tecnologia podem estar por trás desse comportamento.

A seguir, listamos possíveis causas e, com ajuda de especialistas, mostramos como mudar o cenário.

Defesa contra traumas

Quem viveu experiências passadas bem ruins e até traumatizantes tem medo de se machucar novamente. Com isso, acaba entrando "parcialmente" nas relações, sem se envolver ou se esforçar para dar certo. "A pessoa adota esse método de defesa para não sofrer tanto quando o novo relacionamento acabar", aponta Yuri Busin, psicólogo, doutor em neurociência do comportamento e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME). A melhor saída é sinceridade, revelando ao novo par os sentimentos e angústias. "Os parceiros não são iguais nem se comportarem da mesma forma", acrescenta Yuri.

Estigma de perdedor

Por causa da trajetória de vida, dos romances anteriores ou até mesmo nas relações familiares experimentadas desde a sua infância, é possível que a pessoa estabeleça um script de perdedora, numa condição de inferioridade. Desta forma, acha que todo relacionamento será um fracasso e acaba se autossabotando. "A primeira necessidade é a pessoa se conscientizar e refletir sobre isso. Na maioria das vezes, vai precisar de um acompanhamento terapêutico, a fim de encontrar uma nova configuração e conseguir quebrar o script que traçou para ela mesma e ter chance de ser bem-sucedida no próximo relacionamento", aponta Luiz Francisco Jr., psicólogo e professor da Fadisp.

Crenças limitantes e autoestima baixa

Viver em uma sociedade machista impacta demais. Como lembra a sexóloga Virginia Gaia, existe um condicionamento de que a mulher é a escolhida - ou seja, não é ela quem escolhe o par. "Assim, desenvolve uma sensação de que precisa agradar sempre. E isso vai criando um monstro dentro dela, pois se os relacionamentos nunca dão certo, começa a se enxergar como não sendo boa o suficiente e vai achar que sempre o par vai abandoná-la", descreve a especialista. A autoestima despenca. De acordo com Virginia, o trabalho é mudar esse mindset, num processo de autoconhecimento e autonomia. "É uma mudança de postura, assumindo que ela é personagem principal da própria história", finaliza.

Carreira é mais importante

Desgaste, tristeza ou qualquer tipo de emoção negativa são alguns dos sentimentos que comprovam que há algo de errado e levam à autossabotagem nos relacionamentos. Entre os fatores desencadeadores pode estar, ainda que inconsciente, o desejo de se dedicar à vida profissional em detrimento da pessoal. A melhor forma de identificar isso é o autoconhecimento, segundo Heloísa Capelas, especialista em inteligência emocional e diretora do Centro Hoffman. Também é necessário apostar no que se tem de melhor, adotar uma postura positiva, saber reconhecer erros e libertar-se de crenças que limitam. "Só conseguimos dar ao outro aquilo que já temos para nós mesmos, o que quer dizer que só podemos oferecer amor se, dentro de nós, houver amor-próprio suficiente", opina.

Avanços da tecnologia

Até algumas décadas atrás, conhecer alguém costumava acontecer apenas pessoalmente. Hoje, com tantas possibilidades virtuais (sites de encontro, apps de relacionamento), o leque de opções parece ser muito mais amplo. "Devido a esse poder de escolha, os indivíduos já começam as relações com a ideia de que 'se não der certo, é só abrir o menu, que tem outro na lista'", comenta Moisés Luz, psicólogo clínico. É claro que não há problemas em usar tais ferramentas, mas quem recorre a esses meios tem de estar ciente de que os vínculos de confiança são frágeis e que se há fila, há dos dois lados. "Ambos têm que saber zerar os contadores para que o relacionamento prospere", avisa Moisés.

Pressa no "felizes para sempre"

A rapidez com que as pessoas trocam de relacionamento também reflete na falta de comprometimento em novas relações, como argumenta William Ferraz, especialista em neurolinguística e diretor do Instituto Ideah. "Percebemos que a duração dos relacionamentos é cada vez menor, já que as pessoas buscam o tão propagado 'felizes para sempre'. Entretanto, na maioria das vezes, elas não se entregam realmente a isso", pontua. Repetindo padrões antigos, sem realmente estarem abertas ao novo ciclo, entram nas relações sem grandes pretensões. Conforme William, o que falta é flexibilizar opiniões e aceitar mais as diferenças. Assumir a posição do outro, que não se pode ter razão sempre e que opiniões são distintas são os primeiros passos para quebrar esse padrão de começar algo já pensando no fim.

Padrões emocionais de repetição

Existem pessoas que se autoclassificam como "dedo podre" por nunca acertarem na escolha dos crushes. Assim, mantêm-se resignadas com o fadado fim do romance. Isso tem a ver com padrões de repetição. "Todos os nossos padrões são repetidos a partir das informações que 'aprendemos' na nossa infância. Precisamos identificar os gatilhos que disparam esses padrões para poder desconstruí-los", diz Alexandre Pedro, psicanalista, master practitioner de PNL e hipnoterapeuta. A dica é fazer uma lista do que considera importante numa relação, como:

  • O que o crush precisa ter? (qualidades e comportamentos fundamentais)
  • O que ele não pode ter? (defeitos ou características que você não aceita ou que colocariam a relação em risco)
  • Quais os plus? (quais características extras do parceiro somam pontos)

Materializando suas ambições, é mais fácil perceber essas características importantes antes de, mais uma vez, repetir os padrões anteriores. Também pode propor ao crush que faça uma lista idêntica. Depois, podem discuti-las, de maneira madura e saudável, para perceberem o grau de afinidade, antes de definirem se a relação vai se transformar em algo mais sério ou se será apenas uma bela amizade.