Topo

Rafa Brites contra a culpa da maternidade: "Mãe também pode dançar funk"

Rafa Brites: "a sociedade tem mania de colocar a mãe em um lugar imaculado, então a mãe não pode mais ser sensual ou sexual" - Reprodução/Instagram
Rafa Brites: "a sociedade tem mania de colocar a mãe em um lugar imaculado, então a mãe não pode mais ser sensual ou sexual" Imagem: Reprodução/Instagram

Débora Miranda

Colaboração para a Universa

06/04/2019 04h00

Após anunciar o fim de seu contrato com a Globo, onde atuava desde 2014, Rafa Brites está passando por um momento de transição profissional. A ex-repórter do "Mais Você" e ex-apresentadora do "SuperStar" diz que queria trabalhar com um conteúdo mais autoral e, fora da emissora carioca, decidiu criar o projeto motivacional Transformando Sonhos em Realidade.

Traçar metas e trabalhar para realizá-las foi algo que Rafa aprendeu cedo, aos 11 anos, quando o pai, empresário, inscreveu a família em um programa que ensinava justamente isso.

"Meu pai entendeu que se as metas de uma empresa funcionam assim, as pessoas também deveriam se organizar emocionalmente e financeiramente. E a gente repetiu esse trabalho todos os anos. Eu cresci achando que isso era normal e que todas as famílias faziam isso", conta a apresentadora, que participa neste fim de semana da transmissão do festival Lollapalooza no Multishow.

As mulheres, segundo Rafa, são seu maior público --representam 72% de seus seguidores nas redes sociais. E, por isso, um dos temas importantes no processo motivacional é a maternidade. "Quando eu tive o Rocco, comecei a escrever relatos sobre o meu dia a dia, que, na verdade, são a 'desromantização' da maternidade. Muitas vezes, as pessoas em quem a gente se inspira não relatam a maternidade da maneira real, com todas as suas delícias e também as suas dificuldades."

Em entrevista à Universa, Rafa fala de como lidar com a culpa, da importância de dar continuidade à vida afetiva, sexual e social após maternidade e também dos próprios sonhos que ainda quer transformar em realidade.

Universa: Você está passando por mudanças em sua vida profissional. Como foi esse processo de deixar a Globo e encerrar esse ciclo? A decisão partiu de você?

Rafa Brites: Na verdade era uma conversa que eu e a emissora vínhamos tendo desde o ano passado, quando eu saí do "Video Show". Começamos a ver quais eram os pontos que ainda tínhamos juntos, o que a empresa tinha a me oferecer e o que eu tinha de interesse também. Neste ano, tivemos outra conversa e não achamos nenhum projeto que se encaixasse nisso. Mas saí deixando portas abertas. Agora já estou no Multishow, que faz parte do Grupo Globo. Ou seja, foi uma saída tranquila. Eles sempre tiveram muito carinho comigo.

Você diz que não tinha nenhum projeto que se encaixava no que você esperava. Com que você queria trabalhar?

Eu nunca apresentei um projeto à Globo, mas, hoje em dia, eu realmente tenho vontade de fazer um conteúdo mais voltado para comportamento, autoliderança, um conteúdo mais motivacional. Tenho vontade de trabalhar com coisas mais autorais. E saí da Globo para tocar um projeto meu que se chama Transformando Sonhos em Realidade, que é uma empresa de produção de conteúdo motivacional e metodologias de autoliderança para ajudar as pessoas a concretizarem seus sonhos. É algo que faço desde os 11 anos de idade com a minha família e que, na minha vida pessoal, fez muita diferença.

Você faz isso desde os 11 anos?

Quando eu tinha 11 anos, os meus pais juntaram a minha família para participar de um evento chamado Transformando Sonhos em Realidade. Nesse evento, a gente, por meio de uma metodologia chamada Self Management Leadership, aprendeu a escrever os nossos sonhos e depois, por meio de objetivos e metas pontuais, realizá-los. Meu pai é empresário e ele entendeu que se as metas de uma empresa funcionam dessa forma, as pessoas também deveriam saber se organizar emocionalmente e financeiramente.

E a gente repetiu esse trabalho todos os anos. Eu cresci achando que isso era normal e que todas as famílias faziam isso. Agora que eu cheguei à vida adulta, vi o quanto isso foi importante para mim. Então, eu saí da Globo para me dedicar a essa empresa multiplataforma de conteúdo motivacional. A gente vai ter eventos presenciais, canal no YouTube, programa de TV --ainda não posso divulgar onde-- e um aplicativo. É uma empresa bem grande.

O seu trabalho motivacional tem algo específico voltado para a mulher?

É uma técnica que funciona para todos, porém, o público com quem eu me comunico é formado por mulheres. Nas minhas redes sociais, 72% dos seguidores são mulheres. Então, eu falo de maternidade, de finanças, de vida pessoal, de vida familiar, que é diferente da vida afetiva e conjugal. A maternidade me trouxe um público grande feminino.

Li um texto seu que falava sobre as dificuldades de seu filho em dormir. Por que é importante dividir esse tipo de experiência?

Quando eu tive o Rocco, eu comecei a escrever esses textos, relatos sobre o meu dia a dia, que na verdade são a 'desromantização' da maternidade. Muitas vezes, as pessoas em quem a gente se inspira não relatam a maternidade da maneira real, com todas as suas delícias e também as suas dificuldades. Então, falei, por exemplo, sobre a dificuldade de amamentar. Pois as campanhas sempre mostram uma mulher plena amamentando, e eu sentia dor.

Então, falo muito sobre a culpa e essa pressão psicológica. A sociedade tem mania de colocar a mãe em um lugar imaculado, então a mãe não pode mais ser sensual ou sexual. E eu falo da mãe pode sair, rebolar, dançar funk, pagode, voltar para casa e continuar sendo mãe.

Como manter essa individualidade e se livrar da culpa?

Há dois lados. Tudo do que a gente abre mão pelos filhos tem que ser uma escolha consciente, a gente não pode colocar neles o peso das nossas frustrações. Mas é importante entender que você não é mãe, depois mulher e depois profissional. Você é mulher, e a maternidade é uma parte disso. Ela não pode dominar você. Por que os filhos crescem, vão embora, e o que você, mulher, indivíduo, construiu? Profissionalmente, afetivamente? Você cuidou da sua relação? Da sua profissão? Da sua saúde, do seu corpo? Da sua viagem, da sua cultura?

A maternidade foi determinante nas suas escolhas profissionais?

Desde o primeiro dia em que eu descobri que estava grávida. A maternidade mudou as minhas prioridades. E isso desde a minha maneira de consumir à minha relação com meu corpo, a maternidade foi realmente transformador para mim. E isso não tem como não respingar na parte profissional também. Eu estar em casa --não porque meu filho precisa de mim, mas porque é o momento de maior felicidade da minha vida-- é prioridade. Então, hoje eu não posso estar em um trabalho que eu passe mais tempo na rua do que em casa. É assim que me planejo. Mas, muitas vezes, o que acontece é que a gente trabalha mais porque quer colocar o filho na melhor escola e, no fundo, o grande momento dessa criança seria ficar com os pais. Isso é científico: as crianças que recebem afeto se desenvolvem melhor ao longo da vida.

Quanto aos seus sonhos, o falta para você transformar em realidade?

Eu sempre fui uma pessoa muito privilegiada, uma criança privilegiada, uma filha privilegiada pela minha família. Conquistei a minha segurança financeira e acho que chega uma hora em que é preciso entender que, se você só quer acumular, acaba perdendo. Então, o meu sonho agora, de verdade, é dividir o meu maior aprendizado da vida.

Isso tem me dado muito prazer, realização e felicidade. Enfim, é o meu sonho profissional. Mas tem ainda lugares que eu quero conhecer, o sítio que eu quero ter... Eu tenho tudo anotado, faço isso todo ano. Eu vou montando a minha listinha e ticando. Às vezes demora dias, às vezes demora anos, mas eu nunca desisto.