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Manas jogam aqui: conheça projeto que alia arte, cidade e futebol feminino

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Imagem: Divulgação

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

06/04/2019 04h00

Promover uma reflexão sobre arte, cidade, interação do cidadão com os espaços públicos e, de quebra, pensar e incentivar o futebol feminino no Brasil. Essa é a proposta do projeto URBE SOLO, que conta com intervenções artísticas na Praça da Embaixada Nordestina, no bairro Bom Retiro, em São Paulo, deste sábado (06) até 19 de maio.

"A gente quer promover uma reflexão sobre cidade, arte e urbanismo e levantar a bandeira do futebol feminino", conta Lia Visotto, do instituto Urbe. A artista mineira Criola foi convidada pelo projeto para grafitar a quadra da praça onde acontece, gratuitamente, treinos de futebol feminino.

Quadra criola - Divulgação - Divulgação
Chão da quadra criado pela artista Criola
Imagem: Divulgação

"Minha inspiração para esse trabalho foram as mulheres. Essa quadra é feita para elas e quero que se sintam parte da obra, que só irá, de fato, fazer sentido quando as mulheres a ocuparem. Além disso minhas inspirações primárias são as minhas raízes afro-brasileiras. Parte também de um resgate da minha história que foi ocultada nos livros didáticos desde a minha infância. A arte é um instrumento de reconstrução no campo imagético de uma história que foi apagada", diz a grafiteira.

A influenciadora Letícia Muniz, criadora do projeto "Jogue como uma garota" também participará do treino.

País do futebol (masculino)

A Nike, patrocinadora do evento, vem trabalhando em parceria com a Urbe e com a LBV para mudar o sexismo no esporte que é paixão nacional. A empresa de produtos esportivos fez uma grande pesquisa sobre o panorama do futebol feminino no país.

Quadra criola 2 - Divulgação - Divulgação
Criola: "Minha inspiração para esse trabalho foram as mulheres. Essa quadra é feita para elas"
Imagem: Divulgação

"As mulheres que jogam são realmente guerreiras porque são muitos os preconceitos enfrentados: elas não conseguem fechar um time de meninas pra jogar, quando jogam com homens, são sabotadas pelos próprios pares do time. Quando crianças, os irmãos podem brincar mais na rua e elas são mais incentivadas a ficar em casa. Quando estão jogando e têm o nome delas na camisa, os caras que ficam assistindo o treino perturbam as jogadoras, ficam chamando pelo nome e gritando gostosa", enumera Mariana Baccarin, gerente de influencer marketing da Nike.

Para que mais mulheres possam jogar futebol, algumas medidas de base foram adotadas.

"Teremos um treino exclusivamente feminino semanal, aberto e gratuito. O primeiro será no Ibirapuera, nesta segunda-feira (08). Mas os locais e dias da semana serão sempre diferentes. As informações estão todas no site. Esse primeiro já está com as inscrições esgotadas e foram mais de 500 mulheres interessadas!", comemora. A iniciativa, por enquanto, está restrita a São Paulo.

Mais de um século depois, um uniforme para elas

releitura criola - Camila Cornelsen/Divulgação - Camila Cornelsen/Divulgação
Releitura de Criola da bandeira do Brasil para a Nike
Imagem: Camila Cornelsen/Divulgação

O primeiro uniforme da seleção de futebol masculina data de 1914. Em 2019, 105 anos depois, a seleção feminina de futebol ganhou, pela primeira vez, um uniforme projetado especialmente para elas. Sim, você não leu errado: até então, elas jogavam com os uniformes masculinos (inclusive nos tamanhos, pensados para eles).

"É a primeira que as mulheres da seleção brasileira vão jogar com um uniforme projetado pra elas. Uma camisa oficial da seleção feminina, cuja inspiração é uma lenda indígena de mulheres guerreiras, cheias de estrelas", conta Mariana. Os shorts também foram pensados, pela primeira vez, para a anatomia feminina.

"A gente vai pendurar umas placas super simples na quadra: 'manas jogam aqui', para que saibam que aquele espaço ali pertence também às mulheres", diz.