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Coletivo atende gratuitamente vítimas de violência doméstica em 40 cidades

Advogada ativista pelos direitos humanos Laina Crisóstomo oferece atendimento gratuito para vítimas de violência doméstica - Arquivo Pessoal
Advogada ativista pelos direitos humanos Laina Crisóstomo oferece atendimento gratuito para vítimas de violência doméstica Imagem: Arquivo Pessoal

Renata Turbiani

Colaboração para Universa

02/04/2019 04h00

Inspirada pela campanha Mais Amor Entre Nós, criada pela jornalista Sueide Kintê, com o objetivo de formar uma rede de apoio entre mulheres, a advogada feminista e ativista pelos direitos humanos Laina Crisóstomo, 32, decidiu oferecer atendimento gratuito para vítimas de violência doméstica e casos de família, como briga por pensão alimentícia, em Salvador, na Bahia.

Ela fez o anúncio em abril de 2016 em seus perfil pessoal no Facebook, e em poucos dias teve um retorno enorme, bem maior do que o esperado, mas que lhe possibilitou o encontro com mais duas profissionais dispostas a ajudar a causa: Aline Nascimento e Carolina Rola, ambas também da capital baiana.

As três montaram, então, uma fanpage na mesma rede social para divulgar o serviço voluntário. Já na primeira semana no ar, foram 5.000 curtidas. Menos de um mês depois, esse número subiu para 65.000. E assim nasceu a organização TamoJuntas.

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Laina Crisóstomo durante atendimento na TamoJuntas
Imagem: Arquivo Pessoal

Inicialmente, o objetivo era apenas o de prestar assessoria jurídica, de forma pro bono, para mulheres vulneráveis e sem condições financeiras para contratar um advogado. Porém, a grande procura e a gravidade dos casos demonstraram a necessidade de oferecer uma atenção multidisciplinar.

"Entendemos logo de cara que precisaríamos cuidar dessas mulheres de forma integral, com amparo social e psicológico. A partir disso, convidamos novas voluntárias, não apenas da área do Direito e não apenas de Salvador", relata Laina.

E o apelo deu certo, tanto que o projeto tem, atualmente, 250 profissionais envolvidas e das mais diversas áreas, como assistentes sociais, psicólogas, médicas, pedagogas e dentistas, em 23 estados e 40 cidades.

"O que buscamos não é apenas promover o acesso a justiça de forma real, sem discriminação e julgamento, mas também um acolhimento feminista, de mulheres se colocando no lugar de outras mulheres", comenta a idealizadora do coletivo, que revela ter vivenciado episódios de violência. "Quem nunca, não é mesmo? Tive um namorado controlador, que queria decidir as roupas que eu iria vestir, o que eu iria comer. Foi tanta violência psicológica que cheguei a desenvolver distúrbio alimentar".

Atendimento

Atuando sem apoio financeiro, o TamoJuntas, no primeiro ano, atendeu 5.000 mulheres. Como o serviço se espalhou pelo Brasil, Laina diz que é difícil ter um controle exato sobre os números. "Até porque algumas têm três ou quatro processos. Outras chegam até nós com advogado constituído, apenas para tirar dúvidas, e ainda têm as que nos procuram pelas redes sociais ou WhatsApp só para uma consulta rápida. Mas agora estamos tentando fazer um novo mapeamento para levantar os dados", adianta.

A advogada destaca que a maioria das assistidas pelo TamoJuntas são negras e jovens. Mas a organização também é procurada por idosas e por mães de adolescentes e crianças que sofreram abuso sexual.

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Atendimento é gratuito e atende vítimas de violência doméstica
Imagem: Arquivo Pessoal

"São muitos os casos, alguns pesadíssimos, de cárcere privado, estupro e tortura. Mas também temos histórias marcantes, como de ex-mulheres que se uniram para processar o agressor. Apesar de não termos estrutura nem recursos, temos algo que é muito potente, transformador e que fortalece a vida dessas mulheres. Acolher com feminismo, sororidade e empatia faz com que elas se sintam confiantes para seguir com a denúncia e, o mais importante, suas vidas", completa Laina.

Para saber mais sobre a organização, solicitar seus serviços ou tirar dúvidas, o contato pode ser feito pelo site (www.tamojuntas.org.br), Facebook (www.facebook.com/tamojuntas), Instagram (www.instagram.com/atamojuntas) e whatsapp (71 9 9299-0071).

Números da violência contra a mulher

Uma pesquisa recente encomendada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) ao Instituto Datafolha aponta que mais de 16 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência ao longo de 2018. Segundo as projeções realizadas a partir do levantamento, a cada hora, no Brasil, 536 foram agredidas fisicamente com socos, empurrões ou chutes e 177 sofreram espancamentos.

A maioria (76,4%) indicou que o agressor era conhecido --por exemplo, cônjuge, companheiro ou namorado (23,9%) e ex-cônjuge, ex-companheiro ou ex-namorado (15,2%). Além disso, o estudo mostrou que mais da metade das vítimas (52%) não procurou ajuda - somente 10% fizeram denúncia em uma delegacia da mulher.

Quando se trata de assédio, 37% das mulheres consultadas disseram ter sofrido algum tipo em 2018. Desse total, 32% receberam cantadas ou comentários desrespeitosos quando andavam na rua, 11,46% no ambiente de trabalho, e 7,78% foram assediadas fisicamente em transporte público.