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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Mulheres exibem cicatrizes da endometriose na web e pedem conscientização

Georgie Wileman
Imagem: Georgie Wileman

da Universa, em São Paulo

19/03/2019 16h35

Março é marcado mundialmente como o mês de conscientização e combate à endometriose, doença que afeta 1 a cada 10 mulheres como Tatá Werneck e Lena Dunham e provoca dores crônicas ao longo da vida.

Para celebrar as cicatrizes de corpos que passaram por cirurgias e procedimentos na luta contra ela, a fotógrafa britânica Georgie Wileman fotografou suas próprias marcas em um autorretrato e iniciou uma campanha nas redes sociais através da hashtag #ThisIsEndometriosis ('Isto é endometriose', em tradução livre), incentivando outras mulheres a compartilharem suas 'constelações de cicatrizes' e suas histórias para discutir a existência do problema -- e seus possíveis tratamentos.

"Tão satisfeita de poder compartilhar esta imagem com todos vocês para a minha nova série de autorretratos "Endometriose". Esta fotografia, entitulada '2014-2017' mapeia as cicatrizes das minhas cinco cirurgias e está atualmente em exibição na National Portrait Gallery [em Londres] como parte da mostra pelo prêmio Taylor Wessing de retratos. Com esta série, eu queria tentar mostrar a realidade que tantas mulheres com endometriose vivem, na esperança de gerar conscientização. Precisamos ser ouvidas, precisamos ser vistas", escreveu a fotógrafa.

Inspiradas por ela, outras mulheres decidiram compartilhar suas histórias e as marcas de seus procedimentos na luta contra a doença. Confira alguns dos relatos das mulheres participantes:

"Três cicatrizes, uma cirurgia, 19 anos sem um diagnóstico, um aborto espontâneo, inúmeros cistos e fibroses removidas, uma tatuagem escolhida para a minha cicatriz me lembrando de 'apenas respirar' nos dias em que preciso. Estou me juntando a esta campanha com os mapas das cicatrizes compartilhando que #istoéendometriose. Obrigada, George, por começar este movimento e às muitas mulheres compartilhando suas cicatrizes, cirurgias e histórias enquanto celebramos o mês de conscientização para a endometriose."

"Ontem marcou o início do mês de conscientização a respeito da endometriose então vejam esta adorável foto da minha barriga. A endometriose é uma doença que afeta o útero de uma a cada dez mulheres e causa todo o tipo de sintoma incluindo dor crônica, inflamação, aderências internas e cistos. Eu fiz uma cirurgia por causa da endometriose em 2012. Tenho apenas uma cicatriz, mas é uma montanha -- quase 19 centímetros fazendo curva ao redor da superfície do meu umbigo e correndo em direção dos meus pelos púbicos. Eu não fazia ideia de que tinha endometriose, eu achava que ciclos menstruais difíceis e incapacitantemente dolorosos, além de infertilidade, fossem apenas as cartas que recebi no jogo da vida. Um exame pélvico por acaso levou à descoberta que meu sistema reprodutivo era uma bagunça. Eu tinha um cisto crescido de 11 centímetros, entre outros, e tive que fazer uma laparotomia vertical para que tudo fosse removido. Dois meses depois da cirurgia, eu incrivelmente fiquei grávida, depois de três anos de infertilidade. A gravidez esticou e aumentou a minha cicatriz profundamente vermelha massivamente, obstetrizes olhavam duas vezes para ela e eu não queria tirar fotos da minha barriga descoberta durante a gravidez porque achava que era feita e, para ser honesta, estava com um pouco de medo que fosse estourar no fim, mas ficou tudo bem. Quase 7 anos depois, eu tenho uma criança de 5 anos e minha cicatriz mal está visível. É apenas uma faixa vertical acinzentada e quase apagada, que se mistura com todas as estrias da minha barroga. Para falar a verdade, gosto dela agora, é parte da história da minha vida marcada no meu corpo. (Apesar de que nenhum pelo nasce ali, então arruinou para sempre meu caminho da felicidade). Não há cura para a endometriose, mas para a minha sorte, a cirurgia e a gravidez melhoraram muito meus sintomas por enquanto. Mas é uma doença da qual nem nunca ouvi falar até aquele primeiro ultrassom, o que é surpreendente diante o quanto é comum. Tantas mulheres não sabem que têm ou sentem dificuldade em conseguir o tratamento que precisam porque seus sintomas não são levados a sério. Eu achava que uma menstruação dolorosa era uma coisa que você tinha que aguentar. Mas não é."

"Três cirurgias, 11 incisões, tudo dentro de cinco meses. Mais de uma década de dor antes de ser diagnosticada. Lembro da minha primeira crise com a endometriose. Minha barriga estava inchada e eu estava com tanta dor que não queria ir para a escola. Minha mãe me levou ao médico, ele colocou pressão no meu abdômen, saiu da sala e disse à enfermeira no corredor que achava que eu poderia estar grávida. Eu tinha 11 anos. Fui diagnosticada aos 25. Dizer que passei pelo inferno na terra é pouco. Médicos continuavam me dizendo que não havia nada errado, que era estresse ou ansiedade e que tudo estava na minha cabeça. Que eu estava procurando por atenção. Depois que um médico riu de mim, decidi desistir, viver minha vida e lidar com isso. Quando lhe dizem que você não está sentindo o que está sentindo, pode mexer muito com a sua cabeça, para dizer o mínimo. Me disseram que a chance de que eu tivesse endometriose era mínima, já que eu não me queixava dos sintomas mais comuns, então foram necessárias três consultas em duas semanas para que me dessem a oportunidade de uma cirurgia como último recurso Por que eu n ão tinha os sintomas clássicos de endometriose? Porque havia apenas uma aderência nos meus órgãos reprodutivos, no meu útero. Os outros 14 lugares em que foram encontrados no meu corpo eram ligamentos, parede pélvica e abdominal e no meu apêndice. Estava começando a fundir meu fígado com o cólon. No momento em que acordei, perguntei se eu tinha endometriose e a resposta foi 'sim'. Comecei a chorar e, através das lágrimas, disse para minha mãe 'eu não sou louca, achavam que eu era louca, mas eu não sou'. Se eu pudesse voltar a cada médico pelo qual passei e dizer que eles falharam comigo, eu voltaria. O dano mental que eles causaram a mim é, honestamente, imperdoável. Você pode me ver em todas as minhas redes sociais sendo barulhenta em relação à endometriose e é porque eu sei que há mulheres passando pelo que eu passei, tendo médicos que falham, e elas precisam saber que, mesmo sendo difícil, elas não devem desistir. 1 em cada 10 mulheres tem endometriose. São 176 milhões de mulheres e há apenas 200 especialistas. Algo precisa mudar."

"É hora de me juntar ao clube da constelação da endometriose. Aqui vai a minha foto."

"Porque é a) mês de conscientização da endometriose; b) fui encorajada 'a não mostrar apenas as partes boas'; c) ter levado quase um ano e seis rodadas e antibióticos inúteis antes de ser diagnosticada; d) ter superado minha segunda cirurgia em 10 anos, aqui vai minha ode à Georgie e sua fantástica campanha para aumentar a conscientização a respeito desta doença. Deem valor à saude reprodutiva das mulheres e todas aquelas que vivem com dor e desconforto todos os dias."

"Pequenas cicatrizes que os outros mal podem ver agora, do lado de fora, eles não significam tanto para os outros, mas elas tiveram um impacto massivo na minha vida toda a cada vez que olhei para elas ou senti a dor que esteve sob elas. Um lembrete do que a endometriose faz conosco e do que ainda temos a superar. Talvez, se tivessem, entenderiam. Porque sei que aquelas que têm, entendem."