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Nostalgia demais: o que fazer quando você está vivendo no passado?

Vive do passado?  - Reprodução/MCA/Universal Pictures
Vive do passado? Imagem: Reprodução/MCA/Universal Pictures

Lucas Vasconcellos

Colaboração para a Universa

18/03/2019 04h00

A onda da nostalgia tem tomado conta de nossas vidas nos últimos tempos. Desde produtos com aparência que remetem aos lançados no passado, até à novela Verão 90, que acontece na década de 1990, ou ao show especial de Sandy e Junior comemorando 30 anos de carreira.

É divertido reviver esses momentos e relembrar coisas que já não fazem mais parte da rotina. Contudo, o fator nostálgico é saudável até certo ponto -- e pode ser um problema.

"Na vida, o sentimento de nostalgia pode ser dividido em dois aspectos: um que nutre e nos alimenta da vivência positiva, contribuiu para a formação do eu, e que ao ser recordado é lembrado com carinho. O lado negativo acontece quando se tem apego ao passado. Ao relembrarmos coisas boas que aconteceram e nos impedem de enxergar algo de bom no presente e de planejar o futuro", declara o psiquiatra da Clínica Paulista de Psiquiatria e do Hospital das Clínicas de São Paulo Henrique Bottura.

De acordo com o psicólogo Yuri Busin, o passado é parte importante para a construção de quem você é hoje e de como vai encarar o futuro. Isso acontece quando você se lembra das vivências que teve, independentemente de terem sido boas ou não.

Assim, reflete e tira o que tem de melhor nelas para ajudar a seguir com sua vida.

"Nós somos a construção das experiências que tivemos, daquilo que gostamos, vivenciamos e sofremos, por exemplo. Tudo isso ajuda a gente a entender e representar o mundo que nos cerca e a definir como lidaremos com o que acontece conosco", complementa Bottura.

Medo de crescer

Viver preso no passado e apenas naquilo que foi bom não é uma doença, mas pode se assemelhar à Síndrome de Peter Pan. A síndrome é caracterizada pela grande dificuldade do indivíduo se enxergar como um adulto, alerta Yuri Busin.

"Às vezes, a pessoa relembra de algo com afeto, mas que na época não conseguia enxergar como bom. Mas com as novas experiências, que não considera satisfatórias, valorizam ainda mais esse período anterior.

A interpretação do passado tem um papel importante na vida, que é ajudar a viver melhor. Quando não há esse tipo de leitura do período que já passou, não é saudável ficar revivendo. Se você não consegue ver nada de bom no hoje, não consegue assumir responsabilidades, a nostalgia se torna tóxica", explica.

Quem vive de passado envelhece mais rápido

Nosso corpo sente tudo. Até quando insistimos em olhar excessivamente para o passado e viver de nostalgia. "O nosso organismo biológico envelhece com o tempo, isso é fato. Mas dentro da vivência, o envelhecimento não necessariamente anda com a biologia. Quem é rígido, apegado ao passado, está menos disposto a mudar, ficam velhos mais rápidos, se comparados às pessoas que experimentam aprender, mudar de visão.", afirma o psiquiatra Henrique Bottura.

E agora?

Se você é desses que vivem do passado, é preciso trabalhar para reverter esse quadro. E nesse caminho, a ajuda de um profissional pode ser essencial. Mas você também pode se ajudar: uma das dicas é refletir diariamente. No final do dia, por apenas cinco minutos, como sugere Yuri Busin, pare para pensar em tudo que aconteceu no dia atual. Desde um abraço recebido ou vídeo que fez você dar risada.

"Se há dificuldade em fazer isso, coloque um alerta no celular, por exemplo. Reserve cinco minutos para enxergar coisas boas e ficar atento ao presente", conclui.