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Com Down, ela se formou em pedagogia: "Ouvi que nunca iria aprender"

 Flavia Carvalho se formou em pedagogia no início de 2019 - Arquivo pessoal
Flavia Carvalho se formou em pedagogia no início de 2019 Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Souto

Da Universa

25/02/2019 04h00

Natural de Barra Mansa, no Vale do Paraíba (RJ), Flavia Carvalho cresceu observando a mãe, uma professora, em sala de aula, e escolheu seguir a mesma carreira. Mas teve dificuldades para se matricular na faculdade: com síndrome de Down, só foi aceita depois que a mãe reuniu a direção da unidade e se matriculou com ela para ajudá-la. Aos 23 anos, com diploma na mão e o primeiro emprego conquistado, ela fala sobre como vence essa batalha diariamente.

Segundo dados do Censo da Educação Superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em um período de dez anos, entre 2004 e 2014, o acesso de pessoas com deficiência ao ensino superior subiu 518,66% (de 5,4 mil a 33,4 mil). 

"Desde cedo tive dificuldade para ser aceita nas escolas. Falavam que não estavam preparadas para crianças com Down. E quando, enfim, minha mãe conseguiu fazer minha matrícula, não havia ninguém para me ajudar. Eu contava com a boa vontade de alguns professores.

E ouvia coisas pesadas. Uma professora, por exemplo, disse que não havia necessidade de me ensinar porque eu nunca iria aprender. Minha mãe sempre me ajudava e choramos muitas vezes juntas.

Tive também poucos amigos. Cheguei a ter algumas paqueras na escola, mas minha mãe disse que era para focar nas aulas. Então, agora, posso namorar porque não estou mais estudando. Mas ainda não rolou.

Quando fiz o vestibular, por duas vezes precisei escrever uma redação, porque insistiram que o meu texto não era como o dos outros, e não me aprovaram. Nos reunimos com os responsáveis para cobrar explicações. Como era a primeira pessoa com Down na faculdade, acho que viram nisso algum problema. Mas consegui me matricular. 

Minha mãe também entrou comigo na faculdade, para me ajudar. Ela ficou até o segundo período. Depois segui sozinha.

Faço coisas normais como qualquer outra pessoa: gosto de viajar, dançar, assisto televisão, vou sempre a festas. E comecei num emprego como auxiliar de audiovisual numa grande escola particular em Barra Mansa. Estou no período de experiência.

Recebi ainda um convite da UFF (Universidade Federal Fluminense) para um mestrado. Vou me dedicar aos trabalhos na área da inclusão, porque há uma dificuldade em achar profissionais capacitados para trabalhar com as pessoas com deficiência.