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Elas ficam com homem casado: "Tenho raiva, ciúme e pena da mulher dele"

Mulheres contam experiência de ficar com homem casado - Getty Images
Mulheres contam experiência de ficar com homem casado Imagem: Getty Images

Luiza Souto

Da Universa

14/02/2019 04h00

Uma mulher entrou no grupo de discussão para contar que se apaixonou pelo amante, um homem casado. Pediu conselhos sobre o que fazer e frisou: "sem julgamentos e mais empatia". Não foi atendida: ela recebeu mais de 300 mensagens, a maioria com palavras de ódio, algumas sugerindo que a mulher que não protege as outras -- nesse caso, aquela que não pensa na traída -- é egoísta. Quem vive essa situação, no entanto, pondera: algumas pensam, sim, na mulher do amante e também sofrem pela situação. Outra parte, é verdade, diz que não está "nem aí". À Universa, sob condição de anonimato, elas contam essa experiência e o que aprenderam com ela.

"Sinto culpa pela mulher dele e pela filha"

Fiquei por três anos com o gerente da lanchonete onde trabalhava. Eu sabia que ele era casado, mas disse que não tinha mais nada com a mulher e que estavam juntos somente pela filha. Tanto que amigos em comum e até a família dele sabiam da nossa relação.

Saíamos sempre, conversávamos diariamente, e em nenhum momento parecia que ela existia, porque nos encontrávamos a hora que fosse. Ele sempre me levava em motéis caros e fazíamos bons passeios. Até que um dia me contou das dívidas: não pagava mais a escola da filha, nem as parcelas do apartamento onde morava ou do carro. Percebi ali o quanto eu fui egoísta, porque ele deixava de pagar as contas em casa mas gastava R$ 500 só de motel comigo.

Nunca mais quis saber dele. E aprendi a não mais me envolver com uma pessoa comprometida, ou acreditar nesse tipo de homem, porque só eu sei a culpa que sinto pela mulher e filha dele terem passado por essa situação. Hoje, eles têm mais um filho. E ele não recuperou o que perdeu. Ainda levo o peso de ter participado dessa palhaçada comigo. Mesmo estando casada, ele ainda tenta me ver hoje em dia.

Ana, 27 anos, auxiliar de enfermagem

"Às vezes tenho pena, às vezes raiva"

Já saí com homens casados e nunca pensei na mulher. Na verdade, estou nem aí. Há dois anos me envolvo com um homem comprometido, e acabei me apaixonando. Então, tem dias que sinto pena da mulher dele. Em outros, ciúme. Tem dias que a admiro, dias que quero que ela suma. É uma montanha russa de emoções. E ele já me avisou que não vai terminar para ficar comigo, porque o relacionamento é estável. E eu também sou casada, tenho duas filhas -- uma separação não seria fácil. Mas não me arrependo e sairia novamente com um homem casado, com o cuidado de não me apaixonar, porque é mais sofrimento que prazer.

Bárbara, 35 anos, administradora de empresas

"Transava na cama deles"

No início do meu relacionamento com um homem casado, não me preocupei com sua mulher, pois não a conhecia e estava numa fase de não querer relacionamento. Só queria sair com alguém fixo e que fosse gostoso. Quando ele falou que era casado, me incomodou um pouco, mas não acho que terceiros precisam cuidar dos relacionamentos alheios, então não me senti culpada. Tive um relacionamento anterior onde o parceiro foi completamente negligente em relação a minha libido e acabei traindo. Não acho certo julgar quem faz isso.

Nos relacionamos por uns quatro meses e foi ótimo. Ele começou a tentar me controlar e pulei fora. E conhecendo-o melhor achei sua mulher burra e sem autoestima por continuar com ele. O homem sempre a traía e ela sabia de alguns casos. Ele contava que ela não gostava de sexo. Nesse caso, acredito que a pessoa merece a traição. Tanto que gostava de transar com ele na cama dos dois. Aumentava meu tesão. Mas era só diversão para mim. Nunca teria sentimentos por um homem desses.

Não tive estômago para continuar, mesmo o sexo sendo ótimo. E às vezes tenho vontade de contar tudo para ela, por pena. Lógico que não é certo, né? Queria que todas as mulheres se libertassem desses canalhas e só os usassem, assim como eles fazem conosco. Talvez uma hora eu conte.

Geni, 35 anos, gestora ambiental

"Me coloquei no lugar dela"

Reencontrei um ex-vizinho, já casado e com um filho. Eu gostava dele quando mais nova e conheço sua mulher. Ela é próxima a minha família. Quando revi seu sorriso, relembrei todo o encanto, e do nada nasceu um grande amor. Mas guardei para mim até me sentir sufocada e acabei me declarando. Ele me respondeu na mesma proporção e me entreguei de corpo e alma. A mulher descobriu e o marido acabou confessando. Ele até falou que ia embora de casa, mas ela não aceita. Já até veio conversar comigo. Fiquei com pena e nesse momento me coloquei em seu lugar. Ela o ama demais e está lutando por aquilo que ela acha que é dela. Então vou deixar as coisas acontecerem naturalmente. Resolvi não encontrá-lo mais. Sei que estou errada, mas o que é certo nessa vida? Me sinto muito mal com essa situação.

Beatriz, 30 anos, maquiadora

"Amor próprio, acima de tudo"

A psicanalista e especialista em família Renata Bento ensina que antes de qualquer escolha que fazemos na vida é preciso amor próprio. É ele, aponta a profissional, quem vai nos direcionar numa renúncia a uma relação que se deseja muito, ou mesmo ajudar a definir qual é o modelo de união ao qual desejamos.

"As pessoas entram nessas relações pelos mais diversos motivos, e às vezes sem conhecimento do estado civil do outro. Outras necessitam ter relações extraconjugais para conseguir manter o vínculo do casamento. Mas se a relação traz mais sofrimento do que bem estar, é preciso ser repensada. É difícil, mas não impossível abrir mão. Acreditar que irá mudar o outro para ser o que se deseja é um grande equívoco".

Ela fala ainda sobre a falada sororidade, quando mulheres têm empatia umas pelas outras.

"Às vezes também pode haver uma competição com o lugar que a mulher oficial ocupa na vida desse homem. E isso é muito delicado. É importante desenvolver a empatia, que é a arte de se colocar no lugar do outro e pensar como se sentiria se acontecesse com ela", finaliza.