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Quem foi a destemida e poderosa rainha conhecida como "Cleópatra" de Angola

A atriz Lesliana Pereira em "Njinga Rainha da Angola", filme de 2013 - Reprodução
A atriz Lesliana Pereira em 'Njinga Rainha da Angola', filme de 2013 Imagem: Reprodução

Marcos Candido

Da Universa

11/02/2019 04h00

O ano era 1630. Portugal expandia seu império sobre a África e continuava a escravizar negros africanos para conquistar o continente. Foi quando uma rainha, conhecida pela habilidade estratégica e militar, uniu tribos antagônicas para impedir o avanço do controle português.

Jinga, a rainha de onde hoje é a Angola, é lembrada como uma destemida e habilidosa mulher da história africana, cujos métodos iam da conciliação com grupos conhecidos pela crueldade e canibalismo a manobras diplomáticas. Sua história, explorada em crônicas, poemas e filmes é revisitada em "Jinga de Angola - a rainha guerreira da África" (Editoria Todavia, R$ 89), lançado em janeiro no Brasil.

Para liderar o reinado africano, Jinga inclusive casou-se com um homem e obrigou seu marido a usar roupas femininas. Seus seguidores, então, foram obrigados a considerá-la homem.

"Jinga de Angola - a rainha guerreira da África", de Linda M. Heywood, acaba de ser lançado pela editoria Todavia - Divulgação - Divulgação
"Jinga de Angola - a rainha guerreira da África", de Linda M. Heywood, acaba de ser lançado pela editoria Todavia
Imagem: Divulgação

Após ter campanhas militares bem sucedidas contra europeus, Jinga ganhou uma fama complexa. Era retratada por católicos europeus como uma pagã violenta e impura, mas seus similares africanos, porém, passaram a cultuá-las como uma grande e histórica guerreira.

No auge de seu reinado, na década de 1640, Jinga governava quase um quarto do que é o norte de Angola nos dias de hoje.

Diferentemente das mulheres reais de seu tempo, Jinga foi ensinada à diplomacia e aos ensinamentos militares desde a infância. De 1518 até 1582, quando Jinga nasceu, os quatro reis anteriores foram homens. Ela foi a primeira a governar o país.

Fora dos padrões de gênero

A sexualidade de Jinga não cabia nos padrões de gênero dos europeus, que acusaram a rainha de rejeitar papéis considerados de mulher, como criar e cuidar de filhos de ir à guerra para "assassinar bebês e trucidar seus inimigos".

Os conflitos entre o reino de Jinga e os portugueses tinham como principal elemento a escravidão e o envio forçado de negros para servirem como escravos nas Américas.

Guerreira de armas

Jinga, de fato, ia ao campo de batalha até passar dos 70 anos de idade. É possível que ela tenha aprimorado as técnicas de guerra ao participar de campanhas desastrosas de seus irmãos, antes mesmo de assumir o trono.

A sexualidade também foi um tema explorado pelos portugueses para atacá-la. Além seus concubinos e amantes que teve durante a vida, se casou com um homem bem mais novo quando tinha mais de 60 anos de idade.

Usava penas coloridas no cabelo.

Por três décadas, Jinga desafiou treze governadores portugueses entre 1622 e 1663. Tudo isso, graças à diplomacia feita com povos que eram evitados devido à fama de crueldade e canibalismo. E também, resistindo e manobrando como podia a influência católica vinda da Europa. Enquanto viveu, ela manteve o reino de Matamba e Ndongo, atual Angola, independentes.

A autora da biografia, Linda M. Heywood, professora da Universidade de Boston, diz que a influência de Jinga na história angolana persiste em espírito de resistência política, cultura e também é um marco para a história violenta da África.

"Sua história revela temas maiores de gênero, poder, religião, liderança, colonialismo e resistência", escreve a autora.