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Por que o discurso de Carlinhos Maia ao se assumir gay é homofóbico?

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Gustavo Frank

Da Universa

06/02/2019 16h10

O youtuber Carlinhos Maia, conhecido como "Rei do Instagram", por ser o segundo usuário com mais visualizações nos Stories do mundo, ficando atrás apenas de Kim Kardashian, chamou a atenção do público ao publicar vídeos e fotos se assumindo gay no último domingo (3).

No entanto, a saída do armário do influencer alagoano causou incômodo na comunidade LGBTQ nas redes sociais. O motivo? Dentro da declaração, Carlinhos soltou algumas frases de cunho homofóbico - provando que homens gays podem, sim, ter esse tipo de comportamento.

Algumas delas foram:

  • "Eu sou um gay que gosta de ser homem"
  • "Seja gay, mas seja homem"
  • "Vocês não vão ficar vendo amasso entre homens por aqui"
  • "Gay não precisa ficar passando batom"
  • "Vocês gays estão criando a ditadura gay"

E a reações dos LGBTQ+ no Twitter foram essas:

As falas são problemáticas por si só porque reproduzem discursos heteronormativos sobre como os gays devem se comportar. Aquela velha declaração de que "tudo bem ser gay, mas tem que ser discreto" -- que muitos homens homossexuais já devem ter ouvido por aí

Essa foi a deixa para a página "Quebrando o Tabu", no Instagram, publicar um vídeo, apresentado pelo youtuber Vitor diCastro, que também é gay, explicando a razão para que a declaração do Carlinhos Maia seja considerada homofóbica.

"O Carlinhos é um gay, como a maioria dos gays pelo mundo, que está rodeado de heterossexuais e que provavelmente por não ter muitas referências homossexuais, tem uma visão distorcida do que é o movimento LGBT e quais são os limites que cercam a vida de um homossexual."

"Quando tudo na sua vida é heterossexual, quando você só anda com amigos heterossexuais, quando você liga a TV e só vê representações de uma vida heterossexual, enfim, fica muito difícil você encontrar o seu lugar de fala como gay. Fica muito difícil você se empoderar como LGBT."

"Não é justo que um gay reproduza um discurso que oprime ele mesmo. Ou você acha que alguém com a relevância do Carlinhos Maia com o trabalho que ele tem que exige que você exponha a sua vida, vai ser plenamente feliz escondendo uma parte tão importante que é a sexualidade?"

"Você acha que esse é um tipo de medo que a militância coloca na cabeça dos gays ou a maioria dos gays esconde a sexualidade por saber os perigos que correm?"

"Quando eu ouço ele falar sobre gays (...) não parece uma pessoa que de fato tem consciência do que diz, tem consciência do que é o universo homossexual. Porque você falar que ser gay é lindo, é colorido, é arco-íris. É você fechar os olhos para a realidade."

"A gente pode ser tudo isso sim, mas tem um outro lado que é muito importante ser pontuado. Ninguém inventa os números pra dar medo na cabeça de ninguém. Ninguém fica numa sala fechada falando: 'Já sei vamo inventar que todo homossexual tem 4 vezes mais chance de cometer suicídio que um heterossexual?'"

"O próprio Carlinhos sabe que se não fosse o movimento LGBT ele não poderia nem estar se assumindo publicamente, muito menos poderia estar marcando um casamento com o noivo dele."

"Heterossexuais nunca vão saber com precisão como é ser um gay. Então cabe a nós como gays falar sobre isso, com responsabilidade. Não dá para ser chaveirinho de hetero e só reproduzir discurso heteronormativo. Os LGBTS são vistos como uma categoria inferior. Se você quer se destacar, você ou vai se fingir de hetero ou você vai ter que se esforçar muito mais."

Veja a íntegra do vídeo:

E o mais importante da história aconteceu depois da explicação. Carlinhos Maia afirmou ter visto o vídeo e ter se conscientizado sobre a dificuldade da desconstrução.

"Tentarei dia após dia ser uma pessoa ainda melhor e não quer dizer que não voltarei a errar, porque isso sera impossível até o momento que eu continuar sendo humano igual a todos aqui".