Topo

"Não gosto de sexo anal": mulheres se sentem pressionadas a curtir prática

Sexo anal se tornou "troféu" de vida sexual bem resolvida - Getty Images
Sexo anal se tornou "troféu" de vida sexual bem resolvida Imagem: Getty Images

Natália Eiras

Da Universa

03/02/2019 04h00

"Só compro o seu presente se você fizer anal". Era desse jeito que o ex-namorado da babá Thayane Campos, 20, do Rio de Janeiro (RJ), às vezes brincava com ela. Infelizmente, a jovem não está sozinha. "Pelo menos 80% das minhas clientes fizeram sexo anal porque foram pressionadas pelos parceiros", comenta a sexóloga e sex coach em produtos eróticos Vanessa Inhesta. Porém, a pressão não para por aí: entre os mais "saidinhos" na cama, mulheres que não topem a prática podem ser vistas como sexualmente mal resolvidas. "Tem um grande mito de que, se uma pessoa gosta de sexo, ela tem que gostar de absolutamente tudo. Mas vamos sempre preferir algo. É normal. Não existe problema nenhum em não gostar de alguma prática", fala a sexóloga com abordagem holística Virginia Gaia. 

Segundo a especialista, o sexo anal se tornou motivo de pressão por ser um tabu de duas formas diferentes: além de muitas mulheres ainda terem medo de experimentar, a prática virou uma espécie de fantasia tida como algo que todo mundo deveria experimentar para ser feliz. "Obter o sexo anal se tornou o novo desafio do conquistador e, para a mulher, virou mais uma prova de intimidade e satisfação sexual", explica Virginia. 

O assunto sexo anal surgiu na cama da assistente administrativa Luna Schulz, 20, de Três de Maio (RS), e do namorado de forma natural, sem pressão da parte dele. "Sempre foi tudo conversado e respeitado por ambos", fala. Ela experimentou e sentiu prazer, mas, ainda assim, achou "sem graça". "Preciso me preparar muito e não acho tão bom. Para mim, não vale a pena", pontua. A jovem percebe que rola uma certa estranheza quando diz que não gosta de sexo anal. "As pessoas acham que, se você faz determinadas práticas, você deve, obrigatoriamente, curtir anal. Como se você tivesse que ser aberta a qualquer coisa", diz. 

Vanessa Inhesta explica que o sexo anal, quando feito de maneira correta, pode ser prazeroso para mulheres. "O ânus tem diversas terminações nervosas que são estimuladas pelo pênis. Na penetração, o órgão também massageia o clitóris, o que dá prazer", afirma. Nem por isso a prática é importante para todas elas. "Conheço algumas mulheres que tiveram o desejo, a relação anal, mas não fazem mais. Porque simplesmente não mudou a vida delas sexualmente", diz. A própria Vanessa se inclui neste grupo: "Foi realmente muito bom, mas não foi algo que eu quero fazer sempre. Eu gosto muito mais e tenho mais desejo pelo sexo vaginal e pelo oral. Foi gostoso, vou fazer de novo? Quando tiver vontade", complementa. 

Boa de cama?

Estar a fim de fazer sexo anal é o ponto crucial para que a relação seja prazerosa para todo mundo. "É preciso estar relaxada e à vontade. Por isso, o casal precisa criar toda uma situação gostosa, a mulher tem que conhecer bem o próprio corpo e a pessoa que fará a penetração precisa saber o que está fazendo", diz Vanessa. Por sinal, a falta de habilidade pode ser a principal razão de tantas mulheres não curtirem o anal. Tanto que as especialistas aconselham para que elas tentem mais de uma vez antes de chegar a um veredicto. "Tem muito homem por aí querendo fazer, mas não faz ideia de como fazer nem quer aprender", fala Virginia. 

Isso porque o sexo anal é uma "cobrança" que cai principalmente nas costas das mulheres. "Penetrar o homem também pode ser uma fantasia bastante prazerosa para a parceira, mas, se ela propõe e o companheiro nega, não há tanta pressão", diz a sexóloga. "Existe essa ideia de que quem é boa de cama faz tudo o que o outro quer. É uma coisa ainda de servidão, de agradar o homem", comenta Virgínia. 

Thayane acabou cedendo aos apelos do namorado, principalmente porque havia aprendido com a avó que mulher "tinha que segurar homem". Não curtiu. "Eu nunca tinha sentido vontade e não sinto até hoje", diz. A artesã Gabriela Barzotto, 30, de Cuiabá (MT), também foi pressionada por ex-namorados e pelo atual marido. Tentou fazer o sexo anal por três vezes e desistiu. "Percebi que não gosto e pronto. Falei para o meu marido que se ele quisesse alguém que faz, que ele arranjasse outra mulher", brinca. 

Para Gabriela, Thayane e Luna, elas terem certeza que não gostam da prática é consequência do autoconhecimento e da segurança em sua sexualidade. "Conseguimos ser realizadas quando sabemos o que nos dá prazer e o que não dá. Independente do tipo de sexo", fala a artesã. "Se o camarada só faz anal, amiga, você mostra o seu bumbum para ele. Quando estiver saindo pela porta. Linda e plena", finaliza Luna.