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Ela saiu da periferia para os EUA e ajuda outros jovens a fazerem o mesmo

Ariane Noronha, 28, fez a iniciativa Soul Bilingue após ver vida profissional mudar ao fazer intercâmbio - Andre Pereira/Divulgação
Ariane Noronha, 28, fez a iniciativa Soul Bilingue após ver vida profissional mudar ao fazer intercâmbio Imagem: Andre Pereira/Divulgação

Natália Eiras

Da Universa

21/01/2019 04h00

Filha de uma manicure e de um funcionário de almoxarifado, Ariane Noronha, que trabalhava como secretária de um shopping center aos 15 anos, não imaginava que um dia poderia realizar o sonho de fazer um intercâmbio e aprender outro idioma. "Eu achava que era coisa de gente rica", diz, à Universa, a jovem de Mogi das Cruzes, cidade da região metropolitana de São Paulo (SP). Aos 23, ela descobriu que poderia morar nos Estados Unidos em um programa em que trabalharia como babá. Mas outros adolescentes que cresciam nas mesmas condições que ela não saíram da sua cabeça. "O intercâmbio foi um divisor de águas na minha vida. Abriu um mundo de oportunidades, e é importante que mais jovens da periferia saibam disso", conta. 

Atualmente, aos 28 anos, Ariane está formada em jornalismo, mas tem concentrado seus esforços no projeto Soul Bilíngue, onde ela dá aulas de inglês gratuitas para jovens de baixa renda que queiram fazer um intercâmbio. "Eu queria usar o idioma para ajudar as pessoas", fala a jovem, que, inicialmente, apenas lecionava a língua na ONG Gerando Falcões, onde fica a Soul Bilíngue, em Poá (SP).

"Eu via que esses jovens também queriam fazer intercâmbio, mas não tinham informações, não sabiam que poderiam morar fora trabalhando como babá, por exemplo. Para eles, era algo muito distante, mas queríamos que eles entendessem que o mundo pertence a todos. Então decidimos criar uma iniciativa para orientá-los e prepará-los para um intercâmbio". 

O projeto, idealizado no fim de 2017, atende jovens dos 17 aos 25 anos, que morem em regiões periféricas e que tenham estudado em escolas públicas. Para entrar na iniciativa, eles não precisam ter o inglês na ponta da língua, mas é necessário uma certa desenvoltura. "Mandamos um texto e um áudio para eles lerem e ouvirem. Se eles conseguissem se virar, entravam", explica Ariane. 

A primeira turma contou com 11 alunos que teve aulas de agosto a dezembro, das segundas às quartas-feiras. Eles tinham imersão em inglês, mentoria com brasileiros que moram no exterior e com estrangeiros, aulas de planejamento financeiro e atendimento psicológico. "Damos instrumentos para que eles possam criar a autoestima para entender que o mundo é deles também", afirma Ariane. A Soul Bilíngue também faz integração entre os pais e os jovens. "A gente mostra para eles a importância de fazer um intercâmbio e como não é que impacta diretamente a vida profissional e pessoal deles", fala a idealizadora. 
 
Os participantes disputavam colocações em um ranking. Em vez de boas notas, o que fazia eles ganharem pontos era presença nas aulas, não chegar atrasado, fazer lições de casa e participar das mentorias. "São jovens que podem não ter condições, mas sabem que é uma questão de agarrar oportunidades. Uma das alunas andava quase duas horas de Suzano [cidade próxima a Poá] até a ONG para fazer o curso, porque ela não tinha condições de pagar a condução", narra Ariane. 

Ariane (ao centro, de amarelo) com alunos da primeira turma do projeto, que se formou em dezembro; neste ano, projeto terá 100 novos participantes - Andre Pereira/Divulgação - Andre Pereira/Divulgação
Ariane (ao centro, de amarelo) com alunos da primeira turma do projeto, que se formou em dezembro; neste ano, projeto terá 100 novos participantes
Imagem: Andre Pereira/Divulgação

Dos 11 alunos da primeira turma da Soul Bilíngue, sete conseguiram bolsas para morar um mês na Austrália, Nova Zelândia e Canadá para aprender inglês, com todos os custos inclusos --com recursos obtidos em parceria com empresas privadas. "Eles estão muito animados porque eram jovens que não tinham perspectiva nenhuma de viajar". Neste ano, Ariana disse que a iniciativa terá duas turmas e deve atender, ao todo, 100 alunos e distribuir 20 bolsas de intercâmbio. 

Os quatro alunos que não conseguirão viajar na primeira leva devem tentar novamente na nova temporada. "Mas todos os 11 alunos ganharam o passaporte, como uma forma de incentivar mesmo quem ainda não conseguiu uma bolsa e sentirem que todos têm direito de viajar, de conhecer esse mundo".