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Reality de encontros para bissexuais estreia no Brasil

A drag queen Courtney Act apresenta o reality show "The Bi Life" - Divulgação
A drag queen Courtney Act apresenta o reality show "The Bi Life" Imagem: Divulgação

Camila Brunelli

Colaboração para Universa

20/01/2019 04h00

Já imaginou um reality show onde nenhum dos participantes da casa é heterosexual? Pois ele vai estrear no Brasil -e já nesta segunda-feira. Aposta do E! Entertainment na América Latina, "The Bi Life" vai ser exibido às 20h e apresentado pelo ex-RuPaul's Drag Race, ex-Australian American Idol e vencedor do Celebrity Big Brother Reino Unido 2018, Shane Jenek. 

Também conhecido como Courtney Act quando está caracterizado como mulher - ou montado -, Jenek também é bissexual. "Quando eu me apaixono não penso em gênero", diz a drag queen logo no início do primeiro dos dez episódios do reality, enquanto anda balançando o cabelão cor-de-rosa pelas ruas de Barcelona, na Espanha.

Nada de paredão, só amor eterno 

Diferentemente de outros realities, não há prêmios ou eliminações. Segundo a organização do programa, o grande objetivo é que "eles encontrem o amor de suas vidas". Shane Jenek afirma que esse não é um programa de competição: "eles poderiam competir entre eles, mas não foi o que aconteceu. Se tornaram grandes amigos que se apoiam durante o programa".

Depois de estrear no Reino Unido e na Irlanda em agosto do ano passado, o reality chegou a ser elogiado e reconhecido pelo público pelo grau de visibilidade e representatividade bi. 

The Bi Life - Courtney Act - Divulgação - Divulgação
Montada e desmontada: Courtney Act não tem problema em aparecer como drag queen ou só como Shane
Imagem: Divulgação

Apesar de ser uma das letrinhas da sigla do guarda-chuva das orientações sexuais que conhecemos, bissexuais muitas vezes não se sentem acolhidos pela comunidade LGBTI+, por terem o estigma de confusos, promíscuos e indecisos Obviamente, tampouco se sentem inseridos na cultura heterossexual, até porque não o são. 

Uma pesquisa feita por uma entidade LGBTI do Reino Unido, a Equality Network, mostrou que 66% dos bissexuais entrevistados se sentiam pouquíssimo incluídos ou totalmente excluídos da comunidade LGBT, índice que aumentava para 69% quando a sensação de pertencimento era em relação a grupos heterossexuais.

Você sabe o que é ser bissexual?

"Os bissexuais não são muito bem compreendidos. Eles não se encaixam nem no mundo dos gays, nem no dos héteros, acabam meio perdidos", disse Courtney Act. "É difícil entender o que significa ser bissexual; se você gosta só de um gênero pode ser confuso. Mas, no fim, o que importa é por quem você se atrai e só."

Act acredita que o fato de o programa focar nas histórias das personagens dentro da casa, deve ajudar o público a "entender melhor esse universo e celebrar as diferenças". Especialmente pelo fato de o canal E! ser muito popular, ela aposta que ajudará a "normalizar" um pouco. "Pode ajudar pessoas jovens a saírem do armário, além de ajudar os amigos héteros a entenderem pelo o que eles estão passando."

Representatividade

A intenção é que os jovens que são bissexuais e estão assistindo percebam que são normais ao se verem representados por outros jovens com a mesma orientação sexual. "E que o público hétero veja as pessoas dentro da casa fazendo coisas engraçadas e pense: essas pessoas são muito parecidas comigo!" Ela ponderou que em um primeiro momento os rótulos são necessários para que haja representatividade e para que todos percebam que as pessoas são iguais. 

A especialista em Diversidade Liliane Rocha gostou da proposta do reality, mas ressaltou a necessidade de um cuidado especial da produção, de modo a não reforçar estereótipos: "os programas ainda escorregam muito nisso."

Apesar de ter achado o programa de extremo bom gosto, Liliane, que também é fundadora e CEO da Kairós, uma consultoria especializada em diversidade, ponderou que alguns cuidados ainda devem ser tomados. "O fato de essas pessoas serem bissexuais, não significa que elas saibam o que é bissexualidade. É importante que, paralelamente ao que os participantes tratem na casa, o apresentador converse com o público de forma clara e descontraída, e passe as informações de forma correta, e desprovida de estereótipos."

"Apenas pessoas normais mostrando sua sexualidade"

Integrante do coletivo Bi-sides, a funcionária pública bissexual Natasha Avital torceu o nariz quando ouviu falar de um reality show só de bissexuais. Para ela, o fato de os jovens estarem dentro de uma casa luxuosa fazendo festas, era muito fora da realidade do grupo e teria um papel pequeno na quebra dos estigmas e aproximação da vida prática dos bissexuais. Mas, depois de assistir ao primeiro episódio inteiro do programa, mudou de opinião: "foi bem menos pior do que eu estava imaginando. Aproveitaram alguns momentos para falar de homofobia - o que me deixou feliz. No geral, acho que pode ser uma série interessante, que desmistifique algumas coisas sobre bissexualidade."

O apresentador do programa considera que a existência de "The Bi Life" é um ato político. Ele chegou a pensar que os participantes seriam militantes em tempo integral dentro da casa, mas isso não aconteceu. "O interessante é que eles são pessoas normais, mostrando a sexualidade deles e por quem se atraem. Estar no show é um ato político em si, mas é bom eles poderem apenas expressar a sexualidade deles."