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"Joguei gasolina no corpo para me matar por causa de um marido violento"

Poliana tem um filho de três anos com o ex-marido - Arquivo pessoal
Poliana tem um filho de três anos com o ex-marido Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Souto

Da Universa

17/01/2019 04h00

A ajudante de cozinha Poliana de Oliveira diz que a única coisa que tem coragem de fazer fora de casa é sair para trabalhar. Aos 21 anos, ela fala que foi tão agredida pelo pai de seu filho, de três anos, que tentou se matar duas vezes. E que hoje, com medo dele, vive recolhida na casa da mãe e do padrasto.

O ex-marido de Poliana, o borracheiro Valdir de Souza, de 51, nega as agressões e diz que que a salvou das vezes que ela tentou o suicídio. Os dois contam sua versão da história à Universa.

"Conheci o Branco, como o chamo, aos 17 anos. Liguei para um número e caiu errado. Ele atendeu, ficamos conversando e não paramos mais de nos falar. Naquela época, não me dava bem com meu padrasto e optei por morar sozinha, mas estava desempregada, sendo sustentada pela minha mãe. O Branco me prometeu uma vida melhor, e dois meses depois de nos conhecermos, já estávamos morando juntos.

Fiquei grávida nove meses depois de me mudar, e foi quando apanhei pela primeira vez. Não lembro o motivo, mas começamos a discutir até ele pegar meu pescoço e me jogar de um cômodo para o outro. Depois, pediu desculpas e disse que nunca mais ia acontecer. Eu perdoei.

Tive depressão pós-parto e ele começou a ser mais agressivo. Achava que era frescura minha. Quando o bebê tinha três meses, apanhei de novo. Meu peito estava sangrando e eu não conseguia dar leite. Ele veio para cima de mim e me deu vários socos. Minha mãe e minha irmã foram em casa me socorrer, e ele trancou todo mundo. Disse que ia colocar fogo na casa. Minha irmã o convenceu a abrir a porta e ele me jurou de morte se fizéssemos denúncia na polícia. 

Eu não tinha como voltar para a casa da minha mãe porque não me dava bem com o marido dela. Já minha irmã vive com o marido numa casa de um cômodo. Minha cidade não tem casa de acolhida para a mulher. Há seis meses, então, fui morar com a minha avó, depois de uma nova agressão. Registrei uma queixa na polícia por ameaça e agressão, e recebi medida protetiva. Mas acabei voltando para ele e retirei a denúncia...

Mas fui agredida de novo. Dessa vez, chamei a polícia. Ele jurou para o oficial que não tinha me agredido. Falou ainda que eu era louca, e, por isso, não o prenderam. Como vi que não teria paz, joguei gasolina no meu corpo para tentar me matar. Fiz isso na frente dele e do meu filho. Eu preferia a morte a viver com ele. Quando peguei o isqueiro, ele me jogou embaixo do chuveiro. Eu só pedia que ele me deixasse morrer. 

Tentei o suicídio mais uma vez. Depois disso, fui ao psiquiatra e ele sugeriu que eu saísse de casa. Arrumei um emprego numa pizzaria e, em três meses, consegui seguir o conselho do médico. Apareci na minha mãe machucada, e decidimos que eu ficaria ali. Estou agora refazendo minha vida, e pelo meu filho. Só vivo pra ele. Depois de tentar me matar, pensei no quão difícil seria para ele crescer sem mãe, já que o pai não presta.

Meu ex ainda me ameaça, vem na porta de casa. Já chamei a polícia, mas ela não fez nada. Parece que esperam a gente morrer para tomar alguma atitude.

Outro lado

Valdir chora ao ouvir -- e negar -- as acusações. Diz que nunca bateu na ex-mulher e acrescenta que a salvou de quatro tentativas de suicídio, incluindo o dia em que ela jogou gasolina no corpo. Diz também que tem marca de uma ferida provocada por uma faca que Poliana teria feito e mordidas nas costas. Valdir fala que abrirá processo contra ela por calúnia e difamação.

"Conheci esta pessoa quando ela estava doente, fazendo tratamento psiquiátrico. Cuidei dela por quatro anos e a mandei embora de casa porque ela não limpava nada, nem fazia almoço ou dava banho na criança. Mas nunca houve agressão", justifica Valdir.

O borracheiro fala ainda que não vê o filho desde o Natal, e que por isso ainda procura a ex. 

"Eu que cuidei dessa criança. Ainda lavava, passava e cozinhava, enquanto ela me humilhava. Não aceito violência contra a mulher".