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O que fazer se irmãos de pais diferentes têm situação financeira desigual?

"Essa pode ser uma ótima oportunidade para transmitir valores e estimular o companheirismo", diz psicóloga - iStock
"Essa pode ser uma ótima oportunidade para transmitir valores e estimular o companheirismo", diz psicóloga Imagem: iStock

Carolina Prado e Simone Cunha

Colaboração para Universa

09/01/2019 04h00

Enquanto a filha mais velha estuda em escola particular, usa roupas de marca e ganha presentes tecnológicos dos mais avançados, as irmãs menores frequentam colégio público, compram roupas em loja de departamento e têm celulares dos modelos mais simples. Assim é a realidade na casa de Juliana Geraldo, 39 anos, mãe de Constanza, 17, Francesca, 13, e Antonella, 10.

A mais velha --fruto de um primeiro relacionamento-- conta com um bom apoio financeiro do pai; já as duas mais novas recebem pensão, porém, o valor não permite tantas regalias. "Eu fico com a culpa de não conseguir oferecer as mesmas oportunidades para as três", diz. 

Para Vannessa Resende, doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, não é possível eliminar essa desigualdade, mas é importante aprender a lidar com ela: "É fundamental dar a garantia de que a diferença é apenas financeira e não afetiva".

Ela afirma que se um dos pais tem uma situação privilegiada e consegue oferecer melhores condições para o filho, não há motivo algum para privar a criança, desde que todos sejam sempre esclarecidos e educados a respeito do tema. "Essa pode ser uma ótima oportunidade para transmitir valores e estimular o companheirismo, mostrando que não vale a pena ficar refém do consumo", comenta.

De acordo com Blenda de Oliveira, psicóloga clínica formada pela PUC-SP e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, também é essencial evitar comparações, com o intuito de proteger o menos favorecido materialmente. "Tente não criar situações em que um dos filhos possa achar que, por ter menos oportunidades, terá menor valor como cidadão. Mostre que as pessoas têm valor pelo que são e não pelos bens que possuem", afirma.

É justamente assim que Juliana procura driblar a situação com as suas filhas: "Sempre conversamos muito e, desde pequenas, falamos sobre a importância de ser e não apenas ter. Elas querem as coisas, mas mostro que não dá para ter tudo. E vou administrando a parte emocional, afinal, elas podem ficar chateadas, e é natural que fiquem, mas não posso alimentar isso".

Negociar valores é coisa de adulto

As crianças não precisam ser envolvidas em questões burocráticas que cabem aos adultos, como as negociações sobre valores de pensão e afins. "Quando ocorre a separação, o fundamental é a criança saber que o pai está presente. O valor que ele oferece é menos importante que o risco de perder esse afeto", explica Blenda. 

Também vale tentar desestimular a rivalidade entre irmãos, além de usar um diálogo franco quando sentir que é realmente necessário. "Essa conversa pode começar a partir dos três anos, de forma sutil. Pode-se tentar despertar naquele que possui mais oportunidades o espírito solidário", fala a especialista.

Para Adriana Sampaio, 37, mãe de Melissa, 16, e Pietro, 9, o diálogo foi essencial para minimizar essas diferenças. Ela foi casada por dez anos com o pai de sua filha mais velha e, após a separação, teve um relacionamento e acabou engravidando novamente. "Desde que o Pietro nasceu, ele convive com essa situação; a irmã vai viajar, passear com o pai, mas ele não tem esse tipo de privilégio. No Natal, ela também ganha mais presentes. Mas nunca tentei suprir a ausência paterna, faço a minha parte como mãe tentando oferecer o melhor para os dois", conta.

Ela afirma que quando o menino estava com cinco anos começou a se incomodar com os passeios da irmã. Ele não entendia porque não podia ir também. "Expliquei a situação sem denegrir a imagem do pai, disse que ele o amava, mas não podia estar presente, e decidi oferecer outro tipo de passeio para ele se distrair", comenta a mãe.

Aliás, essa é uma forma saudável, segundo as especialistas, de minimizar o problema. Tentar oferecer outras possibilidades dentro do orçamento: se um foi viajar, vá a um parque com aquele que ficou. "Ensine o filho que tem mais a compartilhar: se vai passar uns dias fora, que ele traga um presente para o irmão. Criar laços é essencial, independentemente das questões financeiras", diz Blenda.