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5 milhões de mulheres fazem protesto de 600km pra entrar em templo na Índia

da Universa, em São Paulo

03/01/2019 12h08

Diversas cidades do estado de Kerala, no sul da Índia, estão em greve geral nesta quinta-feira (3), após ondas de protestos pela entrada de duas mulheres "impuras" -- ou seja, em idade menstrual -- no templo hindu Sabarimala.

Durante algumas das manifestações contra as duas fiéis já realizadas ontem, 600 pessoas foram presas, 15 ficaram feridas e ao menos uma morreu, segundo informações da Reuters. Em apoio a elas, cerca de 5 milhões de mulheres se uniram e formaram uma "parede" por mais de 600 km no estado.

Por que a onda de protestos começou?

Na madrugada da quarta (3), duas mulheres entraram no templo, as primeiras desde setembro do ano passado, quando o Supremo Tribunal suspendeu a proibição às mulheres entre 10 e 50 anos de frequentarem o local. 

A entrada de Kanaka Durga e Bindu, de 42 anos, usando túnicas pretas, correndo e com as cabeças abaixadas foram resultado de uma operação surpresa anunciada por ativistas e registrada em vídeo. Ambas estão, neste momento, sob proteção policial.

Assim que a notícia se espalhou, o líder espiritual do templo ordenou que este fosse fechado para um ritual de purificação. O santuário foi reaberto cerca de uma hora depois.

Nos últimos meses, dezenas de mulheres tentaram sem sucesso realizar a peregrinação de quilômetros a Sabarimala, frustradas por centenas de devotos e manifestantes de grupos hindus de extrema-direita, que consideram a liberação um desrespeito às tradições religiosas.

A decisão judicial suscitou protestos dos crentes no deus solteiro hindu Ayyappa, assim como da seção regional do partido de Modi, e do histórico Partido do Congresso, que se uniram aos devotos durante as manifestações para impedir o acesso de mulheres ao templo.

A sentença do principal órgão judicial foi ditada após um pedido feito em 2006 pela Associação Indiana de Jovens Advogados.

A restrição às mulheres em Sabarimala reflete uma crença - não exclusiva do Hinduísmo - de que mulheres em idade fértil, ou seja, que menstruam, são impuras.

Quem está protestando?

Apesar dos múltiplos focos de manifestações, há duas correntes de protestos na Índia neste momento: a conservadora, daqueles que consideram a presença das mulheres no templo uma transgressão, e a de mulheres que lutam pelos seus direitos religiosos.

Líderes locais do BJP, partido nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi, anunciaram dois dias de protestos em Kerala contra a violação. O estado é governado por uma aliança de partidos de esquerda.

Desde terça (1), milhares de mulheres se reunem para formar uma corrente humana em Kerala em apoio ao veredicto para que pudessem entrar no templo. Atualmente, a "parede das mulheres", como ela tem sido chamada pela imprensa internacional, já tem 600 km de comprimento e conta com mais de 5 milhões de cidadãs.

Os jornais locais também noticiam que algumas foram atacadas por ativistas de direita.

"Observar as fotos mostrando-as entrando no santuário me fez chorar de alegria, demorou muito tempo para conseguirmos nosso lugar", observou a escritora feminista Meena Kandasamy no Twitter.

O balanço da violência

Desde então, ao menos três distritos do estado tiveram protestos violentos -- que resultaram na morte de um militante do BJP na cidade de Pandalam, informou uma fonte anônima da polícia de Kerala à agência EFE.

Cinco manifestantes que tentaram invadir o parlamento de Thiruvananthapuram, em Kerala, foram presos, assim como jornalistas, segundo a agência RFI. Além disso, a AFP informa que 15 pessoas já ficaram feridas nos confrontos.

Os manifestantes destruíram sete viaturas policiais e 79 ônibus e atacaram 39 membros das forças de segurança e dos veículos de imprensa, na sua maioria mulheres, afirmou em entrevista coletiva o chefe de Governo de Kerala, Pinarayi Vijayan.

Ele também disse que há "muita violência em todo o estado" e que seu governo tem a responsabilidade de implementar a decisão do Supremo Tribunal. A polícia usou gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e jatos de água quando protestos e confrontos entre grupos rivais começaram no estado de Kerala, no sul do país.

A Suprema Corte deve começar a ouvir a contestação de sua decisão em 22 de janeiro.

*Com informações das agências EFE, AFP e RFI