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Caso João de Deus: como podemos identificar sinais de um líder abusador?

Como o caso do guru João de Deus, acusado de estupro por várias mulheres, como identificar um líder abusador? - Claudio Reis/Eleven/Agência O Globo
Como o caso do guru João de Deus, acusado de estupro por várias mulheres, como identificar um líder abusador? Imagem: Claudio Reis/Eleven/Agência O Globo

Jacqueline Elise

Da Universa

15/12/2018 04h00

As denúncias de abuso sexual e estupros das quais o guru espiritual João de Deus está sendo acusado foram notícia durante a semana. Mais de 300 mulheres --uma delas, filha do médium-- já oficializaram suas denúncias, segundo o Ministério Público de Goiás. 

Considerando a gravidade dos relatos que vieram à tona, ficou o questionamento: como é possível identificar quando um líder, religioso ou não, poderá agir ou está agindo de forma abusiva ou, pelo menos, suspeita?

À Universa, o psicológico, criminologista empresarial e especialista em psicopatologia Antônio Carlos Hencsey explica que é difícil colocar o comportamento dos líderes abusadores em caixinhas, mas que existem certas atitudes que podem ser um alerta:

Comentários e contato físico incômodos ou desnecessários

O especialista diz que este comportamento já é mais comum em ambientes profissionais, mas que pode acontecer em outros agrupamentos que tenham um líder: elogios feitos fora de hora, na frente de muitas pessoas, de forma grosseira ou que possa deixar a pessoa constrangida. Hencsey recomenda que, quando o elogio não agrada, a pessoa se manifeste e diga que não gostou. "Mas quando a mulher demonstra que não está confortável com o elogio, afirma que está incomodada e o outro continua com isso, aí é um comportamento para deixar a pessoa alerta". Toques não solicitados, como colocar a mão sobre a sua, não são aceitáveis.

Muita intimidade e sensação de que a vítima é "especial"

Hencsey afirma que alguns líderes e gurus abusivos tentam fazer a vítima em potencial se sentir "especial" e as tratam com favoritismo, para passar mais tempo a sós com ela. "Por exemplo, se eu sou seu chefe e começo a chamar só você para viagens, trabalhos, para que fiquemos juntos com mais frequência e sem a companhia de outras pessoas, isso chama a atenção. Principalmente em casos entre líderes e subordinados, a vítima acaba se sentindo obrigada a atender esta demanda", explica.

Manipulação da vítima usando seus problemas ou confiando em seu carisma

Algumas das mulheres que denunciaram o médium, que é uma figura pública adorada por muitos, citaram ameaças de João de Deus em seus relatos: ele dizia que elas não se curariam se não fizessem o que ele mandava durante as sessões. Hencsey diz que um dos sinais mais comuns é a manipulação da vítima e de seus sentimentos. "Abusadores, normalmente, têm habilidades sociais interessantes, um carisma que faz com que as vítimas acreditem neles num primeiro momento. Tendo essa confiança, eles a usam para obter a segurança de que não serão denunciados. O resultado da manipulação é uma vítima cheia de dúvidas. O medo de desapontar é um conflito entre a imagem de pessoa bondosa do abusador e a dúvida se a vítima está interpretando o ocorrido de forma 'errada'".

Manipulação da opinião pública

O especialista explica que líderes abusadores em potencial, independentemente se são religiosos, políticos ou somente chefes de empresas, costumam já avisar seus admiradores e subordinados de que outras pessoas podem tentar manchar sua imagem. "Alguns podem espalhar para seus seguidores que existirão pessoas que falarão mal dele, e que essas pessoas estão fazendo um desserviço. Eles já tentam se blindar antes mesmo de a denúncia aparecer", afirma Hencsey.