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Mães contam como ensinaram seus bebês a comerem sozinhos com o BLW

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para UOL

12/12/2018 04h00

Do inglês "Baby Led Weaning" (Desmame Guiado pelo Bebê, em português), o método foi criado pela agente de saúde britânica Gill Rapley, autora de um livro sobre o assunto, e visa introduzir o bebê a se alimentar de comida sólida, pegando os pedaços com suas próprias mãozinhas e levando-os instintivamente à boca. Claro que os pais devem estar por perto para acompanhar a refeição, mas quem decide o que quer, a quantidade que quer e em que velocidade vai comer é a própria criança, sem interferência dos adultos.

"O BLW, portanto, está mais para uma filosofia de vida e não apenas uma forma diferente de oferecer o alimento, já que os pais precisam confiar totalmente nas escolhas do bebê", explica Márcia Fonseca Borges, médica pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e pediatra na clínica Pueritia, em São Paulo. 

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Um dos grandes diferenciais do BLW, daí sua comparação com uma filosofia de vida, é que ele permite aos bebês desenvolverem desde cedo sua autonomia (isso inclui controle da fome e da saciedade) e a vivenciarem diversas experiências sensoriais, pois são apresentados a eles uma variedade de sabores, texturas, cores e formas. Além disso, a criança aprende, na ordem correta, a morder, mastigar e engolir. Sem falar nos ganhos motores por manusear a comida.

Para testar com seus filhos, escolha um momento em que o bebê não esteja com sono, irritado ou muito ansioso em querer comer. Porém, esteja ciente que no BLW as refeições costumam demorar mais, fazem mais sujeira e exigem empenho e paciência dos pais durante o processo. 

Mães e suas experiências positivas

No Brasil, o BLW ainda não é reconhecido oficialmente. Nas redes sociais, pais se reúnem para discutir o tema. No Facebook, por exemplo, existem grupos nacionais que somam perto de 30 mil membros. Foi por meio deles que a turismóloga Diana Paixão, 31 anos, mãe de Giovanna, 9 meses, conta que descobriu o método. 

"Eu recorri ao BLW, pois fiquei sabendo que ele estimula o desenvolvimento do bebê e também porque nunca fui fã de dar papinhas prontas. Como são alimentos batidos, a criança não consegue distinguir os sabores sozinhos e, quando cresce, estranha e não aceita o que come", diz. 

Giovanna - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Diana diz que vê benefícios em sua escolha: "Além de conseguir pegar os pedacinhos de comida mais escorregadios, resultado de um avanço na coordenação motora, a Giovanna estuda cada alimento, o que encaro como um bom raciocínio".

Sobre escolher entre o BLW e a forma de alimentação tradicional, com alimentos amassados e oferecidos com colher, a pediatra Márcia explica que um método não invalida o outro. "Não existe melhor ou pior. Os dois métodos têm seus prós e contras. Isso depende muito da família, se os pais estão ansiosos por essa fase e se preocupam demasiadamente com a quantidade de comida ingerida por refeição, com o tempo ou com a sujeira", argumenta, indicando ser possível juntar as duas maneiras e criar uma introdução alimentar participativa.

"Pode-se oferecer com talher parte da comida amassada e parte de alimentos em pedaços, deixando a criança à vontade para escolher o que deseja. Outra opção é usar o método tradicional nos dias de semana e aos finais de semana dar a comida em pedaços", explica a médica.

O site da Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, orienta que "a alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; deve começar com consistência pastosa (papas, purês) e, gradativamente, deve ter sua consistência aumentada, até chegar à alimentação da família".

Pedro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

A estudante de medicina Daniela Mascarenhas, 28 anos, revela que prefere o BLW e diz que seu filho, Guto, hoje com 2 anos e 8 meses, aprendeu a não se sujar ao comer, pois desde cedo manuseia os alimentos de forma a não desperdiçá-los. "Notei também que toda criança passa pela fase do nojo, cabendo a nós, pais, realizarmos atividades sensoriais que retirem deles essa aversão de coisas que apenas melam", acrescenta.

Outra mãe que aprova o método, a estudante de psicologia Milena Marques, 39 anos, mãe de Pedro, 3 anos, diz que o achou excelente, mas precisou da ajuda de uma nutricionista. "Na época, percebi ótimos resultados, principalmente na questão da autonomia. O Pedro foi apresentado a uma enorme variedade de alimentos e aprendeu a escolher o que come", observa Milena, lembrando que seu filho hoje experimenta de tudo e cresceu fã de brócolis.

Os temidos engasgos 

No entanto, Milena lembra que no começo teve medo do filho engasgar, principalmente com frutas, mas nem por isso desistiu do método e ainda recebeu apoio de mães amigas suas. "Depois descobri que não é nada para se preocupar, pois a criança tem reflexo próprio. Por volta dos oito meses de idade, eu dei a ele uva, mas bem cortadinha, em cruz. Depois das frutas, introduzi verduras e legumes. Aí veio a carne, também bem desfiada", comenta.

Daniela e Guto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Clarissa Hiwatashi Fujiwara, nutricionista e coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), reconhece o temor dos pais, mas pontua que não há diferença de engasgo entre os grupos de bebês alimentados pelo método tradicional, com as papinhas, e o BLW. "Vale considerar que o bebê está desenvolvendo as funções orais e existe muita confusão do que propriamente seria o engasgo e o gagging (que consiste num reflexo de regurgitar e que ocorre quando algo é introduzido na garganta). O importante mesmo é não deixar o bebê desassistido no momento da refeição".

A pediatra Márcia Borges complementa, orientando os pais a procurarem um pediatra para acompanhar a introdução alimentar, pois, segundo ela, o tamanho dos alimentos em cada etapa muda e a forma de apresentação também. 

Invista a partir dos seis meses 

Quanto à idade para se aplicar o método BLW, a nutricionista Clarissa Fujiwara indica aos pais oferecerem alimentos complementares aos 6 meses de vida da criança, quando o aleitamento materno deixa de ser dado exclusivamente. "De forma geral, a maior parte dos bebês são capazes de iniciar a partir dessa idade, considerando que a maioria deles apresenta condições de se sentar sozinho, capacidade em levar o alimento até a boca e mastigá-los.

Exceto aqueles que não foram estimulados, apresentam alguma forma de déficit em desenvolvimento ou dificuldades sensoriais", explica Clarissa.

A seguir, as especialistas dão algumas dicas para a realização do método BLW:

- Primeiro, o bebê precisa apresentar sinais de prontidão, isto é, saber sentar sozinho, mastigar e ter boa coordenação motora.

- Para evitar a sujeira, vista-o com um babador ou o mínimo de roupa possível.

- Em seguida, coloque-o na cadeirinha dele para participar da refeição junto com os pais.

- Sobre a mesinha dele, já higienizada, ofereça alimentos de bom valor nutricional, como frutas ou legumes e vegetais cozidos o bastante para serem amassados pelas gengivas, mas não tanto para serem esmagados nas mãos.

- Facilite o manuseio da criança servindo a ela no início pedaços de frutas grandes e com casca, para não escorregar das mãos.

- Conforme o bebê for se acostumando, sirva outros alimentos, cortados ou desfiados.

- A criança brincar com a comida, comer pouco ou apenas cheirá-la e a amassar não significa falha na aplicação do método. Recusar o alimento também não quer dizer que ela não goste dele. Ofereça até oito vezes, em ocasiões distintas, para identificar de fato sua preferência.

- Independentemente do método é de suma importância que o bebê tenha o seu crescimento e desenvolvimento acompanhados pelo pediatra e por profissionais de saúde.