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"Nômade digital": executiva morou em barco e da Oceania trabalha pro Brasil

Antes de se aventurar pelo mundo, Sandra ainda cuidou da operação de Internet da empresa Ogilvy na América Latina, entre 1998 e 2003 - Arquivo Pessoal
Antes de se aventurar pelo mundo, Sandra ainda cuidou da operação de Internet da empresa Ogilvy na América Latina, entre 1998 e 2003 Imagem: Arquivo Pessoal

Beatriz Santos e Simone Cunha

Colaboração à Universa

09/11/2018 04h00

“Há quinze anos experimento novas formas de viver, trabalhar e ser”, diz a empreendedora e "nômade digital" Sandra Chemin, de 47 anos. Formada em Administração Business pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e em Propaganda e Marketing pela Universidade São Paulo (USP), em 1994, ela abriu a empresa Hipermídia. “Fundamos uma das primeiras agências de internet do Brasil, num período em que a rede existia apenas dentro da universidade”, lembra. Quatro anos depois, a agência foi vendida para a maior rede de propaganda mundial da época, a WPP, o que rendeu credibilidade para a equipe.

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Antes de se aventurar pelo mundo, Sandra ainda cuidou da operação de internet da empresa Ogilvy na América Latina, entre 1998 e 2003. “Eu vivia o auge da minha carreira quando engravidei e, pouco depois, tivemos o diagnóstico de que meu marido tinha um câncer grave e que teria apenas dois anos de vida”, diz. A notícia caiu como uma bomba na família, que passou a refletir sobre o que fazer nesse curto espaço de tempo. O marido alimentava, desde a infância, o sonho de morar a bordo de um veleiro. “Quando percebemos que ele não teria mais amanhã, tiramos esse sonho da gaveta. Compramos o veleiro Santa Paz e mudamos com nossa filha, Clara, para lá, na época, com um ano e um mês”, conta. Juntos, eles velejaram por muitos países e, após quatro meses, descobriram que o diagnóstico estava errado: “Ele não tinha câncer mas, dentro de nós, a transformação já havia acontecido”.

Ambos possuíam pouco conhecimento de vela, mas Sandra tinha a vantagem de ter passado a infância no mar, porque seu pai era apaixonado por caça submarina. “Mergulhava com ele desde os três anos de idade. As melhores memórias da minha infância foram a bordo do Luarnel, nosso barco de madeira. E a ideia de proporcionar à nossa filha uma infância em contato com a natureza falou comigo”, diz. No entanto, à época, a proposta de fixar moradia em um veleiro pareceu um passo muito grande para a executiva. Por isso, o casal decidiu fazer um teste de três meses e, se tudo desse certo, poderiam prorrogar a estadia a bordo.
Ela conta que suas maiores decisões foram tomadas dessa forma, após pequenos experimentos. A empreendedora só não imaginava que sua vida mudaria tanto. Atualmente, ela está há 15 anos fora da vida corporativa e, durante o período, a família já passou seis anos a bordo, em duas viagens. “Atravessei o oceano Atlântico grávida da nossa segunda filha, Júlia, que hoje tem 13 anos”, conta.

Atualmente, Sandra veleja no Santa Paz - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Atualmente, Sandra veleja no Santa Paz
Imagem: Arquivo pessoal

De executiva a nômade digital   

No intervalo entre as duas viagens, ela optou por não trabalhar durante dois anos: “Foi importante ter uma pausa intencional para buscar outras referências, dar espaço para o novo”. Porém, interromper completamente sua trajetória profissional nunca foi uma possibilidade. Por isso, em 2005, ela decidiu trabalhar remotamente de onde quer que estivesse. Seu instrumento de trabalho era a internet e, diante dessa alternativa, Sandra tornou-se o que ela chama de nômade digital: “Há 15 anos trabalho no conselho de empresas em São Paulo, além de ter uma consultoria de estratégia e inovação. Sempre fiz os trabalhos remotamente e me deslocava apenas para reuniões importantes. Hoje, morando em terra firme na Nova Zelândia, continuo trabalhando diariamente com o Brasil e visito o país a cada três meses”, relata. 

Sandra integra uma rede global de 150 empreendedores e empresas de impacto chamada Enspiral, uma organização não hierárquica, colaborativa, que une membros pelo propósito de trabalhar em projetos de impacto global. Também é embaixadora da Edmund Hillary Fellowship, desde 2017, programa que criou o Global Impact Visa na Nova Zelândia, o único visto do mundo para atrair empreendedores e investidores e criar soluções para os principais desafios da humanidade. “Esses projetos me trouxeram novas perspectivas e me fizeram refletir sobre o impacto que eu gostaria de ter no mundo”, afirma.

O nascimento da Futureyou

Ano passado, Sandra sentiu necessidade de ampliar sua atuação para que o maior número de pessoas pudesse encontrar um propósito de vida: “Queria que mais pessoas encontrassem um significado na sua forma de viver. Dessa proposta nasceu o Futureyou”.

Segundo Sandra, ao deixar a vida corporativa, há 15 anos, um dos maiores aprendizados que ela teve foi o de que há muitas formas possíveis de viver, trabalhar e ser no mundo. Ela acredita que o mercado de trabalho do futuro oferecerá mais liberdade: “Uma grande tendência são os portfólios de carreira em que se escolhe a estabilidade financeira associada a algo que desperte um sentimento de propósito e desenvolvimento”.

Por isso, o futuro do trabalho é seu grande tema e, por meio de workshops, Sandra consegue apresentar inovações e uma nova forma de liderança, utilizando uma metodologia de co-criação: “O mais incrível é que posso fazer isso de qualquer lugar: da praia, do meu quarto ou da Nova Zelândia, como é o meu caso. Desenvolvi uma forma de trabalhar que me garante flexibilidade e autonomia para conciliar outras coisas que são importantes para mim”.

Ela encontrou um novo caminho no auge da carreira corporativa. “Abri mão desse status de um alto cargo com uma série de confortos. Hoje, para mim, sucesso é ter uma vida que me permita integrar minha família e fazer projetos significativos. Mas esse aprendizado não ocorre de uma hora para outra e a Futureyou nasceu para ser uma facilitadora dessa transição”, afirma. De acordo com Sandra, essa é a sua missão porque, muitas vezes, as pessoas sabem o que querem, têm ideias e sonhos, mas não conseguem torná-los realidade. “Como faço isso há anos, vivi em mais de 30 países, vendi duas empresas e fundei cinco, me sinto capaz de mostrar que é possível, sim! Nem todo mundo vai ser nômade digital, mas posso ajudar a pessoa a se ajustar sem precisar sair do seu ambiente e do seu meio. Meu foco é real, trabalho com pessoas reais e quero auxiliá-las”, finaliza.