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Feministas podem ter rivais mulheres? Briga em "A Fazenda" levanta dúvida

Nadja Pessoa vive brigando com Gabi - Reprodução/PlayPlus
Nadja Pessoa vive brigando com Gabi Imagem: Reprodução/PlayPlus

Ana Bardella

Colaboração para Universa

03/11/2018 04h00

Nadja Pessoa tem se firmado como uma das figuras mais controversas do reality “A Fazenda”. Tanto que já se desentendeu com muitos dos confinados. Durante uma dessas brigas, a participante Gabi Prado se exaltou de tal maneira que chegou a quebrar um prato enquanto trocava ofensas com a empresária.

Depois de acusar a modelo de ser uma “patricinha”, Nadja fez questão de dizer que a jovem não é feminista, como se intitula, uma vez que “vai na onda” dos rapazes da casa. Em resposta, Gabi afirmou que toma as atitudes por conta própria. Chamando a esposa do cantor D’Black de “burra” repetidas vezes, garantiu que não é por ser feminista que é "obrigada a gostar de todas as mulheres". Afinal, quem está com a razão?

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Confusão generalizada

Na visão de Sabrina Souli, psicanalista especialista em linguagem do corpo e mediadora de círculos femininos, é necessário entender do que se trata o movimento antes de refletir sobre a questão. “O feminismo tem como base a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres”, explica. Dentro dele, está presente o conceito “sororidade”. “Trata-se da empatia e do companheirismo praticado entre as pessoas do gênero feminino”, aponta.

De acordo com Sabrina, ele surge como um contraponto à “rivalidade feminina”, que parte do pressuposto da competição. “Na lógica do pensamento competitivo, uma das pessoas envolvidas sempre acredita ser melhor do que a outra”, diz. Já na lógica da sororidade, as mulheres reconhecem nas outras dificuldades e dores pelas quais já passaram (ou poderiam ter passado) em decorrência do seu gênero – e a partir disso se solidarizaram. Desta maneira, fortalecem a luta das demais.

Afinal, gostar de outra mulher é uma obrigação?

“Como a própria participante disse, não se trata de uma obrigação”, adianta a psicanalista. No entanto, ao se identificar publicamente com a ideologia do movimento, é possível que a pessoa passe a sofrer mais cobranças sociais com relação à sua postura, em especial se estiver sob os holofotes, como é o caso da modelo.

Por exemplo: ao final da discussão com Nadja, Gabi Prado dirigiu a ela o xingamento de “canhão”, palavra usada como sinônimo de “feia”. Na opinião da especialista, a ofensa é incoerente com o discurso feminista porque coloca em cheque os atributos físicos de outra mulher – quando, na verdade, um dos intuitos do feminismo é a valorização dos diferentes tipos de corpos e a percepção de que beleza não precisa seguir um padrão.

Diferente de amizade

A profissional faz um adendo: o de que a proximidade entre mulheres proposta pelo feminismo não implica necessariamente em uma amizade (ou em que as partes envolvidas tenham intimidade uma com a outra), uma vez que esses fatores variam de acordo com a compatibilidade entre as personalidades.

“Ela parte, porém, dos princípios do respeito mútuo e da igualdade e se manifesta de acordo com as situações sociais”, completa. No caso de Nadja e Gabi, ambas são participantes de um programa e estão vivendo na mesma casa – mas as relações poderiam ser familiares ou de trabalho (e se limitarem a esses espaços), por exemplo.